CQB: Entrada em Gancho

Bom senhoras e senhores, estamos de volta com mais um artigo, numa leitura rápida no intuito de compartilhar informação e conhecimento. Vamos lá!!

Introdução

Nunca se falou tanto de um segmento tático como o CQB atualmente. Tanto de sua forma em equipe tática como individual, que não é uma novidade, em suma o trabalho de combates em ambientes confinados sozinho, historicamente começou dentro de aspectos de sobrevivência humana, defesa residencial e o mais recente, contra um atirador ativo. Hoje podemos citar referências nacionais e internacionais no assunto, como Project Geko, GBRS, Jonh Lovell, Kawa, Douglas Pithon, Everton Princival, Doc Maniglia, Marcelo Esperandio, Paulo Brandão, Igor Pakato…E a lista não para.

Temos no país, excelentes instrutores com experiência vasta em nível mundial, que não deixa a desejar.

Recapitulando, o último caso sobre atirador ativo, viaturas locais, vigilantes, civis (armado legalmente), policial de folga podem ser a primeira resposta rápida contra um indivíduo armado ativamente determinado a atirar e matar todos em um local delimitado e populoso. E as vezes reagir imediatamente é crucial para sobreviver e preservar mais vidas. Diversos departamentos policiais ao redor do mundo estão capacitando políciais em conhecimentos e informações antes somente ensinado a unidades operacionais.

A definição de CQB não se resume somente a casamata, cenários cheio de divisórias e portas, e sim qualquer confronto armado em estruturas ou em edificações que se concentre a batalha de ângulos e níveis. Não é a toa que o combate veicular é mundialmente conhecido como VCQB, apresentando múltiplas Táticas, Técnicas e Procedimentos igual o próprio CQB.

Com a evolução do combate, e sua forte migração para áreas urbanas, até mesmo em guerras, as adaptações surgem como uma solução de problemas relacionados a mortalidade desses cenários. Exemplo disso, foi a Segunda Batalha de Fallujah de 2004. As táticas foram adaptadas ao contexto da situação. 

Enquanto soldados e fuzileiros navais durante a Segunda Batalha de Fallujah adaptaram seus métodos de entrada usando tanques, veículos de combate de infantaria, morteiros e artilharia para atacar combatentes inimigos em edifícios, eles ainda tiveram que vasculhar e limpar as salas de mais de trinta mil edifícios – resultado, cem esquadrões tiveram mais de duzentos tiroteios dentro de salas.

Entrada em Gancho

“A técnica vence a força, a atitude vença a técnica”

M.Musashi

A entrada em gancho tem como maior foco contornar a batente da porta, buscando o lado pesado do cômodo pelo mesmo lado. Dependendo do tamanho da porta pode ser uma escolha ruim quando se quer entrar com uma equipe equipada e com armas longas. As vezes fluir pelo cômodo “Flow“, é mais simples e rápido.

É uma entrada que exige mobilidade motora, footwork, muita prática, como a maioria das técnicas de CQB, pois requer um timing perfeito e uma reação rápida em tudo, simultaneamente. Isso é para exatamente os operadores ficarem menos tempo no funil fatal.

Ao entrar no cômodo, os operadores seguem uma varredura central e vão em direção ao canto pesado. Desta forma, os cantos onde uma ameaça é mais provável de estar, são verificados primeiro e depois o centro da sala sem nunca colocar o outro em perigo sobre um fogo amigo. Contudo, alguns métodos, como Entrada em Gancho Deliberada, pedem que o operador ao estar no limiar da porta faça uma pré visualização para o centro da sala e depois faça a manobra em gancho.

Todavia essa última tática, a entrada se torna mais lenta pois o operador costuma a efetuar uma pausa no meio do caminho para visualizar, perceber e entender as informações no intuito de decidir/reagir.

Pois quando se fala em, processamento de informações visuais e decisões, estamos falando de percepção e sensação. Enquanto a sensação é um fenômeno especialmente biológico, a percepção envolve processamento. A percepção está ligada a recepção e reconhecimento de uma informação, comparando-a com uma informação anteriormente armazenada na memória.

Depende também das experiências anteriores e de fatores individuais como personalidade, nível de atenção e expectativas. A mesma sensação pode produzir percepções diferentes em diferentes pessoas, levando-as a diferentes tipos de decisões. Isso é interação humana e ambiente.

“No espaço tático de hoje, é uma raridade encontrar um sistema CQB empiricamente válido.“

Eliran Feildboy, fundador do Projeto Gecko

Na prática, sensação e percepção fazem parte do mesmo fenômeno. Em geral, quando se fala em percepção, ela engloba também a fase preliminar da sensação. Esse processo é continuo. O nosso cérebro recebe e processa continuamente as informações do ambiente. E isso está relacionado ao tempo de resposta e reação.

O instrutor Marcelo Esperandio em seu artigo sobre “Velocidade de reação em confrontos armados” explica perfeitamente esse processo e seus efeitos.

VELOCIDADE DE REAÇÃO NOS CONFRONTOS ARMADOS

É uma entrada que deve ser treinada e contextualizada, Instrutor Everton Princival, operador do Grupo TIGRE trás mais esclarecimento em que momento poderia ser usada a entrada em gancho:

Em um corredor um portal grande, quando tem dois operadores cada lado, podemos fazer uma entrada em gancho, já que uma entrada cruzada demoraria muito mais para se realizar. Mas isso é um conjunto de técnicas que tem que se conversar conforme a doutrina.

Ciência CQB

É interessante pautar aqui também estudos recentes, feitos com membros da SWAT pela ALEERT, referência em estudos científicos policiais.

Das mais de 200 entradas realizadas no teste, 84 resultaram no policial atirando primeiro, 18 empatados e 95 no suspeito atirando primeiro. Em destaque, o suspeito foi capaz de atingir o operador 1 45% das vezes. Esses resultados indicaram que não se pode esperar que o primeiro policial que entra em uma sala atire antes do suspeito.

Aqui é onde fica interessante. Para os policiais que fazem uma entrada pelo canto pesado da sala, desconhecido em gancho, onde eles se movem para o canto que não podem ver da porta, eles foram atingidos em média 1,94 vezes. Para os policiais que fizeram uma entrada conhecida, movendo-se para o canto que podem ver, e lateralmente na perspectiva dos suspeitos, foram atingidos 1,28 vezes. Os pesquisadores também descobriram que o segundo polical foi atingido passando atrás do primeiro no estilo de entrada desconhecida em 16% das vezes, confirmando o que muitos acreditavam anteriormente.

O instrutor Douglas Pithon, do COE da BA faz ponderações acerca do do tema:

A entrada em gancho ela é factível, em algum momento você vai realizar a entrada em gancho. É lógico que a própria ergonomia do ser humano, sua compilação física faz com que ele faça com mais facilidade a entrada cruzada. Eu considero que a segurança está relacionada ao grau de adestramento da equipe e o tipo de equipamentos.

O mesmo inoportuno que você vai encontrar numa entrada cruzada, que é mais utilizada, porque ela te dá mais flexibilidade, velocidade e é mais natural, pois a entrada em gancho te obriga a girar e sair do eixo, e as limitações e compilações físicas do ser humano podem atrapalhar o operador, perdendo uma fração de segundos, que podem ser fundamental para identificar uma ameaça. Não é o quão rápido que você entra, mas o quão rápido você identifique e neutralize a ameaça .

O policial militar Almeida, operador do GATE SP, faz um alerta sobre a distinções sobre os tipos de entradas e as missões:

Quando usamos entrada em gancho prezando a segurança fazemos de modo furtivo/coberto. Dá pra fazer mais dinâmico mas você perde a segurança, pois você não consegue ser seguro e veloz ao mesmo tempo. Trabalhamos com a Concepção Imediata do Perigo voltado a resgate de refém, diferente de mandado e busca, contudo usaremos a entrada mais adequada a situação, dando prioridade a integridade do refém, geralmente nesses casos, já sabemos as condições e a localização do refém.

Run of Rabitt

Uma manobra muito conhecida no mundo do CQB, geralmente utilizada em entradas pelo canto, em que o operador 1 faz a entrada em direção ao conhecido (canto leve e visível) percorrendo a parede e logo em seguida o operador 2 faz uma entrada em gancho (canto pesado não visível).

A estratégia dessa entrada, está em fazer a ameaça humana focar no operador 1 que se move lateralmente pela parede, sendo que sem muito delay, o operador 2 faça a entrada em gancho e realize o engajamento sobre a ameaça. Nesse sentido você tem em pouco tempo em um espaço, duas armas apontadas para o lado pesado.

Novamente existem variações de como pode ser feito essa entrada. Uma delas, o operador 1 pode fazer uma varredura de 90° antes de ir ao conhecido, colhendo mais informações do ambiente e limpando praticamente 75% do cômodo. O operador 2 então aguarda o ataque unilateral, e depois da linguagem corporal ou de armas realizam o resto do procedimento.

Esta é outra excelente técnica, com várias qualificações; que, no entanto, é um jogo arriscado para um estilo de compensação de tiro único...Essa técnica ainda pode ser bem-sucedida, mas falha em tirar proveito das próprias coisas que a tornam tão poderosa. Mais uma vez, há uma escala móvel dependendo do que queremos realizar: se o único homem for direto para a ameaça ao longo da parede mais próxima, ele terá precisão máxima, mas evasão mínima. Se o primeiro homem vai a 90 graus pela sala como na técnica tradicional do coelho, ele tem velocidade máxima para evasão, mas habilidade mínima para tiros precisos.

A única maneira de compensar essa perda de precisão é diminuir a velocidade e perder a velocidade de reação ao disparar o primeiro tiro. 1) Se virmos isso como um espectro, não deve ser difícil ver o compromisso: uma entrada de 45 graus oferece o melhor dos dois mundos. A entrada de um homem só desvia o olhar da batente da porta e também permite que ambos os atiradores triangulem e se envolvam na ameaça antes que ele possa reagir adequadamente. Essa teoria foi testada ao longo de vários anos com várias equipes de diferentes níveis de experiência e comprovada empiricamente.

N.Wagar, explicando sobre Corrida do Coelho

Resumo

Chegamos ao final desse artigo, com conclusões e com certeza algumas dúvidas que só serão realmente esclarecidas em cursos destinados a instrução prática e teórica dessa doutrina com pessoas qualificadas. Sei que esse mundo é muito vasto e complicado explicar por meio de uma leitura.

Espero ter contribuído até aqui, tive que traduzir alguns textos, e é difícil trazer para o português literal. Deixo os meus agradecimentos aos irmãos, camaradas que ajudaram e contribuíram para o presente artigo, Douglas da COE, Everton do TIGRE, Almeida do GATE e Pelegrini do GATE. Além de alguns gringos que não posso também deixar de agradecer sua disponibilidade e humildade.

Até a próxima!!!

A humildade antecede a honra.