Ações imediatas após combate no confronto armado

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 Autoria de Emerson Falconi Chimendes. Policial Rodoviário Federal e Instrutor de Armamento e Tiro, com formação superior em Segurança Pública e especializando em Inovação e Tecnologia na Educação.

Em 2014, eu era um instrutor com pouca experiência na atividade, por isso, sempre que possível, procurava acompanhar instruções de tiro de outras forças ou de outros instrutores. Numa dessas, fui assistir à instrução do Curso de Formação de Agente Penitenciário do DEAP-SC, se não me falha a memória, que estava ocorrendo na Academia Nacional da PRF.

Em uma daquelas aulas, vi um instrutor fazendo referência ao protocolo “Wyatt”. Terminada a instrução, fui até esse instrutor perguntar sobre o que se tratava aquele protocolo. Sem cerimônia, esse camarada pediu o meu E-mail e me enviou uma série de artigos sobre o tema.

O Protocolo WYATT

O protocolo Wyatt trata de uma série de procedimentos que devem ser adotados após você atingir o seu oponente. Segundo o Forever Armed (2014), o protocolo apresenta a seguinte sequência:

• ●  Fight (lutar)
• ●  Acess (Acompanhamento)
• ●  Scan (Varredura)
• ●  Top-Off (Preparo para lutar novamente)

O protocolo Wyatt apresenta-se como um ciclo, tendo em vista a possibilidade de você precisar entrar em confronto novamente.

E no Brasil? Que protocolo usamos?

No Brasil, não temos ainda um protocolo pacificado.

Fato é que muitos instrutores substituem a etapa Top-Off do protocolo Wyatt por um Check de Arma, durante as suas instruções.

Considerando a utilização do Check de arma,
existe uma sequência correta de aplicação após atingir meu oponente?

Para responder essa pergunta, precisamos ver cada uma das etapas desse processo.

O Acompanhamento

Como apresentado na Figura 1 acima, o Acompanhamento tem por objetivo se certificar de que seu oponente não oferece mais risco, ou seja, que ele saiu de combate. Você incapacitou seu oponente.

Essa etapa deve ser realizada de modo ​consciente​. Quando digo consciente, refiro-me a você realmente observar se, de algum modo, o oponente foi incapacitado. Aqui no Info Armas você pode encontrar outros artigos que tratam especificamente sobre esse assunto.

Nessa situação, você tem que responder a seguinte pergunta:

Ainda oferece risco?

Observe a figura abaixo.

Na figura acima, temos uma situação real flagrada por uma câmera de vigilância onde uma PM reage ao assalto. Observem que, do momento que atingiu o oponente até a

aproximação para afastar a arma do agressor, ela esteve acompanhando as ações para repelir nova tentativa de agressão.

É importante ressaltar a forma como ela realizou o acompanhamento.

A arma manteve-se enquadrada no agressor, permitindo a visualização das suas mãos.

Dessa maneira, seria possível nova sequência de disparos, caso fosse necessário.

A Varredura

Após repelir a ameaça, é necessário verificar se a situação não oferece mais risco a você.

A Varredura deve ser realizada, como o Acompanhamento, de modo consciente, ou seja, buscando à sua volta qualquer outra situação que possa representar uma ameaça.

A figura abaixo foi colocada somente para lembrar que o espaço é tridimensional. Se você está em local edificado, por exemplo, é primordial que você observe todo o ambiente à sua volta, escaneando e procurando algum estímulo que possa ser identificado como fator de risco.

Algumas escolas sugerem que você faça esse escaneamento olhando por cima dos ombros, torcendo levemente o tronco para garantir os 360°. Mas, provavelmente, isso acontece devido à questões de segurança em estande de tiro, pois o posicionamento da arma para a realização da varredura poderá fazer com que você aponte a arma para todos à sua volta.

Em uma situação real, fora do estande de tiro, provavelmente você fará essa varredura enquanto desloca para um ponto mais seguro, se já não estiver nele.

O importante aqui é:

Garantir que não há outra ameaça iminente à sua vida!

Em relação ao posicionamento da arma, certamente você vai encontrar formas diferentes de posicioná-la. Na figura 4, vemos o posicionamento mencionado acima, onde o atirador traz a arma para próximo do rosto, apontada para cima, mantendo a empunhadura dupla.

Essa é uma das formas de realizá-la. Há outras, como por exemplo, trazer a arma para próximo ao tórax, mantendo a empunhadura dupla, o que facilita um enquadramento rápido do oponente, caso esteja posicionado na lateral ou à retaguarda.

Leia também o artigo do autor Marcelo Esperandio sobre esse tema: https://infoarmas.com.br/cano-para-baixo-cano-para-cima/

O ​Check​ da Arma

O Check também é etapa essencial desse processo, pois objetiva verificar se a arma está em condições de combate, ou seja, se não necessita da recarga de emergência (arma parou aberta, no caso das pistolas) ou apresentou alguma pane/anormalidade.

Diferentemente do Acompanhamento e da Varredura, que são executadas de modo consciente, o Check da arma deve ser executado de modo automatizado.

O Check da arma nada mais é que uma fotografia visual rápida para verificar se a arma não apresenta alguma condição anormal, como citado acima. Em se tratando de pistola, uma rápida visualização da janela de ejeção é suficiente, como mostra a figura 5.

Note que não basta olhar para a arma para identificar uma anormalidade. Para que você consiga identificar algo diferente, você precisa ter intimidade com seu equipamento.

Intimidade com o equipamento é fundamental.

Essa intimidade só será alcançada através do treinamento constante e da manutenção periódica do armamento, pois isso fará com que você visualize a sua arma com frequência na condição normal de trabalho.

O Preparo

Caso você tenha visto os vídeos citados na Referência Bibliográfica, você vai observar que em ambos, após fazer a Varredura (Scan), os atiradores realizam uma troca rápida de carregador, onde:

1. dispensam o carregador que estava na arma (mesmo sem saber quantos cartuchos há no carregador);
2. inserem um carregador cheio na arma; e
3. realizam uma puxada no ferrolho, visando inserir um cartucho novo na câmara.Tal procedimento pode parecer estranho, pois dispensar um carregador municiado e

ainda dispensar a munição da câmara nos parece um desperdício.

Entretanto, vamos considerar:

O objetivo do atirador é ter a garantia total de que
a arma encontra-se em condições de resposta a uma nova ameaça.

Com essa ação, ele elimina as seguintes possibilidades:
– estar com o carregador quase vazio e apenas uma munição na câmara; e
– estar com o carregador vazio e a arma fechada por má empunhadura (impediu a ação do retém do ferrolho no último disparo).

Podemos ajustar a técnica com outra alternativa? Certamente que sim. Por exemplo: realizar uma troca tática de carregador, não dispensando o carregador que estava na arma, retornando-o para o porta-carregador ou para o bolso, dependendo da condição em que você se encontra..

Aí compete ao atirador estudar e escolher ​sua melhor estratégia​ e treiná-la… muito! O destaque é necessário pois cada um conhece o contexto da atividade criminosa da sua região.

E agora, qual sequência adotar?

Vimos acima cada uma das etapas que podem ou devem ser realizadas após cessar uma agressão.

Retomando, temos:

1. ●  Acompanhamento (A);
2. ●  Varredura (V);
3. ●  Check da arma (C);
4. ●  Preparo (P).

Segundo o protocolo Wyatt, após o confronto são executadas as seguintes etapas:

Acompanhamento, Varredura e Preparo

Algumas escolas ensinam outras sequências:

Acompanhamento, Check e VarreduraAcompanhamento,

Varredura e Check Acompanhamento,

Varredura e Check com Preparo

Se observarmos as opções acima, podemos concluir que:

1. O Acompanhamento é prioridade entre os demais!
2. A Varredura é realizada sempre na sequência do Acompanhamento!
3. O preparo da arma é realizado com a situação dominada!

Mas e o Check da arma?

Como podemos verificar, no caso do protocolo Wyatt, o check nem é considerado, pois a arma deve estar em condição garantida de resposta, adotando o Preparo sem mesmo verificar a arma.

Algumas escolas argumentam que o Check deve vir após o Acompanhamento por que não podemos realizar a varredura com a arma aberta ou em pane.

Outras defendem que não podemos perder o foco da situação para fazer o Check da arma, pois há a possibilidade da presença de outro agressor (quase sempre as ações criminosas são realizadas em duplas).

Considerações

Como vimos anteriormente, o Check de arma é uma verificação que pode ser realizada em fração de segundo, pois você não precisa trazer a arma próximo ao rosto ou ao corpo para fazer essa verificação. Como justificado acima, um check mal executado pode tirar seu foco da situação, além de fazer você perder tempo.

Se nos habituamos a realizar o Check da arma com frequência, chegará o momento em que você irá realizá-lo com naturalidade e sempre que necessário.

Mas como vou saber quando é necessário?

O contexto vai lhe dar essa resposta.

Um comportamento estranho da arma pode ser um estímulo ao Check. Uma necessidade de verificação também pode ser um estímulo, ou até mesmo o hábito. O importante é, identificada a anormalidade, tomar uma atitude ​rápida e eficaz​, seja ela uma recarga de emergência, seja uma solução de pane.

Após uma fração de segundo para realizar o Check, sua atenção pode voltar para a situação, enquanto você realiza a ação necessária para colocar a arma em condições de resposta novamente. Mais uma vez, para isso é necessário ​TREINAMENTO!!!

Se observarmos as datas dos vídeos citados nas Referências Bibliográficas, veremos que foram publicados há alguns anos. Ainda naquele período, Gomez (2015), na série ​Monday Morning Gomez​, fala sobre ações complementares ao Protocolo Wyatt, como mostra o destaque abaixo:

• Fight​ – Lute.
• Assess​ – Acompanhamento.
•  Scan​ – Varredura.
•  Top Off​ – Preparo da arma.

• Take Cover​ – Proteja-se.
• Talk to Who Needs Talking to​ – Fale com Quem Precisa Falar.
• Top Down Check and Treat Injuries​ – Auto Avaliação Completa e Tratamentodas Lesões.

Você certamente encontrará técnicas que evoluíram a partir do protocolo Wyatt ou outras mais modernas.Cabe a você escolher a melhor estratégia e treiná-la!

Referências Bibliográficas

Forever Armed (2014) – ​https://www.youtube.com/watch?v=cfINUFGdJzs
David Jordan (2016) – ​https://www.youtube.com/watch?v=vc3QV_e3Vts
Gomez (2015) – https://www.recoilweb.com/monday-morning-gomez-the-wyatt-protocol-61017.html
Marcelo Esperandio – https://infoarmas.com.br