Breves considerações sobre diferenças entre sistema de gás direto (direct impingement) e indireto (gas piston) em Plataformas tipo AR.
Incialmente temos que entender o funcionamento básico de um sistema AR15:
Assim que inserimos o carregador municiado na arma, acionamos a alavanca de manejo, alimentamos a arma com uma munição integra na arma, e acionamos o gatilho, uma série de ações do sistema de funcionamento da arma passam a desempenhar seus papéis no ciclo normal de funcionamento da plataforma.
Uma vez disparado, o projétil inicia seu movimento pelo cano, e os gazes provenientes da queima do propelente vão não somente impulsionar o projétil no deslocamento pelo raiamento como terão uma fração de volume coletada através de orifício próprio no cano.
O gás coletado do sistema do cano será coletado pelo bloco de gazes e direcionado pelo tubo de gazes até o conjunto do ferrolho, neste momento a chave de gazes na parte superior do impulsor do ferrolho captará esses gazes e os destinará para a parte interna do ferrolho, onde através de expansão movimentará primeiramente o impulsor um pouco a retaguarda que utilizando o movimento do pino de came, destrancará suavemente o ferrolho de seu trancamento e em seguida o movimento do impulsor continua até que aja a extração, ejeção, armação do martelo do gatilho, a mola recuperadora e o buffer passa a atuar e em força oposta redireciona o conjunto do ferrolho para frente o que acarreta apresentação de uma nova munição na câmara e trancamento do conjunto do ferrolho. Nesse momento a arma está pronta para um novo disparo e novo ciclo de recuperação
As armas tipo AR são projetadas e especificamente desenhadas para usar o sistema de gás direto na sua operação. A plataforma AR é muito confiável e já mostrou suas qualidades em diversos cenários de combate ao redor do mundo.
Entendendo o ciclo básico de funcionamento podemos fazer algumas considerações importantes:
- Os gazes provenientes da denotação do propelente das munições, percorrerem os caminhos do sistema da arma em altíssima pressão e temperatura
- Normalmente, esses gazes, são acompanhados de partes incombustas do propelente que sujam o sistema.
- Os próprios gazes geram detritos após seu esfriamento como é o caso da carbonização.
Pensando justamente nessas considerações e nas necessidades de limpeza constante do sistema de gás das plataformas AR convencionais e observando principalmente armas concebidas para funcionamento por pistão, como o FAL e o AK 47, engenheiros passaram a imaginar como obter um sistema hibrido na plataforma AR. O desafio seria operar uma plataforma AR com sistema de gazes por pistão.
A tecnologia de pistão a gás foi usada pela primeira vez, em armas de fogo modernas, no AK-47. Embora semelhante à primeira vista aos sistemas de gás direto, existem algumas diferenças importantes na operação.
Assim como nas armas com ciclo por gás direto, ocorre o sangramento de gazes para dentro de um bloco, esses gazes não mais são encaminhados para dentro do ferrolho e sim para um cilindro próprio.
Este cilindro contém um pistão. O gás move o pistão, por sua vez empurra o conjunto do ferrolho para trás para iniciar com o processo de extração e ejeção e, em seguida, é empurrado para a frente para a posição fechada pela mola recuperadora e buffer, assim como ocorre com o gás direto.
Então qual seria a grande vantagem do sistema a pistão em plataformas AR?
Na Plataforma AR padrão, devido aos gazes quentes e “sujos” do cartucho disparado serem redirecionados para dentro da ação, o conjunto do ferrolho vai aquecer rapidamente e ficar muito sujo. Principalmente quando munições com pólvoras de baixa qualidade forem utilizadas.
A ação de uma arma de pistão permanece fria e limpa, mesmo depois de disparar ciclos longos de tiro. Como dependem menos de manutenção as armas AR a pistão tem durabilidade em combate maior. E como o sistema interno não é tão aquecido durante o ciclo de disparos as peças internas sofrem menos desgaste, o que garante uma longevidade maior ao equipamento.
Armas a pistão tendem a ter um recuo maior que armas a gás direto, até porque possuem mais partes móveis no conjunto de funcionamento, o que tornaria o rifle de pistão mais pesado e um pouco menos preciso, em tese.
Ocorre que o avanço da engenharia moderna e o surgimento de projetos complexos de adequação de armas AR para uso de pistão, passou a utilizar pistões de ação curta, ou seja, geram menos movimento, menos peso no sistema, e buscaram otimizar o funcionamento do sistema de pistão para melhor adequação aos tipos de munição e uso de supressores de ruído.
Enquanto em armas a gás direto uma delicada regulagem no bloco de gazes se faz necessária a fim equilibrar munições de natureza distintas com o uso ou não de supressores de ruído. As armas a pistão modernas praticamente são facilmente ajustáveis a essas variações de pressão, sem ter afetado o ciclo de funcionamento normal.
Então podemos entender que armas na plataforma AR que serão mais exigidas, dispararão mais ao longo de sua vida útil e tem como caraterística depender menos de limpeza e manutenção, deverão ser configuradas com sistema de pistão para atender os usuários nas condições mais exigentes.
Na comunidade internacional de operações especiais, as armas longas mais utilizadas e que se tornaram referência em robustez e fácil ajuste a condições extremas são armas que utilizam sistema de Plataforma AR com ação de pistão. Nesta vertente o uso por grupos especiais mundo a fora tem popularizado esses modelos no mercado civil.