Continuando na nossa séries de colaborações de autores externos, hoje o artigo é de autoria de Emerson Falconi Chimendes. Policial Rodoviário Federal e Instrutor de Armamento e Tiro, com formação superior em Segurança Pública e especializando em Inovação e Tecnologia na Educação.
O FUNDAMENTO VISADA NA PRÁTICA A TEORIA DO FUNDAMENTO
de Emerson Falconi Chimendes
No artigo intitulado “O tiro Preciso”, publicado na página Infoarmas, o colunista Humberto Wendling aborda o fundamento Visada, sua relação com as distâncias, treinamento e aplicação. Como ele mesmo diz, existe um entendimento próprio de cada escola acerca dos fundamentos e ações pós-disparo.
Dentre esses entendimentos, mais especificamente em relação ao fundamento Visada, tenho observado uma discussão bastante interessante entre instrutores com doutrinas diferentes em relação ao foco da visão do atirador.
Muitos dos instrutores policiais que conheço dizem que, durante o confronto armado, o atirador deve manter o foco da sua visão no agressor, permitindo assim um controle maior sobre a situação e as ações do oponente.
Em contrapartida, há instrutores de tiro que defendem o “foco na massa”, argumentando que isso permite maior controle sobre a pontaria do armamento e a garantia de que o agressor será atingido.
Mas também há uma corrente, ainda pequena, que defende o foco dinâmico, ou seja, o atirador mantém o foco no potencial agressor até identificar a ameaça e decidir disparar contra ele. Nesse momento, o foco da visão recua para a massa de mira, enquanto os disparos necessários são realizados, até cessar a ameaça.
A imagem abaixo é atribuída ao Centro de Treinamento James J. Rowley.
Na imagem acima, vemos que o Centro de Treinamento também defende o foco na massa de mira. Chris Sajnog, instrutor aposentado NAVY SEAL, e Jeff Cooper seguem a mesma linha de pensamento.
A VISADA NA PRÁTICA
Apesar de haver divergências entre instrutores que defendem doutrinas diferentes, penso que cada uma delas possui um contexto de aplicação, podendo haver aplicação para mais de uma doutrina conforme o contexto.
Supondo que você esteja em uma situação semelhante a um duelo, ou seja, frente a frente com seu oponente, sem local para abrigar-se e que seu objetivo seja atingi-lo o mais rápido possível.
Certamente a qualidade e a quantidade de treinamento têm forte influência no resultado, isso é indiscutível. Mas a pergunta que faço é:
Qual técnica de pontaria vou aplicar nessa situação?
A resposta que acredito ser a mais adequada seria:
Depende! A que distância você está do seu oponente?
Considerando quatro opções de aplicação do fundamento Visada, penso que cada uma delas possui uma distância de aplicação, que pode variar conforme a quantidade e qualidade do seu treinamento.
Para aqueles combates a curtíssima distância, é possível acertar o alvo (oponente) sem trazer a arma na linha de visada, evitando essa perda de tempo. Eu chamaria isso de Tiro Instintivo, pois o atirador aponta a arma para o alvo instintivamente.
Quando nos afastamos um pouco mais do alvo, o Tiro Instintivo já não garante mais o acerto. Mas o fato de trazer a arma na linha de visada, mantendo o foco da visão no alvo, já garante o alinhamento da arma com o alvo a ponto de garantir o acerto. Nesse caso, é possível aplicar a técnica de Visada Foco no Alvo, como muitos instrutores defendem.
Mas se nos afastarmos um pouco mais, chegará um ponto em que, devido às limitações da visão, não teremos mais garantia de que o alvo “está na mira”. A partir daqui, seria necessário garantir esse alinhamento. A técnica Foco na Massa garante esse alinhamento, pois o foco da visão está na massa, enquanto o foco da atenção está no alvo, permitindo que você acerte o oponente mesmo em movimento.
Já para distâncias maiores, mesmo aplicando o Foco na Massa em um tiro de reação rápida, fica muito mais difícil acertar o alvo, exigindo que para isso, seja aplicada a técnica do Tiro Visado, com o cuidado em relação ao alinhamento do aparelho de pontaria, também chamado de Tiro Preciso por Humberto Wendling em seu artigo.
TREINAMENTO
Por onde começar? Qual técnica aplicar primeiro?
Para que o atirador desenvolva suas competências no tiro com rapidez e precisão, faz-se necessário ressaltar que o primeiro aspecto a ser trabalhado será sempre a precisão, e com domínio dela, buscar reduzir cada vez mais o tempo de reação (tempo de resposta + tempo de movimento).
Começando pelo tiro preciso, o atirador estabelece uma meta de impacto, uma folha A4 por exemplo, e vai aumentando a distância até conhecer o seu limite. Em seguida, reduz essa distância pela metade e começa a trabalhar a rapidez conforme sua habilidade lhe permite, até alcançar a sua meta de tempo.
Depois evolui para o tiro com Foco na Massa, seguindo o mesmo roteiro. Isso também vale para o tiro com Foco no Alvo e, por fim, o Tiro Instintivo.
Concluindo, independente do nome que você utiliza para a técnica ou a escola que você segue, o treinamento sugerido acima pode ser um norte para quem está iniciando ou busca aperfeiçoar sua técnica para a prática esportiva ou para a sobrevivência policial.
O texto não esgota o tema, pelo contrário, busca o debate e a reflexão para evolução das técnicas de treinamento.
Referências:
SCHMIDT, Richard Allen; WRISBERG, Craig A. Aprendizagem e performance motora: uma abordagem da aprendizagem baseada na situação. Porto Alegre: Artmed, 2010. https://infoarmas.com.br/o-tiro-preciso-e-dicas-de-treino/
https://chrissajnog.com/