Há muito se sabe sobre as implicações do tamanho do cano no desempenho das armas de fogo. Muitas destas implicações são óbvias. Outras, nem tanto. Dentre elas, têm-se a estabilidade do sistema de mira – devido a distância entre alça e massa, portabilidade da arma e o desempenho balístico.
Vamos tratar aqui da relação entre comprimento do cano e desempenho da munição. É sabido que canos mais longos tendem a melhorar a eficiência da arma ao aproveitar melhor os gases provenientes da queima da pólvora. Em canos curtos demais, parte da queima da pólvora pode ocorrer fora do cano, desperdiçando energia e gerando turbulências. Canos longos tendem a aproveitar melhor estes gases.
Mas, quais são os limites? Há implicações práticas como, por exemplo, entre canos de 2 ou 4 polegadas? Ou, nestas medidas, isto é indiferente?
Vamos tentar responder algumas destas questões. Focaremos tão somente em revólveres nos calibres certamente mais populares por aqui: .38 Special e .357 Magnum. Pretendo, ao fim, responder às seguintes questões:
- Há diferenças de desempenho entre revólveres de 2 e 4 polegadas de cano?
- Em qual calibre a perda de desempenho no encurtamento do cano é maior? São iguais?
- Como é o comportamento de projéteis leves em canos curtos?
Nota: por desempenho, aqui, iremos considerar apenas o critério Energia. Me absterei da discussão em torno das melhores medidas de desempenho balístico (quantidade de movimento, penetração, etc.) e também não considerarei fatores como precisão ou estabilidade.
Antes de adentrarmos nos dados, convém deixar claro que os dados utilizados são provenientes de testes em gelatinas balísticas disponibilizados por Lucky Gunner <https://www.luckygunner.com/>. Nele, cada munição foi disparada por um revólver com cano de 2 polegadas e 4 polegadas, e aferidas as principais variáveis, como velocidade, penetração, expansão, etc.
Diferenças de Desempenho
A primeira pergunta óbvia, mas necessária, é: há diferenças de Energia, para as mesmas munições, em comprimentos de canos distintos?
O que se observa é que, nestas condições, as munições tendem a ter um desempenho melhor no cano de maior comprimento. No calibre .38 Special, a quantidade de Energia foi em média 20% maior no cano de 4 polegadas. Já no calibre .357 Magnum, a quantidade de Energia foi 32% maior, em média, chegando a até 50%. Observe que há munições em que essa diferença é irrelevante, chegando a 7% apenas (no calibre .38 Special).
O gráfico abaixo é simples. Cada barra representa um calibre em determinado comprimento de cano, 2 ou 4 polegadas (pretas e azuis, respectivamente). Na horizontal, a Energia: quanto mais a direita, maior. As barras iniciam no munição que apresentou a menor Energia, e terminam na que obteve a maior, dentre as testadas. As linhas brancas verticais, nas barras, são os valores médios. Por fim, os pontos brancos representam o desempenho de cada munição.
O gráfico deixa evidente ainda que o calibre .357 Magnum, utilizado em revolveres de 2 polegadas, teve sempre mais Energia que o calibre .38 Special, mesmo quando este foi utilizado em revolveres de 4 polegadas.
Note que, nos dados analisados, tratam-se das mesmas munições, com desempenhos avaliados em armas com canos de 2 e 4 polegadas.
Projéteis Leves
Um outra dúvida que poderia surgir é quanto ao desempenho dos projéteis em relação ao peso. Ao se alterar o peso do projétil, afeta-se diretamente sua Energia. Mas, além disso, há outras implicações.
Armas de fogo são instrumentos que costumam trabalhar nos limites de suas capacidades. Atuam, por exemplo, nos limites de pressão apropriados para determinados calibres. Cada especificação de calibre estipula limites de pressão. Ocorre que, ao se alterar qualquer componente da munição, deve-se compensar com outro para, assim, manter a pressão especificada.
Calibres +P (ou +P+) são, a rigor, outros calibres. Isto porque suas especificações admitem uma pressão extra e, portanto, são especificados de modo distinto.
Visto que há maior aproveitamento da Energia em revolveres com 4 polegadas, quando comparados com 2 polegadas, resta verificar quais as implicações dos pesos dos projéteis nesta equação.
O gráfico abaixo mostra estas diferenças. Em vermelho, a Energia dos projéteis pesados (acima de 135 grains). Azul, leves (abaixo de 125 grains) e, em escuro, médios (os demais). As barras de cima são do calibre .38 Special e, as de baixo, .357 Magnum.
As linhas em branco centralizadas indicam que, em média, o peso não afeta muito a Energia para o calibre .38 Special. O mesmo não parece ocorrer para o calibre .357 Magnum: projéteis leves tendem a ter, em média, menos Energia, neste caso. Note que, para este calibre, os melhores valores de Energia estiveram em projéteis de peso entre 125 e 135 grains.
E, por fim, vamos agora avaliar comportamento dos projéteis leves (abaixo de 125 grains) quando em revolveres de canos de 2 e 4 polegadas. A tabela abaixo mostra os resultados:
Calibre | Energia Média (J) em 2 pol. | Energia Média (J) em 4 pol. | Diferença (%) |
.38 Special (<125 gr.) | 260,56 | 323,03 | 23,98 % |
.357 Magnum (<125 gr.) | 496,43 | 594,82 | 19,82 % |
Conclusão
Ficou evidente então que, como esperado, há significativo aumento de Energia quando utilizados revolveres com canos de comprimento maior (4 polegadas, no caso). Ainda, nos dados analisados, essa diferença foi maior no calibre .357 Magnum que no calibre .38 Special.
Quanto ao peso dos projéteis, o calibre .38 Special não apresentou diferenças significativas nas médias de Energia, quando comparados os projéteis leves (abaixo de 125 grains), pesados (acima de 135 grains) e médios (os demais). Porém, o mesmo não ocorreu com o calibre .357 Magnum. Para este calibre, projéteis leves tiveram níveis de Energia, em média, menores.
Por fim, calibres leves (abaixo de 125 grains) mantiveram diferenças significativas de Energia quando utilizados revolveres de 2 e 4 polegadas. Tanto para o calibre .38 Special quanto para o .357 Magnum, as Energias médias foram aproximadamente 20% maiores em revolveres com cano de comprimento de 4 polegadas.