Até eu me tornar policial eu não gostava muito do tema segurança. Acreditava que falar sobre isso acabaria atraindo o mal. Minha mãe me dava os conselhos que hoje fazem parte da matéria que me dedico a ensinar, a autodefesa.
Se, ao ingressar na Segurança pública eu já havia mudado meu olhar sobre a violência, quando me tornei mãe, isso criou raízes muito fortes em mim.
Como eu acabei desenvolvendo uma certa “aversão” pelo tema, quando mais nova, eu não queria que a história se repetisse com meu filho.
Agora, como falar sobre essa questão tão delicada e amedrontadora com meu pequeno de 7 anos? Vou transformá-lo em uma criança neurótica que tem medo de tudo e de todos?
O mundo foi me mudando e minha visão também.
Hoje, vejo que o assunto sobre segurança das crianças é vasto, abrange diversas áreas; prevenção de acidentes domésticos, cuidados com a internet, com a saúde, alertas sobre a violência sexual, etc. Se formos analisar a fundo todos esses cuidados, eles nada mais são que autodefesa, ou seja, a capacidade que um indivíduo tem de se defender de uma agressão de outrem (seja esse outrem um objeto ou uma pessoa).
O intuito desse artigo é dar um norte aos pais sobre como já ir trabalhando essa questão com os filhos.
É hora de nos despirmos de todos os preconceitos e hábitos para enxergar o problema e buscar soluções.
Vamos lá.
Mostre aos seus filhos que eles podem e devem confiar em seus pais. Essa relação de confiança irá fazer com que eles se abram com mais facilidade e, mesmo achando que fizeram algo de errado, não demorarão a contar que determinadas situações aconteceram. A CONFIANÇA é a base de todos os relacionamentos, com nossos pequenos não seria diferente. Converse, entenda suas razões, ainda que elas nem existam, mas permita que eles falem. Evite a imposição de regras sem fundamentação, lembre-se que o que é compreendido é mais fácil aceitar e praticar.
Além da confiança, é fato que eles têm que se sentir PROTEGIDOS pelos pais, pois essa sensação de proteção vai fazê-los nos procurar sempre que estiverem em perigo;
Desde cedo eles precisam entender qual a importância de tomar cuidados com os estranhos. O diálogo é sempre um ótimo ponto de partida, a assimilação é facilitada quando a criança entende o porquê da necessidade da PRECAUÇÃO. Muitas vezes as crianças não compreendem que existem pessoas com boas e más intenções. Conscientize-as s que as aparências podem enganar, que alguns podem querer retirá-las de casa e fazer mal a elas. É tênue a linha de que nem todos merecem ser tratados com respeito e educação. Fale sobre todos os riscos, ensinando a criança que ela também é responsável pela própria segurança. A melhor maneira de protegê-lo é deixar o pequeno ciente que existe o perigo, mas com as estratégias corretas ele poderá ficar bem longe.
Crie modelos de comportamento seguros em cada situação. Faça um teatrinho de dedoches simulando algumas delas: seja direto e oriente a não falar com estranhos na rua, não passar informações pessoais, não entrar em casa se perceber que tem alguém seguindo ou vigiando, não abrir a porta se estiver sozinho, não aceitar presentes e, jamais, entrar em carro de pessoas desconhecidas.
VIOLÊNCIA SEXUAL
É válido lembrar que a partir do momento em que a criança passa a entender mais sobre o mundo, com mais ou menos 5 anos já é possível conversar sobre as partes do seu corpo e esclarecer o que pode e o que não pode permitir que outros façam. Há algumas literaturas nesse caso, indicadas pela Psicóloga Fernanda Jota que há 18 anos trabalha cuidando da saúde mental de crianças e adolescentes, muito boas, são elas: Pipo e Fifi Ensinado Proteção Contra a Violência Sexual na Infância, escrito por Caroline Arcari; O segredo de Tartanina, escrito por Cristina Fukumori; Não me toca seu boboca, de Andrea Taubman e,por fim, Segredo Segredíssimo de Odívia Barros
Ensine REGRAS CLARAS para que a criança saiba agir caso um adulto tente levá-la contra sua vontade. Por aqui o meu pequeno sabe que deve gritar por socorro ou fogo e sinalizar que a pessoa não sou eu e nem seu pai.
Considero que nesse assunto, qualquer coisa que pareça óbvia precisa ser dita e para tentar evitar ao máximo situações que possam comprometer a segurança dos pequenos, PROGRAME SEUS DIAS ! Diga quem vai levá-los e buscá-los na escola e comunique a eles qualquer mudança na programação. Assim elas perceberão rapidamente se algo estiver errado, podendo sinalizar para algum adulto responsável. Atenção na hora de atravessar a rua e cuidados em relação a assaltos também devem ser noções que os pais não podem deixar de passar para os pequenos.
Se ELES SE PERDEREM EM UM LOCAL PÚBLICO? Shoppings, Praias e parques, requerem COMBINADOS específicas. Tenha um PLANO DE AÇÃO caso aconteça com vocês. Quando saio com meu filho ficamos imaginando situações que poderiam nos ocorrer fazendo de conta que somos atores de um filme… andando na rua, entrando e saindo do carro.
É importante que os filhos saibam o NÚMERO DO TELEFONE DOS PAIS e, ainda, coloque sempre no bolso do pequeno um cartão com os nomes e os telefones dos pais. Oriente o pequeno a mostrar o cartão para alguém, de preferência um funcionário ou uma pessoa uniformizada, caso se perca.
CONVERSE SOBRE PREVENÇÃO, ensinar a criança a se prevenir desde cedo é outro grande passo. Faz parte do crescimento delas a curiosidade em mexer com os objetos ao seu redor, o que aumenta o risco de sofrerem acidentes.
Por aqui explicamos que não se deve brincar com fogos, assim como não se deve nadar sem a presença de um adulto, cuidados ao atravessar a rua, ao entrar no carro atentar-se para o cinto de segurança, observar os sinais de trânsito e sempre obedece-los.
Quando algo sério acontecer, alguém passar mal, um bandido tentando invadir a casa, incêndios é importante ensiná-los a entrar em contato com a Polícia. Ensine-os os números, O meu aqui já sabe que pode ligar para o 190 ou 197 (que é onde atualmente trabalho). O endereço ele também sabe, pode não saber completo, mas o nome do prédio ou uma referência é necessário que eles saibam.
Agora a pergunta que fica é: COMO OPERACIONALIZAR ISSO TUDO? Colocando-se no lugar da criança. Tentando entender o mundo pelos olhos deles. Trazendo essas situações para a realidade deles. Saiba quais os jogos seu filho gosta, qual o youtuber que ele mais admira, quais os desenhos e programas ele mais assiste. Mas por quê? Para que eles absorvam de uma forma fácil e leve, sem o peso que a própria temática carrega. Se você parar para refletir, esse peso quem traz são os próprios pais, com suas cargas de vida. Os adultos têm milhões de preocupações e o tempo da criança é diferente do tempo dos adultos.
PRATIQUE O QUE VOCÊ PREGA.
Os pequenos costumam nos analisar em todos os momentos, portanto, a minha dica principal é: TRAGA A AUTODEFESA PARA A SUA REALIDADE que ela acabará por refletir no comportamento de seus filhos. Eu te pergunto: você deixaria sua bolsa, carteira ou celular segurando uma mesa num restaurante? Estatísticas mostram que esse é um dos comportamentos mais frequentes entre as vítimas de sequestros de crianças. Execute antes o que ensina e eles terão prazer em imitar.
Adote a autodefesa como estilo de vida. Funciona. Acredite.
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