STOPPING POWER
Não é de ontem que muito instrutores de armamento e tiro vêm mostrando que o Stopping Power e o estudo de Marschall e Sanow estão sendo superados por novos estudos. Se esses autores tinham como critério para o estudo “a vítima, quando atingida, entra em colapso antes de fazer algum disparo ou expressar uma outra reação de ataque ou fuga; a vítima/oponente, quando atingido, não poderia se deslocar mais do que três metros antes de entrar em colapso” para determinar a efetividade de uma determinada configuração de munição, os estudos recentes utilizam outros critérios, a capacidade de penetração do projétil, o diâmetro produzido por sua lesão e o ponto de impacto do tiro, para verificar a possibilidade da incapacitação física do indivíduo. Nem vou entrar no mérito da incapacitação psicológica, pois foge da proposta desse artigo.
Atualmente, você encontra pós-graduação e vasto material tratando sobre o tema, bem como diversos cursos de APH de combate que abordam com muita propriedade essa dinâmica. Você também vai encontrar cursos on-line sobre o tema, inclusive dentro da Comunidade InfoArmas, com o professor João Bosco. Por isso, não vou me estender nesse tema.
Pegando o gancho do Triângulo da Incapacitação citado acima, você pode perceber que dois fatores estão ligados à escolha da configuração arma-munição que você vai utilizar. O terceiro elemento está ligado ao ponto de impacto do seu tiro, e é nisso que vamos nos debruçar nesse momento, a LOCALIZAÇÃO.

Fonte: https://www.instagram.com/provesanotactical
O ponto de impacto do seu tiro é o resultado direto da sua habilidade de operação do armamento sob determinadas condições, que podem variar conforme o contexto em que você está aplicando esse tiro. Essa habilidade varia conforme a quantidade e a qualidade do seu treinamento. Nessa linha, vamos entrar no aspecto qualidade, que está ligado à forma como você treina e qual é o feedback que você recebe sobre a sua performance.
QUADRO DE ANÁLISE DE TIRO
Aqui vou te mostrar porque o Quadro de Análise de Tiro só pode te ajudar em um contexto específico. Para isso, precisamos fazer o resgate da história desse quadro.
Esse quadro é mundialmente explorado, onde empresas de treinamento e de produção de alvos utilizam a imagem original e adaptadas para ajudar os atiradores a entender que erro eles estão cometendo quando agrupam seus tiros em uma determinada zona do alvo.
O problema começa aí, existem versões diferentes com a mesma proposta, por vezes divergentes, em alguns casos até trazendo mais de uma causa para a concentração do tiro em determinada zona do alvo. Se cada quadro de análise de tiro diz uma coisa ou traz diversas causas para esse agrupamento, qual deles está falando a verdade?

Fonte: Yavapai Firearms Academy

Fonte: https://acotemperado.com/

Fonte: https://dryfiretrainingcards.com/
Essa confusão acontece porque o quadro é limitado para essa análise. E eu vou te explicar o por quê!
ORIGEM DO QUADRO
O Quadro de Análise de Tiro de Arma Curta chegou no Brasil através do Coronel Hugo de Sá Campello Filho, então presidente da CBTA, sendo traduzido pelo atirador Paulo Sergio Carvalhaes e Souza, com quem tive o enorme prazer de conversar a respeito, para publicação na primeira edição da revista O TIRO em Setembro de 1977, da Confederação Brasileira de Tiro ao Alvo.

Fonte: https://www.fmte.com.br/
Esse quadro foi republicado décadas depois com adaptações e alguma alteração do texto em um artigo do senhor Eduardo Ferreira, recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE e das Forças armadas.
Recentemente, o mesmo quadro foi publicado com mais alterações na Síntese de Temas para Avaliação de Capacidade Técnica, da Comissão Nacional de Credenciamento de Instrutor de Armamento e Tiro – CONAT, como material de apoio para o candidato que deseja se credenciar como IAT na Polícia Federal.
Em uma demorada pesquisa, consegui encontrar o dono da obra intelectual. O Quadro de Análise de Tiro tem o nome original Pistol Analisys Chart – Operations Manual, e foi registrado em 5 de maio de 1975 por Joseph L. Rizzo, logo depois da estreia nos cinemas de Um Dia de Cão, com Al Pacino, mas antes da série CHIPS estrear na TV.

Fonte: https://filmow.com/
Contexto de uso do quadro
Esse quadro foi desenvolvido para a modalidade Tiro ao Alvo, uma modalidade bastante praticada naquele tempo. No Tiro ao Alvo, o atirador destro se posiciona de lado para o alvo, empunhando a arma com a mão direita e a outra fica na região da cintura. Quanto mais mudamos esse contexto de tiro, menos o quadro é aplicável. Provavelmente esse seja o motivo pelo qual surgiram novas propostas de quadro de análise.

Fonte: https://www.fmte.com.br/
Como o senhor Eduardo Ferreira diz,
“[…] ainda hoje pode ser útil na aprendizagem dos atiradores iniciantes e juniores sobre fundamentos técnicos, onde o autor apresenta um quadro elucidativo, analisando os diversos tipos de grupamentos, causados por falhas diversas, e a maneira correta de corrigí-las (sic)”.
Para quem está iniciando no tiro, esse quadro é bastante útil, pois apresenta alguns erros que os atiradores podem cometer.
Compare as três versões existentes, da revista O TIRO, de Eduardo Ferreira e da CONAT/PF, e note como o original foi sofrendo modificações ao longo do tempo.
Faça uma leitura crítica, compare com a sua realidade e verifique quanto isso é aplicável ao contexto do seu tiro.
Revista O TIRO: https://www.fmte.com.br/intranet/images/revista/01_1977_09.pdf
Artigo de Eduardo Ferreira: http://www.tiroflu.com/bau/001_quadro_de_analise_armas_curtas.htm
Síntese de Temas para Avaliação de Capacidade Técnica da CONAT/PF: https://www.gov.br/pf/pt-br/assuntos/armas/instrutores-de-armamento-e-tiro/orientacao-para-credenciamento/sintese-de-temas-para-avaliacao-de-capacidade-tecnica-30-12-2020.pdf
Para onde você deve olhar para identificar a falha do atirador?
A resposta certa é O ATIRADOR. É para ele que o instrutor deverá voltar sua atenção com olhar muito atento. Se você não é um instrutor, você pode filmar para fazer essa identificação da falha.
Como você deve analisar o alvo?
Você deverá definir uma zona-alvo onde deverá agrupar seus tiros conforme o contexto do tiro que está aplicando. Essa zona pode variar de tamanho conforme o nível de dificuldade, distância, movimento, velocidade da série de tiros, etc.
Com essa zona-alvo definida, você vai analisar os impacto quanto a dois aspectos: Exatidão e Precisão.

Fonte: autor
Na análise de Precisão, você vai verificar o quanto você consegue agrupar seus tiros, independente da região do alvo que atingiu. Essa deve ser a sua primeira grande meta… AGRUPAR OS IMPACTOS! A Precisão indica consistência da habilidade sob certo contexto de tiro.
Na análise da Exatidão, você vai verificar o quanto esse agrupamento está afastado do centro do alvo. Após conseguir agrupar os tiros, você vai passar a analisar porque os tiros estão fugindo do centro.
Importante: O agrupamento de tiro fora da região central tem uma ou mais causas concorrentes. Um agrupamento no centro pode ser o resultado de dois erros cometidos que se anulam, como por exemplo a visada alta com a torção do pulso (já vi acontecer).
Se você quiser saber mais, leia os artigos abaixo:
https://infoarmas.com.br/fundamento-visada-na-pratica/
https://infoarmas.com.br/dica-de-ouro-para-nao-erra-o-tiro/
https://infoarmas.com.br/correcao-de-tiro/
Para maiores esclarecimentos, você pode me encontrar no Instagram https://www.instagram.com/falconi.iat/
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