Introdução
Em 1864, o Comodoro Matthew Calbraith Perry, comandante de uma expedição naval americana, obrigou o Japão a abrir seus portos ao mundo com o tratado “Comércio, Paz e Amizade”. Abrindo seus portos para o ocidente, surgiu na Terra do Sol Nascente uma tremenda transformação político-social, denominada Era Meiji ou “Renascença Japonesa”, promovido pelo imperador Matsuhito Meiji (1868-1912).
O Japão estava passando por grandes mudanças culturais durante o final da década de 1860, e o imperador era de fato considerado um “Deus vivo”. No espaço de uma década, os rebeldes lutaram para manter o antigo estilo de vida, mas foram derrotados. A propósito, a cultura Samurai terminou com a fracassada Rebelião Satsuma, liderada por Saigō Takamori, considerado como o último samurai verdadeiro, os samurais perderam o direito de usar uma espada katana em público, foi abolido. E assim, cinco por cento da população japonesa – samurais – foi forçada a se adaptar. Fato esse retrato no excelente filme, O Último Samurai.
A Restauração Meiji, fez com que o último shogun perdesse o prestígio e poder político-militar e com esse advento todo o modo de vida pretérito, a restarem em posição marginal tudo aquilo que o simbolizava: os samurais desceram na escala social drasticamente.Os acontecimentos daquele período foram o último catalisador.
O Japão começa a entrar em uma era de industrialização em tempos de paz, e é exatamente por essas circunstâncias que as artes marciais não serão mais a mesma, e sua evolução é incontrolável e ao mesmo tempo esplêndida.
A arte da guerra “Jujutsu”
Jujutsu, Ju que significa “suavidade”, “brandura”, “flexibilidade” e jutsu, “arte”, “técnica”), mais conhecido na sua forma romanizada Jiu-jitsu, é uma arte marcial japonesa (Bujutsu), e também um esporte de combate, que utiliza técnicas de golpes de alavancas, torções e pressões para derrubar e dominar um oponente. Sua origem, como sucede com quase todas as artes marciais antigas, não pode ser apontada com total certeza, o que se sabe por certo é que seu principal ambiente de desenvolvimento e refino foi nas escolas de samurais, a casta guerreira do Japão. Contudo, outros levantam a hipótese de ter proveniência sínica, posto que sejam também notadas influências indianas.
A palavra Ju-Jutsu, historicamente tem seu primeiro registro escrito no século 14, durante o período Sengoku quando o país vivia um violento período de guerra civil, por outro lado não se pode apontar em qual momento histórico esse processo se iniciou nem qual foi a semente, embora há relatos de lutas ou duelos desde 500 A.C. É aceito, contudo, o fato de que as culturas que entraram em contato intercambiavam elementos e dentro desses elementos estavam as disciplinas marciais.
Destarte, posto que não formalmente, existiu esse contubérnio porque havia a migração de pessoas, comerciantes, pescadores, agentes diplomáticos etc. Ou, ainda, durante os conflitos e encontros bélicos em que se envolveu o Japão, porque, depois dum embate, vencedores e vencidos, como consequência lógica, buscavam aprender e apropriar-se daqueles métodos eficazes no campo de batalha.
O termo Jujutsu não foi cunhado senão até o século 16, quando surgiu o Koryu (estilo de guerra)Takenuchi-ryu, reunindo os golpes aplicados com as mãos desnudas, uma arte suave, para diferenciar das disciplinas consideradas rígidas. Ou seja, além das habilidades com armas, como a Katana (espada samurai) ou a Jitte (arma usada para desarmar alguém com uma espada) que seriam as artes duras ou rígidas, ou Kojutsu, que visavam provocar uma ferida cortante, contundente, perfurante etc. Dessa maneira, o foco era estudar as lutas sem armas, que seriam por sua vez as artes suaves, ou Jiu-jítsu, que não buscavam exatamente magoar seriamente o adversário mas subjugá-lo com o menor gasto de energia.
Quanto à origem e terra natal do Jujutsu, existem várias opiniões, mas são consideradas meras suposições baseadas em narrativas relacionadas à fundação de certas escolas, ou alguns registros incidentais ou ilustrações encontradas em manuscritos antigos não apenas no Japão mas na China, Pérsia, Alemanha e Egito. Não há registro pelo qual as origens do Jujutsu possam ser definitivamente estabelecidas. Seria, entretanto, racional supor que desde a criação, com o instinto de autopreservação, o homem teve que lutar pela existência, e foi inspirado a desenvolver uma arte ou habilidade para implementar o mecanismo corporal para esse fim. Em tais esforços, o desenvolvimento pode ter tomado vários cursos de acordo com a condição de vida ou circunstância tribal, mas o objeto e a mecânica do corpo sendo comuns, os resultados não poderiam ter sido muito diferentes uns dos outros. Sem dúvida esse é o motivo de encontrarmos registros relativos à prática de artes semelhantes ao Jujutsu em várias partes do mundo, e também pela falta de registros de suas origens ”.
–Sensei G. Koizumi, Kodokan 7º Dan
Muitas formas de jujutsu eram ensinadas amplamente como aparar e contra-atacar armas longas, como espadas ou lanças, por meio de uma adaga ou outras armas pequenas. Em contraste com as nações vizinhas da China e Okinawa, cujas artes marciais faziam maior uso de Técnicas de Ataque (“Atemi” golpes contundentes com as mãos e pés) as formas de combate corpo-a-corpo japonesas focavam fortemente na projeção “Nage Waza” (incluindo projeções com alavancas nas articulações “Kansetsu-waza”), imobilização “Osaekomi-waza“, travas nas articulações, estrangulamento “Shime Waza” e combate no solo “Ne Waza“.
Em batalha, muitas vezes era impossível parar um samurai usando uma espada longa ou lança, portanto, ele seria forçado a confiar em sua espada curta, adaga ou mãos nuas. Quando totalmente blindado, o uso eficaz de tais armas “menores” exigia o emprego de habilidades de agarrar para neutralizar o inimigo com técnicas de submissão.
Hoje, os sistemas de combate desarmado tem fortes influências de técnicas antigas usadas em guerras, desenvolvidos e praticadas durante o período Muromachi (1333-1573) são chamados coletivamente de Jujutsu de estilo antigo japonês (Nihon koryū jūjutsu ). Neste período da história, os sistemas praticados não eram sistemas de combate desarmado, mas sim meios para um guerreiro desarmado ou levemente armado lutar contra um inimigo fortemente armado e blindado no campo de batalha.
Embora no entanto, por volta do século 18, o número de técnicas de golpe foi severamente reduzido, pois eram consideradas menos eficazes e exercem muita energia; ao invés disso, o golpe no Jujutsu ( termo geral cunhado no século 17 para uma ampla variedade de disciplinas e técnicas relacionadas ao grappling e técnicas de submissão com origens de guerras niponicas), passou a ser usado principalmente como uma forma de distrair o oponente ou desequilibrá-lo na preparação para uma trava articulada, estrangulamento ou projeção.
Adaptação
No fim do século 18, as numerosas escolas de Jujutsu desafiaram umas às outras para duelos que se tornaram um passatempo popular para guerreiros sob um governo pacífico e unificado. A partir desses desafios, o “randori “foi criado para praticar sem risco de infringir a lei, e vários estilos de cada escola evoluíram graças a esses combates uns aos outros sem intenção de matar.
Vale ressaltar que um rola, um treino por exemplo ou um Sparring contra qualquer pessoa nessa época era contabilizado como uma luta, era levado muito a sério os treinamentos e a competitividade era algo natural que enchia o ego. Sentimentos esses que iria totalmente contra a filosofia das mais populares artes marciais, Kung Fu, Judô, Karatê…
Porém devido a popularidade de cada arte em seus respectivos tempo e lugar, a rivalidade juntamente com desafios públicos se tornavam uma rotina. Conde Koma Maeda, o patriarca do Jiu-jitsu brasileiro tinha um recorde de mais de 2 mil vitórias contra adversários e alunos.
Maeda tratava alunos experientes e inexperientes, da mesma forma, tratando-os como se fosse um combate real. Ele argumentou que esse comportamento era uma medida de respeito para com seus alunos, mas foi muitas vezes incompreendido e assustou muitos jovens, que o abandonavam em favor de outros professores.
Um fato interessante a ser mencionado nesse artigo e que ajuda a compreensão da história, e o lançamento em 2015 de um livro pela editora espanhola Shinden Ediciones, o livro “DEFENSA PERSONAL -O EL JU JIUTSU AL ALCANCE DE TODOS” de uma resenha de várias figuras ilustrativas perdidas inéditas do grande Mitsuyo Maeda, demostrando técnicas de Jiu-jitsu moderno. Porque lançar um livro desse em tempos atuais em que o Jiu-jitsu é uma febre mundial com atletas e lutadores fenomenais, e que muitos mudaram o jiu-jitsu. Bom, Fabio Quio Takao, pesquisador e historiador do MMA responde com clareza:
“Antes de responder essa pergunta, basta analisar o atual circo midiático das lutas e constatar que grande parte das “novidades” são efêmeras, pré-fabricadas e tem pouco ou nenhum impacto positivo e real nas vidas dos apreciadores das artes marciais. Por outro lado, os pioneiros são cada vez mais esquecidos e considerados ultrapassados. Portanto essa resenha um tanto atrasada é uma tentativa de estimular os professores, praticantes e envolvidos nas artes marciais a pesquisarem mais profundamente os temas que tiveram uma relevância real nas lutas.”
Recapitulando, ao passar do tempo, surgiu uma modernização das artes, (vista claramente no livro do Koma, vestido de maneira ocidental mostrando técnicas contextuais) isso foi chamado de Gendai budō, que significa literalmente “budo moderno”, ou Shinbudō que significa literalmente “novo budo”, são ambos termos que se referem às artes marciais japonesas modernas, que foram estabelecidas após a Restauração Meiji (1866–1869). Kobudō é o oposto desses termos que se referem às antigas artes marciais estabelecidas antes da Restauração Meiji.
Exatamente nesse período que foi introduzido o Jujutsu na polícia japonesa, agora com um sistema de polícia civil de estilo europeu, sob o controle centralizado do Departamento de Polícia do Ministério do Interior, para reprimir distúrbios internos e manter a ordem durante a Restauração Meiji. Na década de 1880, a polícia havia se tornado um instrumento nacional de controle do governo, fornecendo apoio aos líderes locais e reforçando a moralidade pública.
Talvez um dos mais famosos desses sistemas policiais especializados seja o Keisatsujutsu (arte policial) e Taiho jutsu (arte de prender), formulado e empregado pelo Departamento de Polícia de Tóquio.
O Começo
É sabido que o Jujutsu é usado na polícia japonesa a muitos anos, como por exemplo a unidade especial Shinsengumi, uma tropa especial que serviu ao xogunato no período final do Bakufu. Mas foi após a restauração Menji que o Jiu-jitsu começou a criar formas e ser ensinado a estrangeiros e semeado como uma arte de defesa pessoal.
Lembrando que esse período é também chamado de “Renovação” posto que transformou o Império do Japão num estado-nação moderno, o que resultou no fim do governo teocrático, ditatorial e feudal da Era Xogunato Tokugawa (que começou a partir de 1600) e também dos famosos guerreiros, os Samurais.
Em 1882, um estudioso praticamente de Jujutsu recentemente formado pela Universidade Imperial de Tóquio, em Literatura, Ciências Políticas e Política Econômica iria transformar o conceito do Jujutsu e da defesa pessoal no Japão.
Mestre Jigoro Kano, criou seu judô em 1882, que até então não tinha esse nome, era mais conhecido como “Kano Jujutsu ou Kano-ryu Jujutsu”.
“O sistema que ele originalmente inventou, derivando-o de várias fontes (duas das principais sendo Kito-ryu e Tenjin Shinyo-ryu), ainda era muito perto do jujutsu do período Edo, e completamente diferente do que vemos agora nas competições modernas de judô.”
Serge Mol, Classical Fighting Arts of Japan
Devido a sua popularidade na época, em razão de grandes vitórias de seus alunos contra escolas tradicionais de Jujutsu, o Departamento de Polícia do Japão começou a introduzir o Judô de Kano em sua grade curricular.Os mais temidos lutadores da época, impulsionados pela inveja, não se cansavam em desafiar os discípulos de Jigoro Kano. Houve muitos encontros memoráveis com o intuito de testar a eficácia do Judô Kodokan até mesmo dentro do Departamento de Polícia de Tóquio, aonde surgiu um personagem que modificaria a abordagem do próprio judô sobre o início e o fim de uma luta.
O Mestre na luta no chão
Mataemon Tanabe nasceu em 1869 em Okayama, Japão, nove anos depois de Jigoro Kano. Seu pai dirigia um dojo. Ele começou a treinar Jiu Jitsu no estilo Fusen-Ryu (uma escola tradicional de jujutsu fundada por Motsugai Takeda focada em luta no solo) aos 9 anos e aos 14, começou a acompanhar o pai em competições e desafios, muitas vezes lutando contra homens adultos e oponentes bem mais pesados. Recebeu o diploma de professor aos 17 anos e viajou com o pai pelo país para ensinar Jiu Jitsu.
Newaza-Tanabe, como era conhecido seu estilo, era implacável, Tanabe era técnico, gênio e analítico. Não costumava a ceder em estrangulamentos e chaves de braço. Mas o que chamava mais atenção era que, enquanto o estilo invencível de Kano se concentrava em aniquilar seus adversários em pé terminando a luta no chão, o estilo de Tanabe o chão não era o fim e sim o começo.
Meu jiu-jitsu não foi tanto o resultado de meus bons professores (eu aprendi muito com o pulso de meu pai), mas porque eu sempre escolhi lutar contra os fortes e nunca desistir, independentemente dos ferimentos ou inconsciência. Desta forma, meu jiu-jitsu se tornou polido e isso me fez descobrir várias maneiras de capitalizar meus pontos fortes.
M.Tanabe, tradução por Syd Hoare, Dai Nippon Judoshi do Kodokan
Tanabe mudou-se para Tóquio em janeiro de 1891. Ele foi nomeado instrutor de corpo a corpo do Departamento de Polícia Metropolitana de Tóquio, sob a recomendação de Senjuro Kanaya da escola Takenouchi-ryū de Jiu Jitsu. Tanabe treinou com Kanaya e outros mestres Takenouchi-ryū como Kotaro Imai e Hikosaburo Oshima. A lenda de Tanabe começou com uma luta desafiadora contra um colega instrutor de polícia, 3° dan Kodokan Judoka e o ex – expoente Tenjin Shin’yō-ryū Takisaburo Tobari.
A luta ocorreu na delegacia de Hisamatsu e foi arbitrada por Kanaya. Durante a luta, Tanabe reverteu uma tentativa de osoto makikomi de Tobari, e, após imobilizá-lo com kami-shiho-gatame (posição Norte-Sul), sufocou-o até deixá-lo inconsciente com juji-jime (estrangulamento cruzado).
No ano seguinte, ele desafiou Tanabe novamente. Desta vez foi uma batalha terrestre e mais uma vez Tanabe venceu. Ele agora era famoso e, em nome das escolas antigas, desafiou os membros do Kodokan, e até mesmo Isogai (então 3º dan, na época de sua morte ele era um 10º dan) foi colocado em perigo por sua técnica de solo. O Kodokan então concluiu que um judoca realmente competente deve possuir não apenas uma boa técnica em pé, mas também uma boa técnica de solo. Esta é a origem do célebre ‘ne-waza da região de Kansai’. E para concluir tudo isso pode-se muito bem dizer que Mataemon Tanabe também contribuiu inconscientemente para o aperfeiçoamento do judô do Kodokan.
Artigo de 1952 da Revue Judo Kodokan de Henri Plée , na qual o 8º dan Kainan Shimomura escreveu
As lutas anteriores entre os instrutores da polícia de Kodokan e Tóquio, representando o Jiu Jitsu, aconteceram por volta de 1886-1888. O Kodokan venceu a grande maioria das lutas, com apenas alguns empates e possivelmente um par de derrotas. O número exato de lutas é desconhecido, possivelmente 15.
A reputação do Kodokan e o incrível crescimento de alunos surgiram dessas partidas. O judô estava rapidamente se tornando uma arte marcial imbatível – até Tanabe.
Tanabe se tornou um grande mestre em seu estilo e essa pode ter sido uma das razões que Kano proibiu diversas técnicas de chão devido a lesões que elas causavam como o Ashi Garami, que próprio Tanabe aplicou em um adversário em uma apresentação para o Imperador Taisho em 1898, e acabou quebrando o joelho do adversário.
Jigoro Kano nesta época não se via muito satisfeito com as regras adotadas por estes torneios, afinal, Jigoro Kano era explicitamente contra a ideia de ser o Judô apenas um esporte e contra de se formar pessoas apenas focadas em vencer competições. E parecia que as escolas que treinavam para os torneios kosen estavam formando apenas isso: judocas esportistas. E como foi explicado em outro post, o judô esportivo é um judô incompleto, limitado, Kyogi Judô. Por isso, entre 1925 e 1929, uma série de mudanças nas regras competitivas do judô foram realizadas, de modo a oferecer um judô que fosse balanceado entre 70% tachi waza e 30% newaza, além de não ser mais permitido o empate, onde a vitória seria decidida pela decisão dos juízes (yusei gachi).
Sensei Tiago Jacaré, praticante e estudioso de Judô desde 1985, hoje Graduado em Educação Física, Pós Graduado em Atividade Física e Saúde, 3º Dan Faixa Preta de Judô e Faixa Preta Jiu-Jitsu
A migração do Jiu-jitsu e sua expansão
Os mestres, Tani, Uyenishi e Seizo Yamamoto foram os primeiros artistas marciais a deixar o Japão para o Ocidente. O ano era 1900 e eles viajaram para Londres. EW Barton Wright, engenheiro e fisioterapeuta inglês, foi o responsável por trazer os lutadores de Jiu Jitsu para a Inglaterra. Entre os anos de 1895-1898, Barton Wright estudou Jiu Jitsu e Kodokan Judo em Tóquio. Ele teria pedido a Kano que mandasse instrutores para a Inglaterra.
Em 1904, Taro Miyake, relatado ser um aluno de Tanabe no Handa dojo, viajou para Londres para se juntar a Tani e os outros após ser despedido de seu emprego de policial por entrar em uma briga. Assim o primeiro país a ter contato com o Jiu-jitsu foi a Inglaterra. Barton Wright é lembrado hoje como um dos primeiros europeus a aprender e ensinar as artes marciais japonesas para a polícia britânica e civil e como pioneiro do conceito de artes marciais híbridas.
Aliás combinou diversos estilos de artes marciais para formar seu próprio método de treinamento de autodefesa, que chamou de Bartitsu, arte marcial essa utilizada pelo famoso detetive fictício, Sherlock Homes.
O Jiu-jitsu nos EUA chegou apartir de intercâmbios entre a polícia britânica, isso entre 1910 e 1920, um dos estudiosos policiais na época S.J Jorgesen começou a ministrar cursos de defesa pessoal para a polícia americana, a marinha britânica, a polícia montada canadense, o exercito americano…
Em 1931 chegou até lançar um livro de 119 páginas ilustradas de técnicas de defesa pessoal usando técnicas de Jiu-jitsu.
Vale ressaltar que um dos mais importantes judoca que levaram a arte para fora do Japão foi Maeda Mitsuyo. Maeda, a fonte do jiujitsu brasileiro, nasceu em 1878. É importante lembrar que Maeda já havia iniciado sua jornada no judô através da Universidade de Waseda anteriormente ao seu ingresso no Kodokan. Maeda ascendeu ao terceiro dan em 1901 e começou a ensinar judô no Gakushuin (Escola de Cadetes do Exército), bem como outras instituições.
Seguindo o raciocínio da cronologia, temos o britânico policial e militar William Fairbairn, em 1907 a Guarda da Legação Britânica designou Fairbairn para a Força Policial Internacional em Xangai, uma das tarefas policiais mais difíceis e perigosa que um oficial poderia receber. Nesse período, Xangai era facilmente uma das cidades mais violentas e hostil do mundo. Gangues e traficantes de ópio comandavam o crime organizado e fariam o que fosse necessário para prosperar e sobreviver.
Pouco depois de chegar a Xangai, Fairbairn estava patrulhando as ruas do bairro do bordel quando se deparou com uma gangue de criminosos que o ameaçava. Em vez de correr, ele ficou para lutar contra eles. Apesar de todas as habilidades de luta que adquiriu, ele acabou levando uma surra que quase o matou. Quando ele acordou em um hospital, dias depois, ele notou uma placa perto de sua cama que dizia: “Professor Okada, jujitsu e quebra de osso” (tradução nossa).
Assim que saiu do hospital, passou a estudar jiu-jitsu e judô com o professor, chegando a ganhar a faixa preta em ambos. Ele levou suas novas habilidades de combate a um novo nível. Ao longo de mais de 30 anos com a Polícia de Xangai, Fairbairn teve um mínimo de 600 encontros violentos com criminosos armados e desarmados.
Daí por diante Fairbairn foi um dos maiores instrutores combativos e defesa pessoal policial de todos os tempos, contribuindo com seu conhecimento e a criação de ferramentas (como a famosa Faca Fairbairn Sykes) durante a 2° Guerra mundial para os Aliados e logo após guerra escreveu livros e deu continuidade ao seu trabalho até sua morte. Suas técnicas e táticas utilizando o jiu-jitsu é usada até hoje.
A Polícia moderna e o Jiu-jitsu
A família Gracie foi conquistando o mundo com seu Jiu Jitsu deixado pelo grande Conde Koma (Lembrando que os Gracies não inventaram o Jiu-jitsu, eles popularizaram uma arte marcial milenar, que é aperfeiçoada e inovada a todo momento).
Depois que o UFC conquistou o mundo em 1993, como pessoas em todo o mundo perceberam que o Gracie Jiu-Jitsu era o único sistema que daria a alguém uma chance realista contra um oponente maior e mais atlético. O Exército dos EUA foi um dos primeiros a reconhecer a eficácia do Jiu-jitsu de autodefesa. Em 1994, entraram em contato com Rorion Gracie e pediram-lhe que desenvolvesse um curso intensivo baseado nas técnicas mais efetivas do Gracie Jiu-Jitsu, que daria aos soldados a máximo efetivo no combate corpo a corpo, no menor espaço de tempo, com o mínimo quantidade de lesões.
O resultado foi o Gracie Combatives. Desde o início do curso Gracie Combatives, é ensinado técnicas para missões de operações especiais, incluindo as Forças Especiais do Exército dos EUA, Rangers do Exército dos EUA e SEALs da Marinha dos EUA, CIA e unidades convencionais do Exército dos EUA, Marinha dos EUA, Força Aérea dos EUA e Guarda Costeira dos EUA.
Ao mesmo tempo, membros da comunidade policial pediram a Rorion que desenvolvesse um programa não violento e defensável em tribunal para que os policiais pudessem usar. O resultado foi GRAPLE (Gracie Resisting Attack Procedures for Law Enforcement), um programa especializado de táticas defensivas que desde então foi adotado por praticamente todas as agências federais de aplicação da lei, incluindo o FBI, Serviço Secreto dos EUA e Patrulha de Fronteira dos EUA, juntamente com inúmeros estados, agências de aplicação da lei locais e do condado.
Em janeiro de 2002, o Exército dos Estados Unidos adotou oficialmente o Gracie Jiu-Jitsu como base para seu Programa de Combativos do Exército Moderno (MACP), com a publicação de um manual baseado principalmente no programa original desenvolvido por Rorion Gracie.
Logo o programa foi atualizado pelo faixa preta de Jiu Jitsu, ex fuzileiro naval e ex Ranger, Matt Larsen, aluno do lendário Romero Jacaré, Larsen está no Hall da Fama da revista Black Belt, sendo considerado o patriarca do Combatives Moderno.
Em 2007, ele ajudou o Curso de Qualificação das Forças Especiais do Exército dos Estados Unidos a renovar seu currículo de Combativos e foi conselheiro da Força Aérea dos Estados Unidos , que adotou seu programa no início de 2008. No mesmo período, Larsen projetou o programa de treinamento de Combativos para as Operações Especiais do Canadá.
Em 2009, ele consultou tanto o Royal Marine Commandos na base de treinamento em Lympstone , Devon, bem como o exército britânico de infantaria no treinamento, no Centro de Catterick no desenvolvimento de seus programas Combatives. Esteve a convite no Emirados Árabes, para ajudar a tornar o Jiu-jitsu um esporte nacional. Em 2017, Larsen foi convidado pelas Forças Especiais da Polícia do Kuwait para ajudar a criar um programa de combate de unidades.
Larsen também criou uma faca de combate para Forças Especiais americanas, a LHR, com base nas lições de luta corpo a corpo no Iraque e no Afeganistão. É fabricado pela Gerber Legendary Blades.
Resumo
O Jiu-jitsu na polícia cresceu numa forma incrível, muitas instituições ao redor do mundo usa suas técnicas como defesa pessoal policial, diretamente ou indiretamente. A primeira utilizando o próprio estilo marcial como base forte e adaptando as técnicas conforme a rotina daquela polícia e sua legislação regional vigente. E segundo, ainda que não seja realmente o Jiu-jitsu como sua base, coloca algumas técnicas que estão relacionadas a arte suave, como o próprio mata-leão (Hadakajime) que é visto em inúmeros Cursos de Formação Policial.
No Brasil o Jiu-jitsu em instituições policiais já é uma realidade, como por exemplo o 12 BPM da Polícia Militar de SC, em que eu pertenço, tem uma estrutura separada para a prática de diversas modalidades marciais sendo uma delas o Jiu-jitsu.
Com treinos diários realizados por policiais do próprio batalhão, vem trazendo grandes benefícios aos policiais que atuam rotineiramente na rua. A sede do BOPE também conta com um Centro de Treinamento voltando a prática de Jiu-jitsu para os policiais integrantes da unidade.
A arte suave em alguns lugares ainda traz polêmica, resistência a sua prática, repúdio sobre algumas técnicas de sua aplicabilidade funcional ao serviço ordinário do policial. O famoso caso de Floyd, visto em um vídeo infame do oficial Derek Chauvin ajoelhado no pescoço de George Floyd, que infelizmente faleceu por sufocamento rudimentar, e isso aumentou ainda mais as críticas sobre técnicas de estrangulamentos prejudicando não só o jiu jitsu mas também a própria polícia.
Metade dos maiores Departamentos de Polícia dos EUA proibiram ou limitaram estrangulamentos de pescoço e bloqueios de carótida conforme seus protocolos do uso legal da força. É fácil dizer para os policiais o que ele não pode fazer, o difícil e ele colocar sua vida em check por causa de um caso cheio de equívocos.
Bom, esse é um assunto para outro artigo, então até a próxima, Oooooosssss!!!!!