Mundialmente conhecida pelos filmes famosos dos mafiosos Italianos, ela foi um verdadeiro ícone americano na segunda guerra e possui uma longa história cheia de curiosidades.
Hoje vamos falar da submetralhadora americana Auto-Ordance Thompson, ou simplesmente Tommy Gun como foi apelidada.
A submetralhadora mais famosa do mundo, com uma grande importância histórica desde da década de 1920.
A história dessa arma tem início em 1914 quando o general do Exército Norte Americano John Taliaferro Thompson pediu dispensa dos serviços militares para se dedicar ao melhoramento das armas já utilizadas pelas tropas americanas.
Porém, o general tinha como objetivo a criação de um fuzil automático, para substituir os fuzis de ferrolho muito lentos empregados pelas tropas americanas na época. O projeto era criar uma arma leve, capaz de oferecer um grande poder de fogo e que utilizasse as munições em calibres que eles já utilizavam. O objetivo era poder atacar e desobstruir as trincheiras inimigas, ficando conhecida naquela época como a guerra das trincheiras.
Em 1915 John Blish, o então comandante da Marinha havia acabado de patentear um sistema de ação que se encaixaria ao projeto de Thompson. O sistema foi chamado de Blish Lock (blowback retardado) ou Friction-delayed blowback que usava o atrito das peças metálicas dos mecanismos internos para fazer a ciclagem da arma.
Em 1916 com o financiamento de Thomas Ryan, empresário do tabaco e do transporte, Thompson fundou a fábrica Auto-Ordance Company e ofereceu ações dela para o comandante Jonh Blish em troca do uso do seu sistema de ação.
No começo, a Auto-Ordnance não era uma fábrica de armas, ela era uma montadora de armas, que recebia as peças prontas de diversas fábricas e as montavam. A empresa começou montando rifles Mosin Nagant para o exército Russo, entre outros para arrecadar dinheiro para começar o seu projeto.
Após alguns testes com alguns calibres já utilizados pelas forças militares da época, o 7mm Mauser e o .30-06 Springfield, perceberam que a ação Blish Lock não aguentava a potência, gerando panes graves no armamento. A solução foi de adaptar o projeto de um fuzil automático em uma submetralhadora adotando o calibre .45ACP.
O primeiro modelo que ganhou notoriedade foi The Persuader criada no final de 1918. Possuia carregador de fita como as metralhadoras ou carregadores, bem diferente dos modelos conhecidos nos dias de hoje. Tiveram alguns outros protótipos a partir dessa versão antes de irem para linha de frente. Esses protótipos receberam o nome de Annihilator, que tiveram 3 versões diferentes com modificações no seu cano e no mecanismo de encaixe do carregador.
O Annihilator (aniquilador), recebeu esse nome porque esses protótipos eram capazes de disparar 1000 tiros por minuto, uma cadência impensável para época. Quando essas armas ficaram prontas e estavam prontas para embarcar a guerra teve o seu fim. Como o governo americano já havia pago pelas peças, elas foram distribuídas para várias forças policiais e militares do país.
Com o final da guerra Thompson se aposenta do exército para se dedicar exclusivamente ao seu projéto. E o público civil agora é o novo alvo da marca. Em 1919, para que a nova arma tivesse um apelo ao público civil, John Thompson, muda o nome de uma desgnação não militar e rebatiza a Annihilator como Thompson Submachine Gun (M1919).
Em 1920 foi desenvolvido o modelo M1921, os mecanismos internos não sofreram muitas alterações, o sistema de refrigeração do cano e a empunhadura frontal foram mantidas. A arma era alimentada por carregadores de tambor de 50 ou 100 munições ou carregador verticais para 20 cartuchos. Com uma cadência de disparos menor, com 800 tiros por minuto e uma coronha fixa que não existia. Possuía uma alça de mira da empresa Lyman, com graduações de 50 e 100 metros. Deixando-a mais confortável para o público civil.
Em testes realizados pela Springfield Armory no ano de 1920, verificou que a versão M1921 aconteciam poucas falhas. A cada 200 disparos apenas 1 pane, chamando a atenção das forças militares para esse modelo. Já o público civil não se interessou pelo alto valor da peça, que se devia pela alta qualidade da madeira e do polimento de alto padrão facilmente percebido nas peças que já tive contato. Para se ter uma ideia a arma custava cerca de 200 dólares e um automóvel Ford na época era vendido por 400 dólares.
(Foto na mão modelo M1921AC e no chão a M1927A3)
Outro motivo que explica a venda muito baixa para civis, foi que para um civil comprar espingardas de cano curto, silenciadores e armas automáticas, muito utilizada por criminosos ele pagaria uma taxa extra de U$200,00 o que inviabilizaria ainda mais a aquisição.
Apesar de ser uma arma muito pesada, passando dos 5kg descarregada e da baixa penetração e alcance do projetil .45ACP, ela por sua vez trazia muita confiabilidade. Com isso, na década de 1920 os contrabandistas de bebidas alcoólicas e os Gangsters, se interessaram muito pelas armas e passaram a utiliza-las e para combater de forma igual aos criminosos a polícia também começou a utilizar a submetralhadora.
A Thompson foi a responsável pela criação de uma das primeiras leis de controle de arma dos EUA devido a essa grande utilização por criminosos. O Ato Nacional de Armas de Fogo de 1934 (1934 National Firearms Act – NFA) foi criado para regular a venda dessas armas.
Voltando aos detalhes do seu desenvolvimento. Nessa mesma época, o modelo M1921, recebeu 4 versões onde cada uma recebeu um nome diferente e possuíam alterações que modificavam o seu comportamento:
M1923 – Ano de 1923, ela tinha um bipe, um de cano 36cm e um guarda-mão estreito como conhecemos hoje em dia, para ser concorrente do fuzil BAR M1918. E foi criado o calibre .45 Remington Thompson para essa versão, muito mais potente e veloz.
M1927 – Ano de 1927, criou uma versão apenas no sistema semi-automático, nos EUA as leis de alguns estados, policiais não poderiam usar armas automáticas, o que explica esse fato. Porém, como não tiveram alterações na parte mecânica do modelo M1921 o novo modelo era facilmente convertida em uma submetralhadora.
M1921AC (foto) – Era a M1921 com um compensador de recuo criado pelo Coronel Richard M. Cutts essa peça era chamada de Cutts Compensator. Que era como um tubo sem raiamento, na extremidade do cano, que servia de alojamento para um pino de retenção, com um diâmetro um pouco acima do calibre utilizado e na parte superior havia quatro cortes usinado para o escape dos gases. Diminuindo em 62% o recuo.
M1928 – Ano de 1928, as forças militares se interessaram pelo modelo M1921AC e pediram para diminuir a cadência dos disparos para 700 tiros por minuto, o objetivo era diminuir os desperdícios de munição e diminuir o coice.
Após anos conturbados e problemas financeiros a fábrica se reergueu novamente com o início da 2º grande guerra, atendendo a encomendas de países como França e Reino Unido.
Em 1941 as tropas japonesas atacaram a base naval de Pearl Harbor. E os EUA após declarar guerra, inicia uma corrida para abastecer as suas tropas. A fábrica além da M1928 começou a fabricar uma nova versão, a M1928A1, com um guarda mão vertical, com os zarelho para bandoleiras e com o Cutt Compensator.
Em 1942 os EUA pede a fábrica, que o modelo M1928A1 fosse simplificada urgentemente, diminuindo o tempo de construção e o custo. No mesmo ano a M1928A1 tiveram diversos detalhes retirados e modificados, surgindo um novo modelo a M1A1, o sistema Blish Lock foi alterado para o blowback simples, entre outras diversas mudanças, essa não possuía mais o carregador de tambor. O seu custo foi reduzido, porém não foi o suficiente e durante a guerra elas foram substituídas pela M3 (Grease Gun) produzida pela General Motors (GM) que eram bem mais baratas.
Após a segunda grande guerra, foi utilizada por diversos outros conflitos todo o mundo, como a Guerra Árabe-Israelense de 1948, na Guerra da Coréia e na Guerra do Vietnã no final da década de 1960 quando começou a ser substituída pelo fuzil m16.
Em 1974 voltaram a ser produzidas, voltadas para o público civil com 6 modelos diferentes e todos semiautomáticos, surgindo o modelo M1927A3 no calibre .22LR.
Hoje a Tommy Gun como é chamada, é um sonho para muitos colecionadores de armas. Principalmente nos modelos criados até o ano de 1941. Marcou a história dos Estados Unidos e dos grandes filmes do cinema americano.
(Foto na mão modelo M1921AC e no chão a M1927A3 no calibre .22LR)
Uma curiosidade super interessante, que poucos devem saber no Brasil é que no ano de 2014 o historiador Gordon Herigstad, falecido em 2015, conseguiu realizar um de seus maiores sonhos, publicar uma coletânea com mais 2200 paginas, explicando em detalhes sobre todos os modelos de Thompsons produzidos pela Colt.
Na coletânea ele lista mais de 15 mil números de séries do armamento, contando para onde foi cada exemplar (os conhecidos), e a localização de cada uma nos dias atuais, incluindo as remessas estrangeiras e listando também as armas usadas por gangsters conhecidos com Alcapone, Bonnie e Clyde entre outros. Na coletânea também tem os registros dos Drum Magazines (carregadores de tambor) e as armas das forças militares e policias. Além de uma biografia de John T. Thompson.
E de onde vem essa curiosidade e relação com os Brasileiros?
Nesta história tão rica de detalhes e curiosidades, principalmente para nós brasileiros, é que temos um grande colecionador no Brasil que consta neste livro com um exemplar lendário da época de 1921, chamado Márcio P. Júnior.
Apaixonado por armas e pela plataforma Márcio preserva não só essa como diversas peças raras em seu acervo. Um acervo de encher os olhos de qualquer colecionador e com muitas histórias para contar.
Meu amigo Márcio um grande incentivador do meu trabalho de propagar informação útil e um dos grandes responsáveis por muitas coisas que aprendi e que desenvolto no nosso universo armamentista.
Muito obrigada.