Considerações Iniciais
Quase que rotineiramente observamos nos noticiários a transmissão de informações de pessoas que, utilizando-se de uma arma de fogo, reagiram a uma agressão.
Normalmente essas notícias dão bastante ênfase às situações em que o agente leva desvantagem em relação ao agressor, o que na verdade não é bem assim. Existem diversos casos em que a atitude correta e a ação tempestiva faz com que várias pessoas consigam reagir com êxito e eficácia.
Bem verdade que muitas vezes somente a decisão de agir, ou de estar pronto para isso, fará com que o operador possa obter significativa vantagem, entretanto a não ação ou a paralisação, motivada por um medo excessivo, poderá custar o preço de uma vida.
Isso posto, é de significativa importância que conheçamos alguns conceitos ligados aos efeitos do medo, para que possamos nos anteciparmos e superarmos problemas relacionados e correlatos ao assunto em tela.
O Conhecimento do Medo
A palavra medo provém do termo em latim metus. Trata-se de uma perturbação angustiosa perante um risco ou uma ameaça real ou imaginária. O conceito também se refere ao receio ou à apreensão que alguém tem de que venha a acontecer algo contrário àquilo que pretende.
O medo é uma emoção que se caracteriza por um intenso sentimento, habitualmente desagradável, provocado pela percepção de um perigo, seja ele presente ou futuro, real ou suposto. Além disso, é uma das emoções primárias que resultam da aversão natural à ameaça, presente tanto nos animais como nos seres humanos. Entretanto, sob a perspectiva da biologia, o medo é um esquema adaptativo e constitui um mecanismo de sobrevivência e de defesa que permite ao indivíduo responder, em face de situações adversas, rápida e eficazmente.
Para a neurologia, o medo é uma forma comum de organização do cérebro primário dos seres vivos, com a ativação da amígdala alojada no lóbulo temporal; e do ponto de vista da psicologia, o medo é um estado afetivo e emocional necessário para o organismo se adaptar ao meio.
Humberto Wendling (2013) esclarece que o medo pode ser descrito pelos seus diferentes níveis relativos e está correlacionado com o número de estados emocionais que inclui a inquietação, a ansiedade, o susto, a paranoia e o pânico. Desse modo, destacam-se três tipos de medo: Racional, Exagerado e Irracional.
Normalmente os psicólogos costumam dividir a mente em dois sistemas: o Sistema 1e o Sistema 2. Cada um é um conjunto de processos mentais envolvendo várias regiões do cérebro. O Sistema 1 é intuitivo, rápido, emotivo, inconsciente e automático, ou seja, tudo o que é feito sem pensar, inclusive sentir medo é obra do Sistema 1. Já o Sistema 2 é o contrário, pois é o pensamento lento, consciente e racional, portanto a consciência mora dentro dele.
O psicólogo israelense Daniel Kahneman, prêmio Nobel em 2002, esclarece em sua obra intitulada Thimking, Fast and Slow, de 2011, que o Sistema 1 é o autor secreto de muitas escolhas e julgamentos que nós fazemos e é essencial para a sobrevivência, pois é o instinto que nos permite reagir rapidamente a ameaças; entretanto, o problema é que o Sistema 1 usa regras rudimentares, muitas vezes erradas, para dosar o medo que sentimos das coisas.
Por exemplo, quanto mais você se lembra (ou é lembrado) de uma ameaça, mais medo o Sistema 1 produzirá, independente do real perigo envolvido. Fato importante é que este sistema também é fortemente influenciado pelo medo que outras pessoas sentem (medo é contagioso). Tudo isso nos leva a receios exagerados e errados, vindo a comprometer as avaliações e a nossa própria segurança.
Conclusão
O entendimento sobre o medo é de fundamental importância para o instinto de sobrevivência do ser humano, até porque o medo desencadeará os efeitos no organismo, normalmente levará o homem ao estresse e, consequentemente, afetará a sua capacidade de ação e reação; portanto, assim como o medo poderá fazer com que se desenvolvam os mecanismos de sobrevivência no homem, poderá também fazê-lo paralisar durante uma situação de perigo que, por exemplo, ameace a sua vida.
A maneira mais eficaz de vencer o medo ainda é a exposição gradual da pessoa à situação ameaçadora. Como não poderemos colocar o aluno em confronto direto com marginais, as saída será a busca do conhecimento dos efeitos psicológicos causados pelo estresse do combate, que são desenvolvidos pela essência do medo, e o desenvolvimento da capacidade de saber gerenciá-los de maneira positiva, aumentando sobremaneira a real chance de sobrevivência.
Por fim, além dos treinamentos táticos e de tiro, o operador deverá buscar fortalecimento psicológico, físico e uma boa consciência situacional, para assim poder se fortalecer para vencer ao confronto.
REFERÊNCIAS:
VASCONCELOS, Cleidson. Armas de Fogo & Autoproteção. Porto Alegre: Alcance, 2015.
GROSSMAN, Dave. Matar! Um estudo sobre o ato de matar. Rio de Janeiro: BIBLIEx, 2007.
KAHNEMAN, Daniel. Thimking, Fast and Slow. New York: Farrar, 2011.
OLIVEIRA, Humberto Wendling Simões de. Autodefesa Contra o Crime e a Violência. São Paulo: Baraúna, 2013.