1. Considerações iniciais
Metodologia é uma palavra derivada de “método”, do Latim “methodus”, cujo significado é “caminho ou a via para a realização de algo”. O Método é o processo para se atingir um determinado fim ou para se chegar ao conhecimento.
Nas instruções de autoproteção com armas fogo é muito importante que o professor/instrutor tenha um programa metodológico funcional que possa facilitar o aprendizado por parte do aluno.
Sendo a metodologia o campo em que se estuda os melhores métodos praticados em determinada área para a produção do conhecimento, nas instruções de tiro – onde vários conceitos e técnicas são desenvolvidos de forma dinâmica – parece bastante razoável a realização de trabalhos que foquem sempre nos objetivos claros e específicos.
Na mesma direção, o processo educativo deve ser continuado, de forma individualizada e proporcional ao desenvolvimento de cada aluno, mesmo este estando inserido em um grupo.
Outrossim, para entendermos melhor sobre o assunto, vamos falar sobre o ” Mastery Learning” aplicado ao treinamento com armas de fogo – concepção esta adotada nos treinamentos da IMPACTUS TACTICAL.
2. Mastery Learning – Aprendizagem de Maestria
Origem
Nos anos 60, um renomado psicólogo da Pensilvânia denominado Benjamim S. Bloom (1) e os seus alunos encontravam-se envolvidos numa série de estudos que incidiam sobre a forma como, em contexto escolar, indivíduos diferentes aprendem de forma diversa. Bloom sabia que existiam vários fatores extraescolares que afetavam a forma como os alunos aprendiam, porém estava convencido que os professores tinham também uma forte influência nesse campo.
Naquela ocasião, Bloom começou a realizar estudos onde o principal objetivo era a observação das estratégias docentes e concluiu, das inúmeras observações realizadas, que:
a) a maioria dos professores ensinavam todos os alunos da mesma forma, concedendo tempo iguais para a realização das tarefas; e
b) indicavam a todos as mesmas atividades, dando o mesmo tempo para esclarecer dúvidas.
Nesse propósito, aprendiam bem os alunos para quem esta gestão do tempo era ideal. No entanto, vários outros, com diferentes ritmos de aprendizagem, tinham graus de desempenho progressivamente menor.
Na realidade, Bloom constatou que, quanto mais desapropriados fossem os tempos dados aos diferentes alunos, menor eram as aprendizagens. Em face dessa realidade, Bloom sugeriu que os professores teriam que promover diferenças no seu processo de ensino de acordo com as necessidades particulares de cada aluno. O desafio consistia em tentar encontrar formas claras, precisas e práticas dos professores as realizarem.
Bloom concluiu, ainda, que algumas das principais alterações a serem tomadas consistiria em subdividir o processo instrutivo em partes menores e sobretudo que o professor deveria proceder a avaliações ao longo do processo no sentido de corrigir erros, identificando as lacunas e reorganizando a aprendizagem.
Este processo dá ênfase ao conceito de feedeback introduzido por Skiner em 1954 , no seu famoso artigo The sicence of learning and the art of teaching (2). Bloom desenha assim uma estratégia instrutiva que designa de Mastery Learning ou Aprendizagem de Maestria.
Aplicação
De acordo com Bloom, Hastings & Madaus (3), o aluno deverá aprender conteúdos, conceitos e fatos previamente preparados pelo professor em unidades instrutivas com cerca de duas semanas de duração. Ao fim dessas duas semanas é realizado um teste formativo que possibilita ao aluno compreender as suas lacunas e assim saber onde e o que tem que trabalhar mais. O professor deverá então reorganizar atividades que resolvam os problemas/lacunas detectadas de uma forma personalizada.
Para Ashook (4), os métodos preconizados pelo modelo de Bloom ainda hoje são efetivos; estudos realizados pelo próprio, revelam que as estratégias do Mastery Learning são muito adequadas inclusive para crianças com problemas sociais.
O autor considera que as principais variáveis que intervém no processo de aprendizagem “Método de ensino” são: reforço, envolvimento dos alunos, feedback e correção.
Os diversos estudos deixaram claro que se as atividades preconizadas pelo professor forem bem organizadas e o aluno estiver convenientemente motivado para ultrapassar a unidade, o resultado alcançado será muito positivo.
Estudos realizados por Clarck, Guskey e Benninga (5) provaram que o papel motivacional dos alunos desempenha uma importância capital na aprendizagem. Curiosamente, ao compararem grupos que seguiam processos instrutivos diferenciados, concluíram que o grupo que aprendia de acordo com o Mastery Learning possuía não só um grau mais elevado de desempenho como um maior grau de motivação e mesmo um menor número de faltas.
Fator motivação
A questão da motivação e acompanhamento é muito importante, o próprio Bloom provou que muitos dos indivíduos que atingiam patamares superiores em nível de aprendizagem, desporto e artes, raramente foram considerados crianças prodígio, contudo, aparentavam ter sempre algo em comum: a atenção e apoio que recebiam em casa por parte dos seus pais.
Outro aspecto marcante é o fato de Bloom considerar que a maioria dos alunos e dos professores não serem especialmente dotados, pois a aprendizagem bem orientada resulta de uma série de fatores, mas o dom não desempenha nela um papel preponderante.
3. Considerações finais
Ao analisar os processos de aprendizagem estabelecidos nos estudos elencados, fazendo um paralelo com as instruções com armas de fogo, torna-se bastante claro que:
- o tempo de aprendizagem é algo muito individual;
- apesar do aluno estar em um grupo, é preciso a correção individual dos seus procedimentos;
- as instruções devem possuir formas claras, precisas e práticas;
- o aprendizado deverá ser continuado; e
- a interconexão entre os instrutor e o aluno deverá existir desde o primeiro contato.
Muitos foram os métodos desenvolvidos com base nos ensinamentos de Bloom, todos eles assentam em duas premissas:
– O feedback como forma de correção e enriquecimento do processo; e
– A sequencialização do processo instrutivo
Claro que tentar buscar uma performance de um operador, em um ou dois dias de instrução, não será tarefa fácil para nenhum instrutor. Porém é preciso desapegar da ideia de que 20 homens, por exemplo, agrupados em um fim de semana, aprenderão todos de forma igual.
Primeiro, porque cada indivíduo tem um histórico e “bagagem” diferente do outro, sendo assim cada pessoa irá performar diferente. Segundo que não é fácil identificar erros individuais em exercícios realizados por todos os membros de uma turma de instrução.
Nessa seara, o instrutor precisa planejar a sua aula dentro de um método, para justamente saber até que nível pretende levar seus alunos, e, ainda, criar mecanismos de nivelamento para que toda a turma possa, no desenvolver das atividades, progredir de forma semelhante.
No entanto, mesmo após o nivelamento da turma, o instrutor precisará gerenciar mecanismos eficientes para identificar erros individuais e corrigi-los tempestivamente, trazendo novamente o aluno deficiente ao treinamento grupal.
Por fim, a motivação é um fator preponderante e o combustível para o sucesso das estratégias do Mastery Learning adaptadas para as instruções operacionais. Portanto, é importante que o instrutor esteja disposto a suar mais do que os seus alunos para fazer uma entrega de qualidade e moralmente aceitável.
Referências:
(1) https://www.qstione.com.br/blog/artigos/a-importancia-de-benjamin-bloom-para-educacao/
(2) https://www.worldcat.org/title/science-of-learning-and-the-art-of-teaching/oclc/24193695
(3) BLOOM, B.S., HASTINGS, J.T., MADAUS, G.F. Manual de Avaliação Formativa e Somativa do Aprendizado Escolar. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1983.
(4) https://www.lifespecialityclinic.com/ashok-singhal.html
(5) https://tguskey.com/wp-content/uploads/Mastery-Learning-5-Revisiting-Blooms-Learning-for-Mastery.pdf