Parte I
Sobre o artigo
No presente artigo irei falar um pouco sobre o Combatives Low Light, história, baixa luminosidade e baixa visibilidade, mentoria e o uso da lanterna tática em seu aspecto teórico em combates físicos em confrontos armados.
Como é um tema complexo vou dividir ele em 2 partes. Uma excelente leitura!!
Introdução

Posso ter uma lanterna em uma mão e na outra uma arma para lutar em ambientes de baixa luminosidade, entretanto, minha arma pode falhar, ou ser agarrada, retida, ou simplesmente posso não ter condições mínimas de tiro, num ambiente totalmente dinâmico e confinado em que a ameaça ganha vantagem pelo espaço e tempo.
O combate se torna perigoso não só pela proximidade, mas também pela limitação visual e a complexidade em lutar nesses ambientes.
“A lanterna é uma ferramenta utilizada pelo homem para controlar ou alterar o ambiente.”
E.Bettini
Lutas agarradas são ótimas no escuro teoricamente falando (não posso lutar com quem eu não enxergo, mas posso reagir com o que eu sinto) só que na pratica por falta de técnicas voltadas a esta realidade e treinos que desenvolvem essa sensibilidade de luta, provavelmente farão você lutar no “Método Braille”.
Lembrando que podemos adaptar ou improvisar em diversas circunstâncias durante um problema, mas essa adaptação deve ocorre alienada a uma metodologia correta para o indivíduo não sofrer com o excesso de flexibilidade em suas ações. Foi por isso que desenvolvi o Combatives Low Light.

Qualquer pessoa pode realizar uma tarefa complexa em situações convencionais, contudo, somente aquele é capaz de executar tais tarefas convencionais em situações não convencionais. Então não temos a habilidade de transformar algo em vantagem se não temos uma base, conceito e fundamentos sobre aquilo.
Escuto muito a palavra “Na Hora Sai”ou trinômio NHS, pode até sair alguma coisa mas não será correta e coerente com a situação. Cito aqui uma frase do E.Bettini Policial Federal renomado do COT, referência no Brasil em treinamento e operações especiais:
“Não se confunda a faculdade de flexibilizar determinado procedimento com a ausência de procedimento e flexibilização total. O excesso de confiança e de improvisação geram o perigoso trinômio NHS.”
Baixa Luminosidade ou Baixa Visibilidade?
Vamos definir o que é baixa luminosidade e baixa visibilidade para melhor compreensão:
- Baixa Luminosidade é todo o ambiente que por ausência de luz artificial ou natural prejudique a visão, causando dificuldades para visualizar algo. A baixa luminosidade pode ocorrer a noite e também de dia, nesse último caso, em lugares fechados em que a luz artificial é insuficiente ou a luz natural não entra no recinto.
- Baixa Visibilidade é o parâmetro utilizado em meteorologia para indicar a medida da distância a que um objeto ou luz pode ser claramente percebido através do ar. A visibilidade meteorológica depende da transparência do ar e afeta todas as formas de tráfego, desde o rodoviário ao aéreo e marítimo, e muitas outras atividades que dependem da boa propagação da luz através da atmosfera como por exemplo o trabalho policial em rondas ostensivas nas ruas.
É muito subjetivo definir bem o que é uma baixa luminosidade e baixa visibilidade, pois isso vai depender da capacidade fisiológica do ser humano de enxergar as coisas. Entretanto para o presente artigo, a definição de cada termo é importante, porque em baixa visibilidade a lanterna pode ser ineficiente principalmente por questões climáticas (nevoeiro, chuva,..etc), iluminando parcialmente o local. Já em ambientes de baixa luminosidade a lanterna pode melhorar satisfatoriamente a visão e auxiliar na orientação.
Lanterna, uma ferramenta Disruptiva

A lanterna tática é uma ferramenta disruptiva, isso significa que ela tem a capacidade de desmoronar uma ação imediata ou uma investida violenta de forma momentânea.
Com o avanço desenfreado da violência e sua evolução, é cada vez mais comum confrontos de policiais, agentes de segurança privado e civis armados legalmente contra criminosos nesse cenário, pois quanto menor for o ambiente, maior são as chances de você confrontar a ameaças de perto.
E o uso incorreto da lanterna em confrontos armados de baixa luminosidade pode te colocar em desvantagem, transformando você em um alvo. Pois é indiscutível que o acionamento da luz corretamente vai depender de sua interpretação neural do cenário, baseado no seu entendimento e experiências sobre esses cenários.
Como por exemplo:
- Ligar a luz não se limita a somente encontrar ameaça, ledo engano, em ambientes desconhecidos e obscuros é essencial que eu faça um escaneamento do local buscando abrigos, outras saídas, buracos ou objetos no chão que pode fazer você cair…
- Enfrentar alguém em um lugar escuro e desconhecido exige diversas qualidades de um ser humano, mas a técnica e o conhecimento é que vão tornar essas qualidades relevantes.
“O conhecimento das informações ou dos dados isolados é insuficiente. É preciso situar as informações e os dados em seu contexto para que adquiram sentido… Contextualização é condição essencial da eficácia (do funcionamento cognitivo). […] É preciso recompor o todo para conhecer as partes.”
D.Bayley
Não existe uma fórmula cartesiana, “receita de bolo”, contudo o objetivo da doutrina supracitada, é fornecer a os agentes da lei e os indivíduos que portam lanterna na adoção e utilização de técnicas mais adequadas para uma resposta eficiente.

Dado ao caos e a imprevisibilidade do combate, os operadores/policiais podem precisar aplicar suas habilidades em uma ampla gama de cenários e adversários. Habilidades de combate treinadas com apenas uma reação ou método de ensino pode construir memória muscular – mas não necessariamente a capacidade de se ajustar rapidamente a uma demanda inesperada. Fato!!
O que é uma Lanterna Tática?

A lanterna tática para alguns entusiastas do tiro e instrutores não tem definição, muitos acham que é puro modismo o uso do termo. Bom, há na verdade um equívoco porque o termo não está errado e tem história sobre.
Em 10 de janeiro de 1899, o inventor britânico David Misell obteve a patente norte-americana nº 617.592, atribuída à American Electrical Novelty and Manufacturing Company. Este “dispositivo elétrico” projetado por Misell era alimentado por baterias “D” colocadas da frente para trás em um tubo de papel com a lâmpada e um refletor de latão áspero na extremidade. A empresa doou alguns desses dispositivos para a polícia da cidade de Nova York , que respondeu favoravelmente a eles.


Em 1930 policiais de NY começam a utilizar a lanterna como uma ferramenta de trabalho sendo usada no emprego tático.
Lanternas se tornaram muito populares na China; no final da década de 1930, 60 empresas fabricavam lanternas, algumas vendendo por apenas um terço do custo de modelos importados equivalentes. A lanterna Maglite foi a primeira lanterna tática, fabricada em 1979, era usada pela polícia de Los Angeles, Nova York, Boston… Entre outras cidades.

Diferente das lanternas convencionais a Maglite foi a primeira lanterna tática pois fornecia qualidades voltadas ao o emprego operacional, era resistente a impactos, tinha uma duração maior, sua iluminação era mais forte e era usada como bastão. Com o avanço da tecnologia ao longo do tempo, as lanternas táticas ficaram menores e aumentaram seu poder de iluminação.

A empresa Surefire em 1984, forneceu ao Departamento de Polícia de Los Angeles e ao Departamento do Xerife do Condado de Los Angeles miras laser para shotgun no uso durante os Jogos Olímpicos de Verão de 1984 . Depois a Laser Products desenvolveu seu primeiro produto com a marca “SureFire” – uma lanterna montada em pistola em 1985. E logo em seguida a empresa começou a fornecer lanternas táticas para o exército americano e o FBI, sendo uma das maiores empresas pioneiras no ramo de lanternas táticas.
Em 2004, a Comissão de Polícia de Los Angeles passou a usar lanternas menores, Alan Skobin, o vice-presidente da comissão, afirmando que:
“Esta política torna claro que lanternas são para iluminação e desestimula seu uso como uma ferramenta de impacto. E garante a segurança do policial como bem como protege o público. “
Em 30 de março de 2007, o Departamento de Polícia de Los Angeles, anunciou que trocaria por uma lanterna LED menor e mais leve que não pode ser usada como bastão, em resposta a um incidente altamente divulgado em que um policial foi acusado de usar força excessiva contra um suspeito usando um Maglite.
Resumindo, uma lanterna tática é usada em conjunto com uma arma de fogo para auxiliar na identificação do alvo em baixa luminosidade, permitindo que o atirador, policial ou soldado simultaneamente mire uma arma e ilumine o alvo. As lanternas táticas podem ser portáteis ou montadas na arma com o feixe de luz paralelo ao orifício. Lanternas táticas também servem como método de força não letal, usadas para cegar temporariamente e desorientar alvos.

Geralmente essas lanternas são robustas, compactas, resistentes, portáteis, com grande poder de iluminação, com acionamentos traseiros e funções mais operacionais.
Apesar de que uma lanterna comum pode fazer a mesma função que uma tática de maneira adaptável ela não irá suprir as necessidades operacionais de um policial, soldado ou operador. Então por isso ela tem esse termo, que não tem nada haver com moda, e sim com a sua funcionalidade e empregabilidade tática.
História de combatives em treinamento de Baixa Luminosidade
Depois da Segunda Guerra mundial foi surgindo guerras irregulares e insurgentes, os EUA não deu muita ênfase em nenhuma inovação ou protocolos de combates operacionais, somente em 1989 um sistema foi projetado para ser executado dentro de condições específicas e rigorosas de combate, chamado LINE que seguia os seguintes parâmetros de treinamento:
- todas as técnicas não devem ser dominantes da visão; técnicas podem ser executadas efetivamente em condições de pouca luz ou em outras condições de visibilidade prejudicada (ou seja, fumaça ou gás, combates noturnos)
- fadiga mental e física extrema
- utilizável pelo fuzileiro naval / soldado enquanto estiver usando equipamento de combate completo
- a execução adequada das técnicas deve causar a morte ao oponente
- neutralidade de gênero; deve ser utilizável por – e contra – ambos os sexos
Esses parâmetros são vistos como as condições mais prováveis que um fuzileiro naval ou soldado enfrentaria em combate a curta distância, pois a maioria dos combates a curta distância ocorreria à noite ou com visibilidade reduzida, enquanto o fuzileiro estava cansado e usando sua carga de combate, e ao enfrentar probabilidades assimétricas, como uma força numericamente superior.
Foi um sistema muito utilizado e ensinado por mais de duas décadas, praticamente para várias unidades do exército americano, apesar de ser considerado um sistema incompleto e foi provado que as técnicas não tinham muita efetividade em campo real, porém é possível notar a preocupação de preparar e condicionar os soldados a lutar em ambientes de baixa visibilidade em circunstâncias diversificadas.

E impossível não citar, que tudo que ocorreu em guerra, ou quase tudo, foi gradualmente transferido para a polícia metropolitana. Técnicas e Táticas utilizadas em guerras que se mostraram suficientemente eficazes, foram sendo acrescentadas em cursos de formações policiais e muitas ao longo do tempo foram adaptadas a realidade.
Sabemos ainda que atualmente por exemplo, unidades militares utilizam equipamentos de alta tecnologia para melhorar sua eficiência, como a visão noturna, mira laser de IR oculto, miras térmicas e infravermelhas exclusivo para operações táticas em terrenos de baixa visibilidade ou baixa iluminação.
O que é Combatives Low Light?
É uma metodologia de combate a curta distâncias baseadas em técnicas e táticas em ambientes de baixa luminosidade, na utilização da lanterna tática como ferramenta de impacto, disruptiva, operacional e multifuncional em cenários de combates físicos ou confrontos armados (Retenção de arma de Fogo, Grappling Over Weapons, CQC, CQB, e EXCQB).
“Para maximizar a capacidade do uso da lanterna, eu uso a luz como ação primária, pois quero causar distração, e quebrar a habilidade do agressor de se defender e prever o que estará por vir.”
J.Wihogi
Muitas pessoas limitam o uso de uma ferramenta não por vontade própria e sim pela falta de conhecimento.
Mentor
Além de minhas experiências incríveis com vários guerreiros, tive excelentes encontros e troca de informações e conhecimentos com polícias brasileiros e Instrutores Internacionais. Policiais esses de grupos de Operações Especiais que me ajudaram e muito em meus estudos, policiais com uma bagagem vasta não só em sua área de atuação como também conhecedores, mestres, praticantes de artes marciais, ex lutadores…
Mas o grande idealizador e meu maior mentor para desenvolver esse módulo o “Combatives Low Light”, foi o renomado Instrutor e Polícial Civil de SC, Operador do SAER SC, Marcelo Esperandio.
Sou aluno dele há uns 6 anos, e ao mesmo tempo amigo, fiz praticamente todos os seus cursos que são fenomenais, alguns até repeti outros tive a honra de passar instrução. Ele que deu a idéia, me passou diversos livros e conhecimentos na área, até hoje trocamos conhecimentos sobre inúmeros assuntos relacionados a área operacional, treinamento, capacitação..
Marcelo é um polícial fora da curva, um Albert Einstein do tiro, que não só tem uma vasta experiência em Operações Especiais (COTE-PR, antiga COP-SC, COTE-RJ, SAER-SC, Táticas PMSC), como é um praticante disciplinado de Jiu-jitsu e Boxe, tem uma percepção e grande assimilação de combates corpo a corpo e retenção e contra retenção de arma de fogo.
Foi ele também o idealizador do curso de Retenção de Arma de Fogo do Mestre Charneski que também é meu amigo e meu mentor (sou o primeiro Instrutor graduado e certificado no seu módulo) faixa preta de Muay Thai e Instrutor de Defesa Pessoal Combativa considerado a maior referência no assunto, e isso foi outro ponto positivo que me ajudou muito.
Resumo
No próximo artigo vamos falar mais sobre conceitos modernos de combates em baixa luminosidade e a metodologia do Combatives Low Light para o emprego multifuncional da lanterna tática, na amplitude de sua função para resolver problemas combativos. Até lá!!!