INTRODUÇÃO
Uma pergunta recorrente que recebo é sobre armas e calibres para emprego policial, mais especificamente sobre a segunda arma, também chamada de arma de backup para o porte dissimulado (velado). Embora seja uma prática que vem caindo em desuso, muitas pessoas, inclusive eu, ainda adotam o hábito de usar duas armas. Vou explorar alguns aspectos dessa prática neste artigo, tentando expandir o tema para que você possa avaliar a decisão de usar ou não a segunda arma e, se usar, quais seriam as características desejáveis a ela.
DESVANTAGENS NO USO DA SEGUNDA ARMA
Primeiramente, vou começar a análise apontando algumas DESVANTAGENS no uso da segunda arma! Sim! Como sempre, nem tudo são flores… Ao optar por usar duas armas, o operador precisa ter em mente que terá duas dificuldades adicionais, comparadas ao emprego de apenas uma arma, quais sejam:
- Ter uma arma a mais para esconder, dificultando a dissimulabilidade;
- Ter uma arma a mais para se preocupar com a retenção.
Ao optar usar duas armas, o operador deve ter a consciência de que será mais difícil o porte dissimulado, pelo simples fato de ter mais coisas para esconder. É impossível usar duas armas de maneira dissimulada? Não! Mas é inegável que é mais difícil esconder duas armas do que esconder apenas uma? E onde portar essa segunda arma? Veremos adiante…
Ao usar duas armas, supondo que o operador se envolva em um combate corpo a corpo, ele terá o dobro de preocupações, ou seja, duas armas para reter, ao invés de uma. Isso dificulta sobremaneira a retenção da arma! Se trabalhar a retenção de uma arma já é difícil, imagine de duas!
Com as desvantagens já apresentadas, vamos analisar o outro lado, ou seja, as vantagens de se empregar duas armas. Para isso, vamos pontuar os motivos para usar duas armas, que variam de pessoa para pessoa.
POR QUE USAR UMA SEGUNDA ARMA?
Como já disse antes, eu mesmo uso duas armas. Sempre. Opto por usar a segunda arma por um motivo muito simples! Minha primeira arma tem uma capacidade reduzida e uso a segunda arma como forma de compensar essa menor capacidade. Efetuar a transição de arma é muito mais rápido do que fazer uma recarga. Minha primeira arma é uma pistola Imbel M1911 monofilar em calibre .45 ACP (figura 1), com carregador com capacidade para 8 munições mais uma na câmara. Uso essa arma porque é a que mais me agrada dentre as duas opções que tenho na minha instituição. A outra opção, Imbel MD5 em calibre .40 S&W, tem mais capacidade (16+1), porém atiro melhor com a primeira opção, por isso fico com ela.

Outros motivos também justificam, a meu ver, empregar a segunda arma. Como diz o ditado: “quem tem dois, tem um. Quem tem um, não tem nenhum!” Ao empregar duas armas, tenho sempre a opção de continuar no combate mesmo que tenha até perdido a minha primeira arma!
Se esses motivos ainda forem insuficientes, sugiro que você leia o excelente artigo da lenda Massad Ayoob mostrando 13 casos que mostram por que você deve portar uma segunda arma, disponível neste link.
CARACTERÍSTICAS DESEJÁVEIS PARA A SEGUNDA ARMA
Muitas pessoas pensam que uma boa opção seria uma arma pequena, de calibre menor e mais fácil de velar, sugerindo um revólver em calibre .38 SPL, uma .380 Auto compacta ou até mesmo aquelas pistolinhas em calibre .25 Auto como a Taurus PT 51… Não vejo sentido algum nisso! Se a primeira arma serve para quando estamos fodidos (termo técnico), a segunda arma serve para quando estamos mais que fodidos (termo técnico)! Não faz sentido depositar as nossas esperanças em uma arma com calibre anêmico em matéria de desempenho balístico!


Com isso estabelecido, o ideal é que a segunda arma seja preferencialmente do mesmo calibre da primeira arma. Em uma situação ideal, que a segunda arma permita o compartilhamento de carregadores com a primeira arma, de maneira que se o operador utiliza também carregadores reserva, tais carregadores possam ser empregados nas duas armas, tanto na primeira quanto na segunda.

Outra característica desejável, mas não obrigatória, é que essa segunda arma seja de um modelo um pouco mais compacto que a primeira, facilitando a sua dissimulabilidade, já que este é um fator de desvantagem no emprego de duas armas. Atualmente existe uma gama enorme de armas de modelos compactos e em calibres com excelente desempenho balístico, tais como 9mm Luger, .40S&W ou .45 ACP, por exemplo.

Uma característica adicional que é muito interessante é que a segunda arma tenha funcionamento semelhante ou o mais próximo possível da primeira arma, para aproveitar a memória muscular dos movimentos e obter melhor desempenho dos tiros.
ONDE PORTAR A SEGUNDA ARMA
Outro “clichê” relacionado ao emprego da segunda arma é portá-la em um coldre de tornozelo. A justificativa é que a dissimulabilidade é maior nessa região. Novamente destaco: a primeira arma é aquela para ser empregada quando estamos fodidos (termo técnico). Vamos deixar a arma para quando estivermos mais que fodidos (termo técnico) em um local mais difícil de sacar do que a primeira?! Mais uma vez, não faz sentido! Considerando a situação de pronta necessidade, o ideal é que a segunda arma esteja tão disponível quanto a primeira, ou seja, que ambas as armas estejam em posições ortodoxas na linha da cintura.

CONCLUSÕES
A opção de empregar a segunda arma é extremamente pessoal e deve ser avaliada de acordo com o caso específico. Não se pretende, com esse texto, ditar regras para o emprego da segunda arma, mas sim trazer alguns pontos de reflexão sobre o que é melhor. No meu caso, optei por empregar duas armas, sendo ambas em calibre .45 ACP, em plataforma 1911, a primeira uma Imbel e a segunda uma Colt Officer, mais compacta. As duas armas podem funcionar com os carregadores reserva que também porto. Emprego a primeira arma no porte frontal cruzado e a segunda no porte lateral direto. Agora cabe a você escolher se vale a pena ou não empregar duas armas, quais armas empregar e em quais posições, de maneira que as vantagens de portar duas armas se sobreponham às desvantagens.
