Casos reais
Numa reserva de armamento, o policial encarregado vê uma submetralhadora sem o carregador e com o ferrolho aberto. O policial, presumindo que a arma está descarregada, libera a alavanca de manejo (Ei! Você examinou a câmara?), destrava a arma, pressiona o gatilho, e BANG!
Durante uma operação, outro policial entra na viatura, aponta um fuzil para o assoalho. Para conferir se a arma está carregada, ele destrava a arma (Epa! Você tem certeza de que vai fazer isso aqui dentro?), aperta o gatilho, e POW!
Em outra reserva de armas, policiais chegam de uma atividade e decidem devolver as pistolas recém-compradas pela instituição. O encarregado recebe uma arma por vez, pergunta ao usuário se ela está alimentada, retira o carregador, manobra o ferrolho, aponta para uma direção segura e aciona o gatilho. Como as armas são novas, uma pequena camada de óleo fica impregnada nas mãos do encarregado. Lá pela vigésima arma recebida e com os ferrolhos já escorregando pelas mãos, o policial continua sua rotina: recebe, pergunta, retira, manobra e pressiona. BUMM! Um projétil perfura uma bancada, uma mesa e se estilhaça no piso. (Ops! Eu acho que o ferrolho não foi totalmente à retaguarda!).
Num treinamento de tiro, o instrutor faz recomendações sobre a segurança e a conduta no estande. Um policial chega apressado e se une ao grupo para as instruções. Ao se lembrar de que a arma está carregada, ele manobra o ferrolho (Opa! O carregador continua na arma!), aponta para os pés do instrutor e pressiona o gatilho. BAM! Na iminência da lambança, o instrutor se afasta evitando ser atingido pelo projétil que perfura o piso.
Todo cuidado é pouco
BANG, POW, BUMM e BAM são onomatopeias que imitam o som de um tiro de arma de fogo. Infelizmente, os eventos narrados ocorreram de fato e representam algumas das situações que envolveram tiros não intencionais. Portanto, esse é um evento no qual uma arma de fogo é disparada num momento não esperado pelo usuário.
Com as armas atuais, o tiro não intencional mais comum ocorre quando o gatilho é acionado, mas com um propósito diferente de quando se está num tiroteio. Isso ocorre durante os acionamentos a seco, nas inspeções do armamento, nas demonstrações ou testes de funcionamento, mas quando um cartucho está, inadvertidamente, na câmara da arma.
Em muitos casos, pode-se dizer que os tiros são acidentais. Mas em outros episódios, os tiros inesperados são pura imprudência. Ou seja, para saber se uma arma está carregada ou não, o policial simplesmente pressiona o gatilho. É como se você quisesse testar o airbag batendo violentamente seu carro contra um poste.
Apesar da aparência de que essa categoria de tiro acidentais ocorre somente com atiradores mal treinados, a existência de uma arma sem o carregador pode sugerir que ela está descarregada, mesmo que tenha um cartucho na câmara. Essa sugestão perigosa também pode acontecer quando armas carregadas/alimentadas são deixadas displicentemente em qualquer lugar.
Um tiro não intencional também pode ocorrer quando o policial coloca o dedo indicador sobre o gatilho antes de ter decido atirar. Posicionado dessa forma, muitas coisas podem fazer com que o dedo pressione o gatilho “sem querer”. Por exemplo, se o policial coldrear a arma com o dedo no gatilho, um tiro acidental é bem provável; se ele tropeçar, cair ou se atracar com um suspeito, o instinto de contrair os músculos de uma mão para segurar o suspeito pode provocar um tiro acidental, uma vez que os músculos da mão que empunha a arma também serão contraídos (reflexo intermembros).
As regras de segurança
As regras básicas de segurança reconhecem essas possibilidades e existem para preveni-las. De todas as regras, o controle do cano e do dedo do gatilho são as mais importantes. Assim, sempre mantenha sua arma apontada para uma direção segura de modo que um tiro não intencional não atinja alguém (atenção aos ricochetes ou fragmentos de projéteis). Segundo, nunca toque a tecla do gatilho a menos que você esteja atirando pra valer.
Mesmo que você esteja diante de um suspeito e talvez precise atirar, manter o dedo fora do gatilho previne que a resposta motora involuntária causada por um susto, uma pancada, um solavanco ou desequilíbrio faça com que seu dedo se contraia disparando um tiro em alguém que já se rendeu – como infelizmente já ocorreu quando um policial bateu com a coronha da pistola no pescoço de um torcedor de futebol.
“Tal morte desnecessária pode deixar você emocionalmente perturbado, financeiramente empobrecido e fisicamente preso!”, é como resume Massad Ayoob, instrutor de tiro e autodefesa.
Portanto, não importa como você chama cada projétil que sai da sua arma sem querer (acidental, involuntário, negligente, imprudente, fortuito ou não intencional), pois o resultado disso pode ser mortal e transformar sua vida num inferno. E não menos importante: vai tornar uma família inteira infeliz.
Assim, aprenda a lidar e treine com as armas da sua organização policial, mesmo que você imagine que jamais precise usá-las. E nunca acredite em alguém que lhe diz que sua arma não tem munição na câmara. E se você está vendo uma caixa de areia, use-a.
No livro Sobrevivência Policial, eu conto como a Polícia de Nova Iorque divide as categorias de disparos realizados por seus policiais.