É virtualmente impossível elaborar qualquer estratégia eficiente sem a produção de dados e o domínio da informação. No que diz respeito à atividade policial, especialmente quando o tema é vitimização do profissional de segurança pública, conhecer as circunstâncias em que se dão confrontos os envolvendo é primordial para o estabelecimento de protocolos operacionais, metodologias de treinamento, aquisição de equipamentos, etc.
Law Enforcement Officers Killed and Assaulted (LEOKA)
O FBI, comprometido com a produção de estatísticas criminais sérias e detalhadas, publica, anualmente, no âmbito do programa Uniform Crime Reporting [1] , uma seção denominada Law Enforcement Officers Killed and Assaulted [2] . O propósito é oferecer as mais variadas informações sobre os cenários em que policiais foram mortos, intencional ou acidentalmente, ou agredidos no exercício de suas atividades.
O trabalho teve suas origens em 1937 e foi sendo desenvolvido e ampliado, apresentando, em 2019, um total de 133 tabelas com os mais variados dados sobre o ano de 2018. Partindo do básico sobre os policiais envolvidos nas circunstâncias violentas (como idade, raça, altura, tempo de serviço, etc), o trabalho busca abarcar informações as mais detalhadas. São relatados calibres utilizados em confrontos armados, distâncias entre policiais e agressores, condições de luminosidade, tipo de missão executada no momento do confronto, etc.
Após a emissão de cada relatório, diversas discussões são realizadas, nos âmbitos nacional e local, especialmente, com a comunidade de segurança pública, com o propósito de encontrarem soluções para a problemática identificada.
E qual a situação no Brasil?
Embora a noção da importância da coleta de dados sobre vitimização policial seja algo básico, no Brasil este tipo de trabalho é praticamente inexistente. Iniciativas neste sentido e os relatórios que as seguem, geralmente, são carregadas de concepções ideológicas e dados superficiais, que não se aproximam da magnitude do trabalho realizado pelo FBI, tampouco são capazes de nortear mudanças de paradigmas.
“Tudo na guerra é simples, mas a coisa mais simples é difícil.” (Carl von Clausewitz)
Talvez, em um contexto em que a segurança pública é dominada por discussões ideológicas, esquecendo-se de sua natureza técnico-profissional, deixar de coletar dados desta natureza seja mais interessante do que incentivar sua produção. Conhecer, de fato, as circunstâncias em que ocorrem mortes e agressões a policiais, provavelmente, apresentaria um cenário desagradável e politicamente negativo. Exigiria uma revisão geral das estruturas de segurança pública, de modelos legais, de protocolos, de metodologia de treinamento, dos projetos de aquisição de equipamentos, etc.
Em suma, um trabalho neste sentido colocaria em foco o policial, a necessidade de sua valorização, bem como a oferta de condições para que possa exercer sua profissão – e a conduzir sua vida particular – em maior segurança. E bem sabemos que os homens e mulheres policiais tendem a não serem vistos de maneira prioritária, quando o assunto é elaboração de políticas e projetos na área, em comparação com nações de padrão civilizatório mais desenvolvido.
Dedicatória do LEOKA/FBI 2018, onde se lê:
“Esta publicação é dedicada à memória de todos os profissionais de segurança pública locais, estaduais, federais e tribais, que deram suas vidas servindo aos cidadãos de suas comunidades e aos Estados Unidos.
Nós nunca nos esqueceremos de seu sacrifício.”
Finalmente, vamos ao que interessa…
Com o propósito de possibilitar que se tenha uma noção da excelência do trabalho de coleta de dados realizado nos Estados Unidos, disponibilizei a tradução de algumas das tabelas publicadas, referentes a confrontos que resultaram na morte de policiais americanos no ano de 2018.
Talvez – e espero -, a disseminação deste material possa iluminar as mentes de políticos e gestores, para que tomem consciência do grande problema relacionado à ausência de coleta de dados e produção de informações sérias sobre segurança pública.
Nas tabelas, serão encontrados dados como:
1) Condições de luminosidade;
2) Período do dia e horários;
3) Idade dos policiais vitimados e tempo de serviço;
4) Quantidade de disparos efetuados pelos envolvidos e informações sobre efetivo uso de arma de fogo pelos policiais vitimados;
5) Uso das armas de fogo dos próprios policiais, por seus agressores;
6) Tipo de missão realizada pelo policial vitimado, no momento do ataque;
7) Tipo de ocorrência que motivou o acionamento do policial vitimado;
8) Atividade realizada pelo policial no momento do ataque;
9) Tipo de armamento utilizado pelos agressores;
10) Distância entre policial vitimado e agressor, bem como calibres utilizados por estes últimos;
11) Uso de colete, uniforme ou coldre pelo policial vitimado.
Boa leitura e análise!
[1] Relatório Uniforme de Crimes, em tradução livre;
[2] Profissionais de Segurança Pública Mortos ou Agredidos, em tradução livre