Considerações Iniciais
Este artigo, obviamente, possui um título bastante perturbador, mas a pura verdade é que infelizmente a sociedade brasileira sofre de uma policiofobia (1) . A policiofobia, segundo o policial Felipe Bezerra, é uma construção cultural conceituada como a promoção sistemática do ódio, da aversão, do preconceito, do descrédito e da desmoralização dos profissionais de segurança pública.
Na verdade o título nos faz questionar o que está acontecendo com a sociedade que “joga os seus policiais aos leões”, valorizando os criminosos e pedindo punição àqueles que estão justamente cumprindo a lei e defendendo os inocentes da criminalidade.
A resposta não é simples, mas pode e deve ser investigada. Até porque o leitor desse Portal, a essa altura, já entende a impregnação ideológica que foi implantada nas famílias brasileiras e que vem destruindo exatamente os valores mais básicos e necessários do bom convívio, perfazendo uma grande degradação moral em todos os meios da sociedade brasileira e com bastante eco na segurança pública.
Entre 2011 e 2016, por exemplo, quase 3.000 policias foram mortos por criminosos no Brasil. Enquanto a média nacional de mortes foi absurdamente de pelo menos 30,3 para cada 100 mil habitantes, a de policias é mais absurda ainda, pois a taxa de mortes desses agentes públicos foi de 59,7/100 mil. (2). Por essa periculosidade vivida na profissão que deveríamos observar policias sendo ovacionados e tratados como heróis, enquanto o que observamos é a ideia repugnante dos discursos de ódio ao policial.
Heróis da Nação
O policial em sua essência está pronto para enfrentar o perigo. Qualquer pessoa de boa índole, mesmo sendo uma jovem criança ou um idoso experiente, tem uma clara noção da diferença entre um policial e um bandido. Não há como se fazer qualquer comparação entre ambos, pois são pessoas de caráter e sentimentos totalmente diferentes.
O policial faz o bem e o bandido o mal. O policial salva vidas, enquanto o bandido acaba com elas. Porém é óbvio que se o policial matar ou ferir alguém injustificadamente ou para auferir algum lucro pessoal, esse não será um policial e sim um policial que se transformou em bandido e assim deverá ser tratado e julgado.
No entanto, nas discursões públicas sobre condutas praticadas pelos agentes públicos, não se faz uma análise para diferenciar os atos violentos lícitos dos ilícitos. Não se distinguem em que contexto a violência ocorreu. O objetivo é simplesmente impregnar na sociedade a ideia de que são utilizados recursos públicos para o financiamento de babáreis policiais, em que a população inocente é exterminada com recursos extraídos dos seus próprios tributos.
É importante salientar que os combates contra bandidos são extremamente violentos. Entretanto a mídia, os ideólogos e intelectuais orgânicos desconsideram os riscos que os policias se encontram e traçam um quadro em que o policial é submetido a intensas regras éticas. Portanto, se matar o bandido, sobre o policial recairá todo um estudo de fatos e o peso da responsabilidade pelo acontecido. O discurso é sempre a tal da “violência policial”, como se o outro lado fosse composto por vítimas da sociedade indefesas.
Claro que essas análises são feitas por “especialistas” que se encontram em salas bem confortáveis, com o ar condicionado aclimatando de forma agradável o ambiente, em contraposição ao cenário aterrorizante que se encontram os heróis policias que são previamente e injustamente julgados.
Um triste fenômeno que se fortalece
Nosso inferno moral, é fruto de um processo cultural de glamourização do crime como ato heroico de resistência revolucionária às regras ímpias de uma sociedade injusta. Os diversos meios de difusão cultural, devido a um esforço desmedido da intelectualidade engajada, criaram um fictício complexo de culpa social, ou seja, o criminoso sempre é apresentado como uma vítima da sociedade. (3)
Portanto, sendo o criminoso a “vítima”, nada mais justificado do que essa vítima realizar a “justiça social”. A partir de então, devido a nobreza da causa e ideais, toda a sociedade deve entender e aceitar, sem atrapalhar ou se queixar, os efeitos dessa luta instaurada por justiceiros sociais.
A dita “violência policial” é criação justamente dessa ideologia que sempre coloca o criminoso na condição de vítima e crucifica o agente público. Para os ideólogos, doutrinados com base em conceitos marxista, o policial é um agente que reprime a luta revolucionária e que serve de mecanismo para a manutenção da burguesia. Sendo a função das forças policias manter a hegemonia dessa classe elitizada e dominante.
Para os intelectuais engajados em desqualificar a polícia, casos isolados de atuação criminosa de policiais tornam-se uma direção para se generalizar qualquer ação e ato violento praticado pelos agentes, inclusive os atos lícitos. O imenso efetivo de policiais, em sua maioria, obviamente são pessoas do bem que não devem serem colocadas ao lado de alguns desvirtuados que optaram por trair o estado e fortalecer o crime.
Com esse artifício, bandidos e policias são colocados em um mesmo nível, pois ambos executaram atos violentos. Na cabeça dos ideólogos, o benefício da dúvida sempre será para o bandido, pois o pressuposto é que o policial por representar o estado “opressor” deve pagar caro pelos seus atos violentos.
De Souza e Pessi, sobre a temática, abordam um ponto de vista bastante esclarecedor sobre o resultado dessa desconexão de valores:
Opera-se nesse momento uma pérfida inversão de papéis: na sutiliza desse estrategema erístico, o verdadeiro criminoso – de classe – é o Estado “burguês” opressor, personificado pelos seus agentes. O delinquente torna-se, então, o mocinho, e o policial, o pior dos bandidos. A falsa equivalência inicial converte-se em franca propaganda bandidólatra, na exata medida em que é criminalizada a defesa da ordem, das verdadeiras vítimas da sociedade. (4)
O objetivo disso tudo infelizmente é blindar dissimuladamente o criminoso que para os ideólogos são agentes de uma luta revolucionária, que por meio da instalação do caos ajudarão a amadurecer as condições para a tomada do poder pelas forças de esquerda que buscam uma sociedade sem classes.
O que nunca irão lhe contar
Ocorre que nossos pensadores e até doutrinadores foram contaminados por um ideário sob o manto dos direitos humanos que a polícia é violenta e perigosa, mas se for feita uma análise não só nos números brutos de mortes realizadas por policias e, ainda, se observar pormenorizadamente as vítimas e as situações que os confrontos ocorreram, será fácil compreender que a maioria dessas baixas aconteceram em situação de violência lícita, ou seja o policial agiu em defesa sua e da sociedade, tendo naquele momento somente a possibilidade de agir com a força.
No entanto não existem estudos que levem em consideração esses aspectos, muito menos os aspectos de quem eram as vítimas e que armamento e que ameaça foi oferecida aos policias etc. Sendo assim, fica fácil fazer um simples somatório de números e lançar em uma planilha, julgando que os policias somente em 2018, por exemplo, mataram mais de 6.000 pessoas, conforme divulgado por toda a mídia, naquele ano.
Conclusão
O Policial precisa ter a tranquilidade para cumprir a sua missão, sabendo que ao tombar no campo de guerra a sua morte não será em vão. Ou seja, precisa acreditar que a sociedade o cultuaria como um grande lutador, a sua família seria amparada pelo Estado, e, por fim, o bandido que interrompeu a sua vida seria severamente punido e encarcerado por muitos anos. Assim, valeria a pena.
Segundo Felipe Bezerra (5), a policiofobia não é consequência da violência policial ante a população de periferia, e tampouco é uma resultante do período do regime militar. Ela é uma construção artificiosa e ideológica de setores da política, da mídia e da academia, e é propagada, em regra, por indivíduos das classes média e alta que nunca sofreram abusos ou violência de policiais. Indivíduos que nem imaginam como funciona o trabalho policial.
Com o mesmo entendimento, De Souza e Pessi assim se indignam:
Contando com efetivo reduzido, treinamento precário, remuneração de fome e equipamento defasado, os policias brasileiros são lançados diariamente numa guerra assimétrica (na qual lhes cabem todas as obrigações e nenhum direito), com a missão de defender a população atônita diante de índices de violência que superam os registrados em zonas de conflito. No cumprimento do dever, esses guerreiros tombam às centenas, mas sua bravura e heroísmo jamais serão reconhecidos. (6)
É inadmissível que que a sociedade se comporte de maneira preconceituosa em relação a pessoas que dedicam suas vidas à proteção de desconhecidos. Pois não se combate à criminalidade abraçando lagoas, vestindo camisas com frases de efeito ou soltando pombas brancas. A criminalidade é sórdida e não está nem aí para as pessoas. Os criminosos vão até o fim para cumprirem os seus intentos. A sociedade precisa compreender o papel da polícia e aprender, lógico, a fiscalizar suas ações, mas também a aplaudi-los. Para que o mal triunfe basta que o bem não esteja por próximo.
Outrossim, a sociedade precisa entender a função e necessidade de uma polícia eficaz. Para parar uma força maligna que investe sobre a ordem pública com o intuito de destruir toda uma sociedade, somente será possível com a propositura de outra força ainda maior, capaz de superá-la, inclusive pelo método da violência lícita.
Por fim, a sociedade precisa aceitar uma velho adágio romano: “si vis pacem, para bellum”, que significa “se quer paz prepare-se para guerra”, e assim como preceitua Felipe Bezerra, nos dias de hoje, significaria: se queres paz, apoie a Polícia.
REFERÊNCIAS:
(1) https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/opiniao/policiofobia-1.1407244 (acesso em 12 jan.20)
(2) DE SOUZA, Leonardo Giardin; PESSI, Diego. Bandidolatria e Democídio. Ensaios sobre garantismo penal e a criminalidade no Brasil. 3 ed. Porto Alegre: SV Editora, 2018, p.335
(3) DE SOUZA, Leonardo Giardin; PESSI, Diego. Bandidolatria e Democídio. Ensaios sobre garantismo penal e a criminalidade no Brasil. 3 ed. Porto Alegre: SV Editora, 2018, p.179
(4) DE SOUZA, Leonardo Giardin; PESSI, Diego. Bandidolatria e Democídio. Ensaios sobre garantismo penal e a criminalidade no Brasil. 3 ed. Porto Alegre: SV Editora, 2018, p.195
(5) https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/opiniao/policiofobia-1.1407244 (acesso em 13 jan.20)
(6) DE SOUZA, Leonardo Giardin; PESSI, Diego. Bandidolatria e Democídio. Ensaios sobre garantismo penal e a criminalidade no Brasil. 3 ed. Porto Alegre: SV Editora, 2018, p.47