Por que numa situação real o marginal não atira através de objetos ou barreiras intermediárias que jamais segurariam um projétil de arma de fogo? Como por exemplo uma prateleira ou uma parede de balcão.
Por que num confronto armado o marginal procura ver o seu alvo enquanto atira? Caso haja uma barreira intermediária entre eles, ele buscará traçar uma linha visual com o seu alvo.
Por que ele desconsidera atirar através da cobertura? As coberturas oferecem proteção visual, mas não protegem de “balas”.
Iluminando os Pontos Cegos
Eu ministro treinamentos de combate veicular desde 2013, por muito tempo busquei as respostas baseadas nas evidências científicas e dentro da ciência que estuda o comportamento humano. Isto envolve estudos de balística, psicologia cognitiva, neurociências, biomecânica, cinesiologia, fisiologia e outras disciplinas que iluminam os pontos cegos da instrução. Quando eu vejo pseudo-instrutores copiando drills de internet sem saber o “porquê” das técnicas, percebo que ainda temos que evoluir muito para chegarmos num patamar aceitável de instrução.
Por conta disso, eu criei um Curso de Instrutores de Combate Veicular, onde posso abordar cada detalhe das técnicas, táticas e protocolos que versam sobre o Combate Veicular. É por isso que somos a maior franquia de treinamentos do Brasil, pois elevamos o patamar das nossas instruções através da capacitação dos nossos instrutores e apresentamos a nossa metodologia de treinamento que é difundida em todo o país.
Armadilhas do nosso Cérebro
Nosso cérebro não foi preparado para lidar com o acaso e aleatoriedade, nosso processamento cognitivo é baseado em rotinas ou comportamentos inatos, isso vetoriza nossas ações para algo chamado “conforto cognitivo”. Menos processo mental, menos gasto de energia.
Existe um conceito conhecido como Vieses Cognitivos, são armadilhas cognitivas que o nosso cérebro cria em decorrência de alguns fatores como:
1) Compressão de tempo na tomada de decisão;
2) Excesso de informação;
3) Falha na recuperação da memória;
4) Pouca informação sobre o evento que está acontecendo.
Os Vieses são como aplicativos instalados no nosso cérebro que decorrem de Heurísticas, que são atalhos mentais para solução de problemas. Quando precisamos tomar uma decisão diante de um problema complexo, nosso cérebro busca uma resposta “pré-programada” baseada na economia de processamento mental. A utilização destas Heurísticas gera uma tendência sistemática chamada Vieses Cognitivos.
As Heurísticas ignoram parte da informação visando tomar uma decisão rápida e simples, reduzindo a carga cognitiva. Todos nós sofremos de algo chamado “Avareza Cognitiva”, isto significa que sempre buscamos economizar tempo e energia no cérebro(conforto cognitivo). Recursos como a Avareza Cognitiva nos permitiu evoluir e sobreviver como espécie, tornando o nosso comportamento mais adaptativo ao processo de sobrevivência, lembre-se que a nossa atividade cerebral consome cerca de 25% da nossa energia. Quanto mais automático o processamento cognitivo, menos energia gastamos.
Ilusões Mentais e Combate Veicular
Considere que toda tomada de decisão que gere Respostas Intuitivas leva em consideração nossas experiências anteriores e o nosso treinamento, neste caso se você já viu ou aprendeu, então pode executá-la em suas devidas proporções.
O viés da Fixação Funcional ocorre em decorrência do nosso cérebro possuir uma memória anterior sobre algo, então ele descarta uma informação nova, porque o cérebro usa o que tem disponível. A Fixação Funcional é um fenômeno psicológico causado pela forma como descrevemos um objeto, é uma dificuldade de enxergar a utilidade de um objeto além do convencional.
Quando você vê o para-brisas do carro, você sabe que ele segura a chuva, o vento , insetos ou qualquer coisa que possa te atingir. O para-brisas garante a sua segurança no interior do veículo, ele é uma barreira contra os eventos externos que acontecem fora do veículo. Neste caso, você acredita que o para-brisas pode “parar balas”, pois você nunca teve uma experiência anterior de atirar através do para-brisas ou da janela do veículo.
No caso da porta do veículo, sabemos que ela segura uma pedra, um animal ou te protege de uma colisão contra o carro, porém você nunca teve o feedback de disparos através da porta. Por conta disso, você acredita que a porta sendo uma barreira irá suportar disparos enquanto você atravessa o veículo buscando uma saída do outro lado (isto é tão estúpido quanto um chimpazé resolvendo um problema de algebra).
“Quando 100 pessoas afirmam uma besteira, ela não deixa de ser uma besteira por conta disso.”
Ensaios sobre chimpazés, pseudo-instrutores e NHS
Se ainda não ficou claro, pense no seu filho escondido atrás da cortina da sala. Ele acredita que está escondido e que você não consegue vê-lo. Isto acontece por que a cortina é uma barreira visual contra a luz ou olhares curiosos das pessoas fora da casa, logo seu filho associa que ficará invisível por conta da cortina ser uma barreira visual em decorrência do viés.
Tudo isso acontece porque você fixa a funcionalidade do objeto com base naquilo que tem de informação prévia baseada em experiências anteriores. Essa sabotagem acontece por que o seu cérebro está trabalhando com atalhos cognitivos em resposta às alterações fisiológicas ocasionadas pelo alto nível de estresse ou ansiedade, provocada pela resposta de luta ou fuga do seu Sistema Nervoso Simpático.
Interação com Barreiras
Este evento é chamado de Interação com Barreiras, esta interação é a forma como o nosso cérebro sabota nosso sistema de tomada de decisão nos levando a acreditar que vidros e portas podem ser locais seguros contra disparos diretos de projéteis e nos colocam em posições não protegidas ou mesmo nos levam a adotar protocolos como desembarcar atravessando o veículo enquanto ficamos na linha de ataque ou na trajetória dos disparos diretos numa emboscada lateral ao inveś de abrir a porta e desembarcar. Até mesmo a falsa sensação de segurança de responder fogo de dentro do veículo durante uma emboscada repentina, achar que não será atingido enquanto rompe fogo é ingenuidade.
Lembre-se que vidros e portas não param “balas”, eles não têm propriedade balística para segurar projéteis, portas são apenas anteparos que não resistem a projéteis de armas de fogo. Portas não param balas! Já atirei em mais portas de carros que posso me lembrar.
A primeira vez que ouvi este conceito de Interação com Barreiras foi de um grande amigo e instrutor Felipe Lessa (Médico e Operador da Força Aérea Brasileira).
“Algo que se origina de forma inconsciente a partir da distorção da percepção dos nossos sentidos em situações de estresse. Os efeitos desencadeados a partir da resposta do Sistema Simpático geram alterações fisiológicas, emocionais e perceptivas, desta forma o cérebro gera respostas baseadas na memória associativa. Quando em conflito com imagens como um vidro de carro, mesmo sabendo que se é capaz de romper aquela barreira, o cérebro estampa aquilo como uma barreira impenetrável quando fora do veículo. Esse evento se estende no caso das portas que aparentam manter uma proteção contra disparos, porém se mostram frágeis quando atingidas por disparos.”
Felipe Lessa
Como resolver este problema?
Existe uma Ilusão criada pelo nosso cérebro a respeito da nossa decisão por adotar locais que não ofereçam proteção balística, viés da Fixação Funcional. Isto sabota os nossos protocolos de combate veicular e torna a maior parte deles surreais e idiotas(usei esta palavra por falta de um termo técnico mais apropriado
Nosso treinamento precisa ser baseado na realidade e a realidade é permeada por evidências comprovadas com bases científicas. Entender o comportamento da munição e da estrutura veicular é importante, mas aprender como o cérebro funciona durante eventos de confrontos armados é primordial e inegociável!
O “pensamento defeituoso” leva a uma limitação ou erro que pode ser trágico quando falamos em defesa com armas de fogo, então a forma de vencer as falhas do sistema como os vieses, neste caso a Fixação Funcional, é aprender a mecânica por trás do problema e então dar uma nova interpretação ao conceito que envolve as propriedades balísticas dentro do contexto do combate veicular.
Agora você entende por que eu formo meus instrutores? Percebe por que os meus franqueados sabem tudo a respeito do tiro e a ciência por trás dele no VCQB®? Eles replicam a Metodologia da ESPERANDIO TACTICAL CONCEPT®, simples assim. Como em qualquer outro lugar você encontrará profissionais que vão falar o que você quer ouvir, coisas que economizam a sua capacidade intelectual e o seu pensamento reflexivo, o que o nosso cérebro quer é gastar menos energia. Não cai na cilada dos pseudo-instrutores que te vendem facilidades como na hora sai(NHS) ou faça simples de qualquer jeito. Sobreviver a um confronto armado vai além do “achismo”, envolve muita ciência, experiência e inteligência.
“Os fatos não deixam de existir só por que foram ignorados.”
Ensaios sobre chimpazés, pseudo-instrutores e NHS
Como fazer isso? Através de um treinamento sério, estudando, praticando e seguindo a Doutrina do VCQB® da ETC, não é por acaso que a ESPERANDIO TACTICAL CONCEPT® tem Doutrina e não apenas “dicas” de treinamento. Voltar para casa é o ponto fundamental do nosso treinamento e recebê-lo em nossas linhas é algo que vai além de meros disparos, mas focado no comprometimento com a realidade e efetividade naquilo que ensinamos.
Nos encontramos na linha!