Escolhendo o coldre
Por João Bosco Silvino Júnior
INTRODUÇÃO
Neste artigo vamos tratar de um fator crucial para que a arma seja portada da maneira mais discreta possível. Trata-se do tipo de coldre a ser utilizado. Na terceira parte do nosso artigo trataremos sobre as posições de porte, suas vantagens e desvantagens e como a posição de porte influência na dissimulabilidade da arma de fogo.
Antes de mais nada, algumas pessoas podem argumentar que o uso do coldre não é obrigatório e que frequentemente encontramos policiais que não os utilizam quando no porte velado. Isso é um fato, mas será que é tecnicamente correto?! O fato de muitas pessoas dirigirem sem o cinto de segurança não torna o uso do cinto opcional. O fato de muitas pessoas não realizarem a manutenção constante das suas armas não torna a manutenção algo opcional. A questão é que são tantas as vantagens de se utilizar um coldre que simplesmente não se justifica tecnicamente não o utilizar! Dentre essas vantagens podemos citar as seguintes:
- Maior conforto proporcionado pelo coldre;
- Proteção da arma contra o suor e a sujeira;
- Guarnecimento dos dispositivos (travas, reténs, etc);
- Manutenção da arma sempre na mesma posição;
- Maior facilidade de coldreamento;
- Melhor retenção da arma;
Ainda, um bom coldre pode dividir o peso da arma por dois ou até por três vezes, pois distribui a pressão por diversos pontos, aumentando o conforto e, consequentemente, melhorando a dissimulabilidade.
COLDRES INTERNOS X EXTERNOS
O primeiro fator a se observar em um coldre destinado ao porte dissimulado é a forma de uso. Podemos separar os coldres em dois tipos: coldres internos e coldres externos. Os coldres internos são utilizados por dentro da calça, presos ou não ao cinto, de maneira que a calça oculta grande parte ou até a totalidade do coldre. Já os coldres externos mantêm a arma fora da calça e, por este motivo, já demonstram não serem adequados para o porte velado. Alguns coldres externos são extremamente volumosos e, com isso, denunciam o seu uso mesmo com uma arma de dimensões menores! Outros, mesmo mais ajustados ao corpo, se utilizados com armas maiores, não impedem que a arma apareça caso a camisa do operador seja um pouco mais curta ou suba em virtude de um movimento simples, como erguer o braço para pegar algo que esteja acima da cabeça.
Desta forma, a primeira premissa para um bom coldre para o porte velado é que tal coldre seja de uso interno. Para quem pretende importar um, já que a oferta de bons coldres no Brasil é irrisória, esses coldres são chamados “inside the pants” nos EUA, significando nada mais que a tradução literal de “dentro das calças”. Poderá encontrar também a sigla IWB (Inside Waist Band) que significa dentro do cós da calça, do inglês.
TIPOS DE RETENÇÃO DE COLDRES
A retenção de um coldre é aquilo que faz com que a arma fique no coldre, dificultando que outra pessoa, que não o operador, consiga sacar a arma. Neste momento, faz-se importante apenas entender que essa retenção pode ser passiva ou ativa. Posteriormente, em outro artigo aprofundaremos um pouco mais a análise para os níveis de retenção de coldres.
Retenção passiva
Na retenção passiva o operador não precisa executar nenhuma ação além daquela necessária a sacar a arma, ou seja, é aquela que é vencida apenas pela força. A mais simples dela é o próprio atrito entre a arma e o coldre, ou seja, todo coldre tem pelo menos um nível de retenção passiva. Essa retenção passiva pode ser ajustada por meio de um parafuso em alguns modelos de coldres, de maneira que será necessária maior ou menor força para sacar a arma.
Retenção ativa
É aquela na qual o operador precisa realizar alguma ação adicional para sacar a arma, além da própria força. Essa ação pode ser retirar ou deslocar uma alça, apertar alguma tecla, soltar algum botão, etc. A retenção ativa, portanto, melhora a retenção da arma, impondo ao oponente a necessidade de saber qual é a ação necessária para conseguir sacar a arma. Nem todos os coldres apresentam mecanismo de retenção ativa.
Os coldres com retenção ativa são recomendados para uso ostensivo, justamente pela maior segurança proporcionada por eles. Já para o uso dissimulado não se mostram tão apropriados, uma vez que o operador já terá que executar uma ação, qual seja, safar a parte da roupa que cobre a arma, para possibilitar o saque. Sendo assim, entende-se que o fato da arma estar encoberta já é um elemento que auxilia na retenção da arma, tornando desnecessário impor mais uma ação para o saque.
MATERIAL DE FABRICAÇÃO
Quanto aos materiais, os mais empregados são o neoprene, o nylon, o couro e o kydex, podendo existir coldres com conjugações desses materiais. Vamos analisar cada um deles:
NEOPRENE
Os coldres de neoprene são baratos, se ajustam à diversas armas e são bastante confortáveis, por ser o neoprene um material macio, porém apresentam como desvantagens a dificuldade de sacar a arma pois comumente o coldre vem junto com ela, fazendo com que a operação de apresentação da arma seja dificultada.
Muitos desses coldres de neoprene possuem um clip metálico que se prende ao cinto ou ao cós da calça, visando impedir que o coldre saia juntamente com a arma, resolvendo o problema do saque, porém o coldreamento da arma é dificultado, obrigando o operador a retirar o coldre da cintura, coldrear a arma e inserir arma no coldre e inserir o coldre na cintura, operação que ocupa as duas mãos do atirador.
Complementando a lista de desvantagens, o neoprene não é impermeável e por isso não protege a arma do suor. O posicionamento da arma na posição desejada muitas vezes não é possível com o coldre de neoprene pois, por ser muito maleável, a arma se movimenta de acordo com a posição do operador e, com isso, pode sair da posição desejada e ir para uma posição desconfortável. Ainda, os coldres de neoprene não ajudam em nada em relação à retenção da arma no corpo.
Vantagens | Desvantagens |
Preço baixo | Pequena durabilidade |
Não protege a arma da umidade | |
Não mantém a arma na mesma posição | |
Pode sair junto com a arma, atrapalhando o saque | |
Demora no coldreamento | |
Não auxilia na retenção da arma |
NYLON
Os coldres de nylon são mais firmes que os de neoprene e também são baratos, porém apresentam a maioria das desvantagens já citadas para o neoprene. Por serem um pouco mais firmes, não são tão confortáveis mas por outro lado são mais eficientes em reter a arma na posição desejada. Há que se ter um cuidado especial com os coldres de nylon porque muitas vezes apresentam partes metálicas como botões ou ilhoses que podem danificar o acabamento da arma. Também se ajustam a diversas armas, porém o comprimento do coldre deve ser adequado ao modelo da arma pois é comum que a massa de mira da arma se agarre na parte inferior do coldre se este for muito curto, dificultando ou as vezes impossibilitando o saque.
Vantagens | Desvantagens |
Preço baixo | Não protege a arma da umidade |
Um pouco mais resistentes | Não mantém a arma na mesma posição |
Pode sair junto com a arma, atrapalhando o saque | |
Demora no coldreamento | |
Não auxilia na retenção da arma |
Couro
Os coldres de couro apresentam muitas vantagens em relação ao neoprene e ao nylon, uma vez que oferecem mais proteção ao suor, principalmente quando tratados com resina ou aplicação de óleo mineral, que impermeabilizam o couro; são mais eficientes em manter a arma na posição desejada e, dependendo do modelo, permitem o fácil coldreamento por serem dotados de uma alma de metal ou plástico que mantém a boca do coldre aberta mesmo sem a arma. Essa característica tem uma vantagem adicional porque impede que a calça do operador desça ou até mesmo caia, já que a tensão no cinto permanecerá a mesma.
Os coldres de nylon ou neoprene não apresentam essa característica. Muitos coldres de couro possuem um clip metálico ou de plástico ou mesmo uma lingueta de couro destinados a serem presos ao cinto para impedir que no saque o coldre saia junto com a arma. Convenhamos que isso é uma grande vantagem! Quanto ao conforto, por serem mais volumosos e rígidos que o neoprene, não são, em sua maioria e dependendo da posição de saque, tão confortáveis. Muitos coldres de couro são versáteis, podendo ser utilizados com diversos modelos de armas. Outros são moldados de acordo com o modelo da arma e trazem a vantagem de se adaptar as travas e saliências da arma, impedindo que interfiram no saque.
Vantagens* | Desvantagens |
Protegem melhor a arma | Custo elevado |
Mantém a arma sempre na mesma posição | Maior dificuldade em encontrar um coldre de boa qualidade nesse material |
Grande durabilidade | |
Facilitam o coldreamento |
Kydex
Antes restrito aos coldres externos, o polímero vem começando a ser empregado também em coldres internos, principalmente combinados com o couro, que é utilizado na região de contato com o corpo para proporcionar maior conforto. Tais coldres são também moldados de acordo com o modelo da arma e também são muito eficientes em proteger a arma pois são impermeáveis. Por serem rígidos, também mantém a tensão do cinto e impedem que a calça caia quando a arma é sacada e facilitam o coldreamento.
Vantagens | Desvantagens |
Protegem melhor a arma | Custo elevado |
Mantém a arma sempre na mesma posição | |
Grande durabilidade | |
Facilitam o coldreamento | |
Grande disponibilidade no mercado nacional |
Alguns modelos de coldres de kydex contam com uma aba ou aleta destinada a forçar a coronha da arma mais para perto do corpo, melhorando a dissimulabilidade (Figura 9).
Outra grande vantagem do kydex é a grande variedade de coldres disponíveis. Atualmente é possível também encontrar coldres com um porta-carregador acoplado, apelidado de sidecar, por lembrar aquele carro acoplado à motocicletas, muitas vezes retratados em filmes que remetem à segunda metade do século passado. A vantagem desse coldre é justamente já disponibilizar um local para o carregador próximo à arma, em uma única plataforma.
Muito além do coldre
Ao portar a arma de maneira velada o operador deve ter a consciência de que alguns elementos do seu guarda-roupas terão que ser condicionados visando o uso da arma. Quanto ao cinto, item obrigatório, recomenda-se que tenha a sua fivela presa por rebites e não por costura simples, que costuma se romper com o uso contínuo da arma, em função do seu peso. Cintos com fivela presa por pressão, tipo “jacaré”, são totalmente contra-indicados. O tipo de fivela também deve ser observado pois as vezes ela pode ceder com o peso da arma.
As calças e bermudas devem ser compradas com tamanho pelo menos um número acima do utilizado, pois há que se lembrar que a arma vai ser usada por dentro da calça. As camisas devem ser também mais folgadas e mais compridas para ocultar o volume na cintura. Obviamente recomenda-se não utilizar a camisa para dentro da calça, a menos que o operador esteja usando um terno ou paletó. Independentemente da forma, é sempre importante treinar o saque tanto com uma mão quanto com duas, dando mais preferência à primeira opção. Quanto aos piques e furos na camisa, comumente decorrentes do uso da arma, se alguém encontrar uma solução para isso, por favor me avise!