Texto de autoria de Edimar Moraes , agente da Polícia Federal, atualmente lotado no Grupo de Pronta Intervenção da Policia Federal em Minas Gerais (GPI/MG). Anteriormente fui lotado no Comando de Operações Táticas (COT), onde integrei o Setor de Atiradores de Precisão. Sou instrutor de tiro e coautor do livro Tiro de Combate – Pistola.
Presas Afiadas
Todo profissional, ao sair de sua casa para encarar mais um dia de trabalho, espera e deseja tão somente cumprir com suas obrigações e, ao final da jornada, retornar para seu lar a fim de gozar do merecido repouso. Um policial, porém, por conta das características próprias de sua atividade, pode se ver lançado, de um momento para outro, em uma luta pela sobrevivência na qual poderá contar, para sagrar-se vencedor, somente com suas habilidades e com a capacidade de manusear e empregar adequadamente sua arma de fogo.
Vários são os relatos de colegas que, ao executarem tarefas habituais ou mesmo durante seus períodos de folga, foram obrigados a empregar suas pistolas com o objetivo de preservar a própria vida ou a de terceiros. Porém, mais comuns ainda são os casos de policiais que pouco ou nunca praticam aquelas habilidades que, em uma situação de combate, podem representar a diferença entre a vida e a morte.
Muitas são as razões que costumam ser apresentadas para tal atitude relapsa. Falta de tempo, excesso de trabalho, falta de apoio da instituição, inexistência de um local adequado para a prática do tiro, indisponibilidade de munição e de instrutores para a realização de treinamentos, custo excessivo para a realização de treinamentos em escolas de tiro particulares, dentre outras. Alguns desses motivos são válidos, outros são falaciosos, meras desculpas. Porém, nenhum desses argumentos, falsos ou verdadeiros, substitui o fato que, no fim das contas, o maior interessado em manter-se preparado para um combate letal é o próprio policial, uma vez este e as pessoas que o amam serão os que sofrerão de forma mais severa as consequências de uma derrota.
O dia de um policial pode ser apenas mais um dia comum, de trabalho ou de folga, que transcorre sem grandes imprevistos. Ou pode ser o dia em que toda a sua capacidade física, mental e técnica será provada ao extremo em uma situação de combate. Nesses casos, a vida do policial e a de pessoas inocentes estará em jogo e a habilidade desse policial ao empregar sua arma de fogo será crucial para a sua sobrevivência. O policial é o maior interessado em sua própria sobrevivência, dessa forma, também é o principal responsável pela aquisição e manutenção das habilidades que podem salvar sua vida em uma situação de combate.
Muitos são os métodos de treinamento disponíveis para alguém que deseja aprender a empregar de forma eficiente sua arma de fogo na defesa própria ou de terceiros. Alguns desses métodos demandam pouco ou nenhum gasto financeiro e alguns minutos de prática diária podem fazer uma grande diferença. “Tiro em seco” e “tiro com armas de airsoft” são apenas algumas das formas de praticar o tiro com armas de fogo de forma econômica e que apresentam comprovada eficiência.
Ademais, simples exercícios mentais podem se mostrar úteis na avaliação e eventual adequação de comportamentos a fim de que o policial se torne mais eficiente em combate. Dedicar alguns segundos à análise de nossas atitudes diárias pode auxiliar na descoberta de certos hábitos que devem ser mudados e que, uma vez alterados, podem fornecer uma vantagem que se mostre decisiva em combate. Por exemplo, avaliar se o local onde a arma é portada é adequado à realização de um saque rápido ou se as roupas que usamos permitem o porte do armamento de forma dissimulada pode levar o indivíduo a rever seus hábitos e passar a usar roupas que ocultem melhor seu armamento ao mesmo tempo em que permitem sacar a arma de forma rápida e eficaz. Ainda, pensar sobre o local onde a pistola é deixada quando o policial está em sua casa e quando se deita para dormir pode levar a uma reflexão sobre o tempo que levaria para alcançar essa arma no caso de ter sua casa invadida. Tal exercício mental, por mais simples que seja, eventualmente levará a uma adequação do local onde o armamento é deixado.
Um policial, a qualquer momento, pode se ver forçado a utilizar seu armamento, ou para cumprir seu dever ou para salvar sua vida. Dessa forma, é responsabilidade dele manter-se perpetuamente pronto para o combate e alerta. O aprendizado e a prática de técnicas eficientes de emprego de armas de fogo, o condicionamento físico e mental e a adoção de comportamentos que aumentem a capacidade de fornecer uma resposta rápida e eficaz a qualquer ameaça que se apresente são práticas que podem salvar a vida de um policial. Portanto, cabe a ele adotá-las. Quando negligenciamos nossa preparação para o combate, corremos o risco de pagar um preço que é simplesmente alto demais.
O cão pastor deve manter suas presas afiadas, pois, algum dia, pode ter que lutar contra o lobo.
Aprenda, pratique e vença!