STOPPING POWER
Não é de ontem que muito instrutores de armamento e tiro vêm mostrando que o Stopping Power e o estudo de Marschall e Sanow estão sendo superados por novos estudos. Se esses autores tinham como critério para o estudo “a vítima, quando atingida, entra em colapso antes de fazer algum disparo ou expressar uma outra reação de ataque ou fuga; a vítima/oponente, quando atingido, não poderia se deslocar mais do que três metros antes de entrar em colapso” para determinar a efetividade de uma determinada configuração de munição, os estudos recentes utilizam outros critérios, a capacidade de penetração do projétil, o diâmetro produzido por sua lesão e o ponto de impacto do tiro, para verificar a possibilidade da incapacitação física do indivíduo. Nem vou entrar no mérito da incapacitação psicológica, pois foge da proposta desse artigo.
Atualmente, você encontra pós-graduação e vasto material tratando sobre o tema, bem como diversos cursos de APH de combate que abordam com muita propriedade essa dinâmica. Você também vai encontrar cursos on-line sobre o tema, inclusive dentro da Comunidade InfoArmas, com o professor João Bosco. Por isso, não vou me estender nesse tema.
Pegando o gancho do Triângulo da Incapacitação citado acima, você pode perceber que dois fatores estão ligados à escolha da configuração arma-munição que você vai utilizar. O terceiro elemento está ligado ao ponto de impacto do seu tiro, e é nisso que vamos nos debruçar nesse momento, a LOCALIZAÇÃO.
O ponto de impacto do seu tiro é o resultado direto da sua habilidade de operação do armamento sob determinadas condições, que podem variar conforme o contexto em que você está aplicando esse tiro. Essa habilidade varia conforme a quantidade e a qualidade do seu treinamento. Nessa linha, vamos entrar no aspecto qualidade, que está ligado à forma como você treina e qual é o feedback que você recebe sobre a sua performance.
QUADRO DE ANÁLISE DE TIRO
Aqui vou te mostrar porque o Quadro de Análise de Tiro só pode te ajudar em um contexto específico. Para isso, precisamos fazer o resgate da história desse quadro.
Esse quadro é mundialmente explorado, onde empresas de treinamento e de produção de alvos utilizam a imagem original e adaptadas para ajudar os atiradores a entender que erro eles estão cometendo quando agrupam seus tiros em uma determinada zona do alvo.
O problema começa aí, existem versões diferentes com a mesma proposta, por vezes divergentes, em alguns casos até trazendo mais de uma causa para a concentração do tiro em determinada zona do alvo. Se cada quadro de análise de tiro diz uma coisa ou traz diversas causas para esse agrupamento, qual deles está falando a verdade?
Essa confusão acontece porque o quadro é limitado para essa análise. E eu vou te explicar o por quê!
ORIGEM DO QUADRO
O Quadro de Análise de Tiro de Arma Curta chegou no Brasil através do Coronel Hugo de Sá Campello Filho, então presidente da CBTA, sendo traduzido pelo atirador Paulo Sergio Carvalhaes e Souza, com quem tive o enorme prazer de conversar a respeito, para publicação na primeira edição da revista O TIRO em Setembro de 1977, da Confederação Brasileira de Tiro ao Alvo.
Esse quadro foi republicado décadas depois com adaptações e alguma alteração do texto em um artigo do senhor Eduardo Ferreira, recordista e campeão brasileiro de armas longas da CBTE e das Forças armadas.
Recentemente, o mesmo quadro foi publicado com mais alterações na Síntese de Temas para Avaliação de Capacidade Técnica, da Comissão Nacional de Credenciamento de Instrutor de Armamento e Tiro – CONAT, como material de apoio para o candidato que deseja se credenciar como IAT na Polícia Federal.
Em uma demorada pesquisa, consegui encontrar o dono da obra intelectual. O Quadro de Análise de Tiro tem o nome original Pistol Analisys Chart – Operations Manual, e foi registrado em 5 de maio de 1975 por Joseph L. Rizzo, logo depois da estreia nos cinemas de Um Dia de Cão, com Al Pacino, mas antes da série CHIPS estrear na TV.
Contexto de uso do quadro
Esse quadro foi desenvolvido para a modalidade Tiro ao Alvo, uma modalidade bastante praticada naquele tempo. No Tiro ao Alvo, o atirador destro se posiciona de lado para o alvo, empunhando a arma com a mão direita e a outra fica na região da cintura. Quanto mais mudamos esse contexto de tiro, menos o quadro é aplicável. Provavelmente esse seja o motivo pelo qual surgiram novas propostas de quadro de análise.
Como o senhor Eduardo Ferreira diz,
“[…] ainda hoje pode ser útil na aprendizagem dos atiradores iniciantes e juniores sobre fundamentos técnicos, onde o autor apresenta um quadro elucidativo, analisando os diversos tipos de grupamentos, causados por falhas diversas, e a maneira correta de corrigí-las (sic)”.
Para quem está iniciando no tiro, esse quadro é bastante útil, pois apresenta alguns erros que os atiradores podem cometer.
Compare as três versões existentes, da revista O TIRO, de Eduardo Ferreira e da CONAT/PF, e note como o original foi sofrendo modificações ao longo do tempo.
Faça uma leitura crítica, compare com a sua realidade e verifique quanto isso é aplicável ao contexto do seu tiro.
Revista O TIRO: https://www.fmte.com.br/intranet/images/revista/01_1977_09.pdf
Artigo de Eduardo Ferreira: http://www.tiroflu.com/bau/001_quadro_de_analise_armas_curtas.htm
Síntese de Temas para Avaliação de Capacidade Técnica da CONAT/PF: https://www.gov.br/pf/pt-br/assuntos/armas/instrutores-de-armamento-e-tiro/orientacao-para-credenciamento/sintese-de-temas-para-avaliacao-de-capacidade-tecnica-30-12-2020.pdf
Para onde você deve olhar para identificar a falha do atirador?
A resposta certa é O ATIRADOR. É para ele que o instrutor deverá voltar sua atenção com olhar muito atento. Se você não é um instrutor, você pode filmar para fazer essa identificação da falha.
Como você deve analisar o alvo?
Você deverá definir uma zona-alvo onde deverá agrupar seus tiros conforme o contexto do tiro que está aplicando. Essa zona pode variar de tamanho conforme o nível de dificuldade, distância, movimento, velocidade da série de tiros, etc.
Com essa zona-alvo definida, você vai analisar os impacto quanto a dois aspectos: Exatidão e Precisão.
Na análise de Precisão, você vai verificar o quanto você consegue agrupar seus tiros, independente da região do alvo que atingiu. Essa deve ser a sua primeira grande meta… AGRUPAR OS IMPACTOS! A Precisão indica consistência da habilidade sob certo contexto de tiro.
Na análise da Exatidão, você vai verificar o quanto esse agrupamento está afastado do centro do alvo. Após conseguir agrupar os tiros, você vai passar a analisar porque os tiros estão fugindo do centro.
Importante: O agrupamento de tiro fora da região central tem uma ou mais causas concorrentes. Um agrupamento no centro pode ser o resultado de dois erros cometidos que se anulam, como por exemplo a visada alta com a torção do pulso (já vi acontecer).
Se você quiser saber mais, leia os artigos abaixo:
https://infoarmas.com.br/fundamento-visada-na-pratica/
https://infoarmas.com.br/dica-de-ouro-para-nao-erra-o-tiro/
https://infoarmas.com.br/correcao-de-tiro/
Para maiores esclarecimentos, você pode me encontrar no Instagram https://www.instagram.com/falconi.iat/
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