Na semana passada a Industria Brasileira de Munições Inbramun começou a comercializar suas pólvoras para os clubes de caça e tiro. No momento a comercialização para CACs está suspensa devido ao decreto 11366/23. Como temos parceria com vários clubes conseguimos com um deles o agendamento para fazermos os testes dessa novidade.
A Inbramun comercializa hoje dois tipos propelente, a sua pólvora comum para calibres de baixa velocidade e base simples, além da versão Viper, também para uso em calibres de baixa velocidade, mas que proporciona uma maior velocidade de queima do propelente.
Dos testes
Para a realização dos testes foram feitas 50 munições de teste, utilizando 4,3 grains de pólvora em 40 munições. 4,0 grains em 5 munições e 5 munições com 4,5 grains. As medições tem 0,05 grain de precisão e para isso foi utilizado a balança de precisão da Lyman Compact Gen 6.
Com a mesma balança foram auferidos os pesos de todas os projeteis. Buscando a maior padronização possível, foram usados projeteis encamisados com ponta oca da CBC de 115 grains, foram auferidos assim os pesos de cada um e separados com 0.1 grains de diferença.
Foram assim utilizados projéteis com 115.3, 115.4, 115.5 e 115.6 grains, com todos os dados tabelados por disparo e carga.
Foi utilizada uma prensa de recarga Lyman All American 8 e o jogo de 3 Dies da Lee. Todas as munições foram medidas com paquímetro e todas as 50 tinham exatos 27,6 mm de comprimento total.
As velocidades dos projéteis disparados foram medidas por um cronógrafo Radar da LabRadar e a pista utilizada indoor foi do clube Dark Jack em Blumenau com 25 metros de comprimento.
As armas utilizadas no teste foram: Glock 19 Gen5 Mos, Taurus G2C, Ruger EC9S e a CZ Scorpion Evo3. Aqui cabe ressaltar que nenhuma das armas tinha modificações em seus canos ou mecanismos de disparo.
Dos dados coletados
Abaixo segue a tabela com todos os dados brutos, é possível ver que nem todos os disparos estão listados, infelizmente o radar não captou todos os disparos devido a interferência de outros atiradores nas pistas laterais ao teste. Além disso eliminamos medições que havia dúvida quanto a integralidade dos dados, quando alguém disparava na pista ao lado, muitas vezes tínhamos medições do disparo ou fragmentos, então se havia dúvidas, eliminamos os dados para não contaminar a amostra. Todos os valores de velocidade são em pés por segundo.
Teste 1 – 4,3 grains – projétil 115,3 grains
Disparos com a Glock G19 Gen5: 879, 883, 921, 899
Média: 895 pés por segundo
Teste 2 – 4,3 grains – projétil 115,5 grains
Disparos com a Glock G19 Gen5: 941, 913, 904,897
Média: 913,75 pés por segundo
Disparos Scorpion Evo3 S1: 1058, 1047, 948, 1003, 1053
Média: 1021,8 pés por segundo
Disparos Ruger EC9S: 929, 914, 838, 885 e 908
Média: 894,8 pés por segundo.
Teste 3 – 4,5 grains de propelente – projétil 115,5
Disparos Glock 19 Gen5 – 887, 949, 943, 903, 890
Média: 914,4 pés por segundo.
Teste 4 – 4,0 grains de propelente – Projétil 115,1
Disparos Glock 19 Gen 5 – 862, 834, 867, 781
Média: 836 pés por segundo.
Teste 5 – 4,3 grains de propelente – projétil 115,4 grains
Disparos Glock 19 Gen5 – 910, 914, 863, 874, 919
Média: 896 pés por segundo.
Disparos CZ Scorpion Evo 3 – 1043, 974, 1035, 998
Média: 1012,5 pés por segundo.
Teste 6 – 4,3 grains de pólvora – Projétil 115,6 grains
Disparos G19 Gen5 – 882, 915, 904, 886, 893
Média: 896 pés por segundo.
Disparos G2C – 845, 874, 864, 855, 830
Média: 853,6 pés por segundo.
Panes
A quantidade de 4,3 Grains foi escolhida como quantidade segura, baseado em dados fornecidos pelo fabricante. Essa carga não foi suficiente para o ciclo perfeito da Glock G19 Gen5. A carga de 4,5 grains também não, mas já era suficiente para ejetar o estojo. O objetivo desse teste não era estabelecer tabela de recarga e nem ver se a arma realmente funcionaria ou não, o objetivo era ver a estabilidade e resultados de velocidade levando em consideração a carga utilizada. Suspeito que com 4,8 a 5 grains não será problema a ciclagem das munições na Glock, pontas mais pesadas também auxiliariam nesse funcionamento. Isso será alvo de outros testes.
Devo ressaltar que as outras armas, incluindo a CZ Scorpion Evo 3 não tiveram problema algum para ciclar e inclusive todas as outras armas pararam abertas ao final dos carregadores. Ou seja, o caso era do funcionamento estava muito mais relacionado a arma e a necessidade dela de uma carga ou projétil maior, do que com o propelente em si.
Observação sobre limpeza das armas
Um ponto que surpreendeu sobre a pólvora da Inbramun foi a limpeza do armamento. Mesmo que 50 disparos sejam pouco para visualizar o efeito sobre os equipamentos, ainda assim é surpreendente que o estado inicial e final de todos os armamentos seja basicamente os mesmos. Acredito que isso se dá ao fato deste propelente ter sido pensado para o momento atual, onde a venda se restringe a clubes. Assim a queima mais limpa proporciona menos manutenção dos equipamentos aos clubes. Essa teoria ainda precisa ser confirmada com mais testes e em consulta com o Fabricante, mas um indicio que isso provavelmente é o caso foi os estojos, que permaneceram relativamente limpos após os disparos.
Os próximos testes serão com quantidades maiores de munições, fazendo a recarga na Dillon XL750 que apresenta uma precisão menor, mas uma quantidade de munições bem maior. Nessas será possível realmente ver se essa limpeza se confirma ou não nos equipamentos.
Devido a questão atual, provavelmente teremos que esperar um pouco para realizar esse teste com mais volume de munições.
Resultados:
A pólvora da Inbramun se mostrou uma opção bem interessante nesse momento de limitação de insumos no mercado. A densidade do propelente é menor do que suas concorrentes o que faz com que cargas de 4,5 grains deixem o estojo bem cheio, mas isso para quem está começando é algo até bom, evita que a pessoa faça uma carga dupla por exemplo. Não ouve sinais de pressão excessiva nos estojos encontrados também, o que indica que temos uma margem de trabalho nas recargas ainda.
Não temos compilado os dados de cargas semelhantes de outros propelentes, o que iremos providenciar assim que forem mudadas as normativas atuais para a compra de insumos.
O que particularmente me deixa feliz com esse teste é ver uma maior concorrência no mercado nacional. Com o passar do tempo esta concorrência trará aos consumidores produtos de maior qualidade e maior variedade. É correto na minha visão que empresas foquem neste momento no lançamento de produtos voltados ao que está podendo ser comercializado, ou seja, propelentes para clubes que buscam um custo por tiro menor e maior limpeza na queima.
Não sabemos os preços que serão comercializados os propelentes da Inbramun, os valores atuais são pra lojistas e clubes e não conseguimos levantar essa informação com precisão. Alguns lojistas reportaram um valor mais alto do que da CBC, mas com diferença pequena no valor por recarga. Aguardaremos para informar os valores quando tivermos acesso a uma tabela voltada aos CACs, assim ficando mais realista a comparação.