Texto de Ricardo Henrique Silva Maia
Investigador da Polícia Civil de Minas Gerais e Instrutor de armamento e tiro
Adquirir uma arma de fogo atualmente está mais fácil do que há 05 anos atrás. Mas será que o portador da arma, ou operador, sabe manuseá-la com domínio e eficiência necessárias em caso de uso real? Difícil responder. Com a aquisição de armas de fogo mais fácil, houve também uma maior procura das pessoas por clubes de tiro, mas ainda assim nem todos conseguem ir a um clube ou ser sócio de um para poder frequentá-lo com assiduidade. Isso acontece por exemplo em cidades do interior.
Uma solução viável e que permite ao operador estar em constante contato com sua arma de fogo é o treino a seco, tipo de treino que o operador consegue fazer em casa utilizando sua arma de fogo e acessórios (coldre, porta carregadores, carregadores), não sendo possível somente o disparo real, porém, levando em conta que o disparo é consequência dos fundamentos do tiro bem feitos, o treino a seco se mostra eficiente também neste caso. No treino a seco é possível que o operador trabalhe desde a empunhadura da sua arma até o coldreamento após o “disparo”.
Para uma boa empunhadura, não há nada a se fazer com exceção da prática. Ler artigos e ver vídeos ajudam dando uma noção de como é feito, mas as dificuldades e facilidades só serão percebidas pelo operador na prática, sendo o treino a seco um caminho favorável na obtenção de uma melhor empunhadura. Realizando-se repetições de saques da posição velada/ostensiva utilizando empunhadura simples/dupla o operador consegue adquirir firmeza com a arma, bem como domínio da melhor técnica.
Na sequência, após trabalhar a empunhadura, o operador pode treinar o saque da arma, desde a análise do movimento em frente ao espelho até a imaginação de situações reais onde ele precisa sacar sua arma de forma dissimulada ou mais agressiva. De acordo com o nível do operador, pode-se incluir movimentações laterais e contorno de obstáculos feitos com os próprios móveis da casa, tais como cadeiras e mesas.
Do saque, parte-se para o “disparo”, que aliado a administração do recuo, não podem ser treinados nesta modalidade por motivos óbvios, porém aproveitando a simulação do disparo, o operador consegue trabalhar a solução de panes, vez que esta capacidade exige apenas que o operador desenvolva afinidade com o armamento para promover sua movimentação de forma rápida, podendo ser feito até mesmo com a arma vazia (existem munições de treino/manejo que também podem ser utilizadas). É possível trabalhar panes que ocorrem no primeiro disparo como “nega”, carregador mal- encaixado, falha no trancamento da arma e chaminé até as falhas que ocorrem nos disparos seguintes, como a falha de extração ou chamada também de dupla alimentação.
Um componente também que pode ser adicionado ao treino é a simulação de cenários. Chamo a atenção do leitor aqui para não se sentir preso ás situações trabalhadas em estandes abertos, mas para se atentar as situações reais que ocorrem em sua cidade ou meio em que vive, pois o treino mais eficiente é aquele em que você consegue criar situações e se analisar frente a elas. Aqui a análise de vídeos pode ser útil, pois com o estudo de caso, o operador pode conhecer as artimanhas dos criminosos e acrescentá-las ao treino. Neste aspecto, dependendo do conhecimento do operador, ele pode usar
também seu veículo e simular situações de assalto em semáforos, na chegada/saída de casa e outras que achar prudente. O importante é trazer para o treino a situação que o operador encontra onde vive ou trabalha. Essa é a etapa final do treino a seco, onde o operador usará toda a prática adquirida nos fundamentos acima mencionados.
Não menos importante são os acessórios que estão disponíveis ao operador que esteja disposto a adquirir, indo desde blue guns, (réplicas de armas de fogo em tamanho real, porém sem peças móveis) até munições de treino/manejo, conhecidas como snap caps: réplicas de uma munição real porém que não disparam, ideais para o trabalho com solução de panes. Um pouco mais avançado é o aplicativo de celular “I Target”, onde o operador conta com o auxílio do smart phone para verificar e analisar a precisão com que seus tiros atingem o alvo.
Concluindo, não é preciso muito para que o operador de arma de fogo se mantenha condicionado e apto a utilizá-la em caso de necessidade. Dominando todos esses aspectos, com certeza o tiro será preciso e o operador terá mais chances de vencer o combate, pois vence aquele que está mais preparado. Dificuldades de acesso a um local próprio e tempo sempre vão existir, porém cabe ao operador criar soluções alternativas para driblar as dificuldades e manter sua qualificação cada dia melhor.
Mantenha-se ativo e a salvo. Treinar sempre.