Considerações Iniciais
Um dos primeiros artigos que tive a honra de escrever como colunista do INFOARMAS foi intitulado: “A modernização do combate e a evolução das técnicas de tiro”. O artigo teve justamente o objetivo de contemplar os leitores com informações relevantes sobre os motivos que levaram à evolução das técnicas de tiro, principalmente para conjuntura atual dos confrontos armados em centros urbanos.
Os leitores mais assíduos ao portal já devem ter observados outros excelentes artigos, de magníficos profissionais, que abordam temas correlatos e que por diversas vezes convergem para o esclarecimento da necessidade de um treinamento mais dinâmico, específico e funcional, por parte de operadores de armas de fogo.
Os artigos escritos por mim e por diversos outros autores, não são opiniões individuais ou meros achismos, são frutos de longos trabalhos e pesquisas desenvolvidas, com fulcro em estudos e laboratórios de diversos ramos do seguimento tático, policial, operacional e científico. Desses ensinamentos poderemos perceber que o conhecimento pode salvar vidas.
A relevância do conhecimento
Em 6 (seis) meses de portal INFOARMAS todos aprendemos sobre balística, legítima defesa, autoproteção, técnicas de combate, fundamentos de tiro, técnicas de treinamentos, APH tático, dentre outros assuntos de extrema relevância para o operador de armas de fogo.
Cada informação recebida, em treinamentos e por intermédio de fontes confiáveis, como por exemplo dos autores do INFOARMAS, assume a posição de mais uma “ferramenta” para o cabedal de “instrumentos” que precisamos ter, em pronto emprego, para utilizarmos no caso de entrarmos em um indesejável confronto armado.
O confronto armado, em sua essência, é violento, sangrento e desgastante. Não ocorre como vemos em filmes e muito menos quando simplesmente esperamos que aconteça. Muitas vezes entraremos em um confronto armado quando a situação parecia já estar sob controle e já convergia para algo com menor intensidade. Outras vezes visualizaremos um embate e estaremos prontos para o confronto, mas ele não ocorrerá.
O fato é que quase nunca poderemos controlar todas as situações embaraçosas, prever ou decidir para aonde se direcionará os fatos, muito menos como terminarão. Isso tudo poque situações críticas poderão tornarem-se negociáveis, contidas pela imobilização/detenção dos envolvidos ou mesmo evoluir para extrema violência, gerando, nessa hipótese, ferimentos ou até a morte de alguns ou todos os envolvidos.
A única maneira de evitarmos sermos vítimas, como operadores de armas, de tais circunstâncias, será, além de termos as “ferramentas” necessárias ao combate, estarmos em condições de empregarmos uma pronta resposta defensiva e proporcional a investida que sofremos. Para isso deveremos usar as nossas habilidades com a violência necessária para vencermos o combate.
No entanto a obtenção das técnicas (ferramentas) adequadas para o emprego em combates vigorosos não ocorrerá de uma hora para outra, muito menos sendo realizados treinamentos esporádicos ou estritamente esportivos em alguns finais de semana.
As “ferramentas” devem também serem adquiridas de maneira vigorosa, por meio de treinamentos sérios, realísticos, funcionais, gradativos e constantes. Faça uma pergunta a você mesmo se os seus treinos possuem esses 5 (cinco) elementos e se eles te levam ao extremo na capacidade de agir em um confronto real.
Respostas adequadas
Nesse espectro, os treinamentos mais avançados e mais funcionais devem contemplar uma plataforma de elementos que se ajustem a própria capacidade de seu executante. Entretanto, cada etapa deve levá-lo a um outro patamar de experiências que faça com que o mesmo saia da zona de conforto e passe a conhecer melhor os seus limites e as suas dificuldades. A esse tipo de treinamento estabelecemos o nome de Respostas Defensivas Não Ortodoxas (RDNO), pois o seu objetivo é elevar o conhecimento do operador para:
- responder de forma proativa, ou mesmo se antecipar ao confronto, pela leitura de ambientes e correta ativação dos níveis de alerta;
- utilizando técnicas defensivas, ou seja, o operador sempre agirá, mesmo que se antecipe, dentro do seu direito de autodefesa, no intuito de garantir a sua integridade ou/e de terceiros; e
- agindo da maneira que for necessária, convencionalmente ou não convencional (não ortodoxo), se desapegando de conceitos tradicionais de técnicas de tiro (como atirar parado, fechando os dois olhos, realizando apenas dois disparos para cada alvo e buscando a precisão como fator fundamental para o sucesso, por exemplo).
Para isso será preciso que o operador se conecte totalmente ao treinamento, sendo a base dos protocolos do programa RDNO lastreado nos seguintes elementos:
- Equilíbrio dos Vetores do Tiro de Autoproteção – O operador deve buscar sempre o equilíbrio nos vetores do tiro de autoproteção (Procedimento, Precisão e Segurança) , ou seja, deve se manter em condições de atirar preciso, aplicar corretamente os procedimentos e manter-se em segurança com sua arma, sem comprometer a sua integridade ou de terceiros inocentes.
- Controle emocional e do estresse – O ser humano, ao entrar em enfrentamento, sofrerá os efeitos da fisiologia do combate que somente serão entendidos e evitados com a correta preparação para o confronto. O estresse que é gerado pode e deve ser trabalhado, mesmo antes de se combater. Em uma situação real de enfrentamento, os níveis de adrenalina do atirador estarão altíssimos, produzindo, consequentemente, um conjunto de reações físicas e orgânicas, que será de extrema importância o atirador conhecer antes de entrar em combate, e aprender a desenvolver estratégias pessoais de controle destas reações, vindo a desenvolver a autoconfiança.
- Estado de prontidão – O plano de treinamento deverá ser sistematizado, de modo que o atirador que o realiza, deverá estar no mesmo nível de ativação e de alerta que se encontraria se a situação fosse verdadeira, sendo necessário, para isso, uma predisposição mental muito grande e uma alta concentração nas atividades a serem desenvolvidas.
Conclusão
Em situações reais de enfrentamento, a complexidade das ações exigirá que existam treinamentos padronizados para exatamente não complicar coisas simples, portanto, descomplicar atividades complexas. Os procedimentos padronizados deverão ser treinados até a exaustão e com tarefas simples que se complementem, mas que possam evoluir para outros procedimentos.
É importante que o atirador esteja consciente de que o resultado a obter em um confronto armado estará diretamente relacionado com o seu método de treinamento, por isso nos protocolos RDNO o treinamento é realístico, forte e gradativo, ou seja, o atirador deverá desenvolver tarefas com dificuldades crescentes que o levem finalmente a um cenário próximo do combate propriamente dito, vindo a saber utilizar corretamente as táticas, técnicas e procedimentos necessários.
Os protocolos estabelecem sempre um conjunto de respostas condicionadas, às quais o operador possa recorrer com garantia de sucesso. São treinados diversos tipos de saques da arma, tiro em alvos móveis, tiro em múltiplas ameaças, saneamento de panes, procedimentos em abrigos, comunicação em confronto, dentre outros protocolos que se complementam.
Também se exige nos protocolos aspectos relacionados à condição física, pois quanto melhor o preparo físico, menores serão os efeitos sofridos pelo corpo durante um confronto armado, sendo que desta forma o corpo resistirá melhor ao rápido aumento do nível de adrenalina e aos efeitos da fadiga, que naturalmente seguirão durante o combate.
Por fim, em uma situação real não há lugar para discussões mentais. Os procedimentos deverão estar automatizados e a atenção e concentração voltadas para o que acontece em volta do operador, minimizando assim os riscos iminentes. No confronto, não há lugar para dificuldade de tomada de decisões críticas e para falta de habilidades.
Assim sendo, busque a sua resposta melhor resposta defensiva, mas que lhe faça voltar vivo para casa. Para isso seja vigoroso e use toda a sua energia . Valerá a pena
Para saber mais sobre o protocolo Respostas Defensivas Não Otodoxas http://www.impactustactical.com.br/Cursos/Respostas-Defensivas-Nao-Ortodoxas.html