Foto do Curso de Retenção e Táticas com Lamina
“Um homem morreu após ser atacado com golpes de faca na noite de sábado (28), no Bairro Conventos, em Lajeado. Conforme boletim de ocorrência, a briga começou em um bar durante jogo de cartas. O acusado, de 28 anos, saiu e retornou armado com uma faca, atingindo Dioni Peterson Vargas da Silva (38), que morreu no local. O autor foi imobilizado até a chegada da Brigada Militar, que o encaminhou até a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA). Após, ele foi levado ao presídio.”
“Mulher mata homem com um golpe de faca após discussão no centro de Florianópolis”
“Um homem que circulava pela região e um guardador de carros se desentenderam e partiram para a briga. Pessoas que passavam pelo local agiram rapidamente e conseguiram separar os dois. No entanto, a confusão não parou por aí. O guardador de carros pegou uma faca que estava em sua mochila e partiu para cima do outro homem, que ainda o xingava. Felizmente, ele foi atingido apenas nas mãos.”
“É a teoria que decide o que podemos observar.”
Albert Einstein
Esses são apenas alguns de centenas casos de agressões com faca que acontece diariamente no Brasil, em que diversos casos como estes viram ocorrências policiais, “agressor portanto uma faca”, que por muitos especialista é considerado uma das piores situações policiais.
E isso é uma verdade, e essa veracidade fatal se encontra em inúmeros lugares ao redor do mundo, como por exemplo, na Inglaterra e no país de Gales.
Segundo relatório criminal do Escritório de Estatísticas Nacionais do país, de abril de 2018 a maio de 2019, os crimes com facas na Inglaterra e no País de Gales aumentaram 8%. Neste período, a polícia britânica registrou 47.136 incidentes envolvendo objetos pontiagudos. O aumento de 8% significa um aumento de mais de 3.300 incidentes relacionados a facas entre os períodos citados. Supõe-se que ocorreram ainda mais esfaqueamentos que não foram registrados, já que a Polícia da Grande Manchester do Reino Unido foi excluída da contagem por apresentar poucos casos, de acordo com o relatório.
Policia de Londres mata agressor com uma faca que fez duas vítimas.
Em quase 6 anos de dedicação de pesquisas e estudos sobre ataques com faca, sendo mais de 200 vídeos, reportagens, relatos… analisados com o intuito de trazer para as linhas da Bushi Strategy uma ciência baseada em coletas de dados e informações fidedignas, estudos substâncias para entender melhor esse cenário, e trazer algo mais verídico tanto para teórica quanto para prática em treinamentos.
Pois quando se fala sobre esse tema, não há espaço para achismos ou deduções, tem muitos especialistas de teclado e muitos mestres midiáticos por aí, as redes sociais de hoje construíram personagens sinistros que por trás de suas fotos cinematográficas de pura embusteiragem, não passam de instrutores de natação que aprenderam a nadar de baixo do chuveiro.
Esses instrutores irresponsáveis, que falam sobre porrada mas nunca saíram na mão, usam técnicas e falam sobre elas sem ao menos serem capacitados, enganam os seus fiéis seguidores e manipulam eles. Infelizmente isso é muito negativo, pois as opiniões, metodologias passadas de forma errônea pode custar a vida de uma pessoa. Aliás fato esse decorrente em inúmeras ocorrências policiais, que aplicam técnicas ou táticas equivocadas ou ineficientes.
É por esse motivo que comecei a estudar confrontos físicos armados/desarmados, especialmente violências com faca, já que sou Instrutor de Combate com Faca.
Um dos dados mais interessantes que consegui extrair desses estudos, foi que 71,1% dos ataques com faca são conduzidos com as mãos vazias. O fato é que, durante um ataque com faca, os agressores geralmente conduzem a agressão desarmados, enquanto mantêm a faca velada e escondida, e sua mão reativa faz o trabalho de manter a distância ou fechar a distância.
No anos 80 isso já vou mencionado no livro “Coloque-os, tire-os! Técnicas de luta de facas da prisão de Folsom por Don Pentecost, acabou por destruir de forma simples e brutal uma série de mitos populares e idéias preconcebidas sobre o uso de facas em situações da vida real. Esses ataques são liderados pela mão reativa que é usada para afastar, agarrar e proteger a faca.
Como o Pentecost também afirmou claramente, a mão reativa não é uma mão morta, “paralisada”, e os agressores usaram para ganhar vantagem estratégica. Esse uso da mão reativa muda muito a dinâmica da luta. Mas a lição principal é que a maior parte do que é ensinado na indústria de Artes Marciais e Autodefesa Baseada na realidade (isto é, o atacante lidera com a faca, sem agarrar, sem pressão à frente) não se aplica à grande maioria (+70%) da vida real em ataques com faca.
Defesa contra ataques com faca continua sendo uma das partes mais contenciosas das Artes Marciais, pouquíssimas pessoas tem realmente um conhecimento substancial do tema. E entre aqueles que têm essa experiência, menos ainda estão realmente dispostos a falar sobre isso. Eu mesmo já tive que desarmar uma pessoa armada com faca, com inchada, com pá… Isso tudo em serviço em atendimento a ocorrências. Então ficamos com pessoas que foram “atacadas duas vezes” por uma maluco empunhando uma faca. Embora eu ouça essas pessoas – qualquer experiência vale a pena ouvir mas dois incidentes não fazem de você um especialista em uma questão. Um importante fabricante de carros o contrataria como especialista em segurança de carros se você adicionasse “Já me acidentei duas vezes em um acidente de carro” ao seu currículo.
Outros dados que conseguir colher, foram do Estado do Rio de Janeiro, pela Secretaria de Segurança Pública, e pelo Policial Civil Castro, Instrutor de Medicina de Combate, integrante da unidade de operações especiais, CORE-RJ. Estado esse que tem uma estática muito assustadora de crimes cometidos com faca, diante dessas amostras somei com outras que já tinha pesquisados e consegui dados interessantes, observe abaixo:
- 52% das lesões corporais seguidas de mortes com objetos cortantes acontecem no período noturno (18h às 6h)
- 188 pessoas foram mortas no ano passado depois de atacadas com arma branca
- 178 pessoas foram vítimas de homicídio doloso, nove de latrocínio e houve um caso de lesão corporal seguida de morte.
- 95% de casos de faca vem do Rio das Pedras
- lesões por faca são difíceis de controlar o sangramento, por que são mais amplas que a perfuração por Armas de Fogo.
- 55,9% de todos os ataques são interrompidos pela intervenção de terceiros.
- a média de duração de um ataque é de 20 seg
- 80% duram 32 seg
- se um ataque por faca durar 23 segundos, você terá uma boa chance de que ele durará apenas mais 9 segundos. Porém, quando um ataque com faca atinge a marca de 32 segundos, a mesma “boa chance” pode exigir mais 27 segundos.
- ataques com faca são silenciosos e curtos pois o agressor não quer se expor muito e nem ser preso.
Não existe ser vivo imperecível nessa luta, ela é complexa e torna qualquer situação assustadora mesmo o indivíduo estando em vantagem, a sensação de medo prevalece. Todas as vezes que enfrentei um indivíduo com uma faca eu tive medo, e não foram poucas, no total 5 em 4 anos de polícia. A faca é um elemento aterrorizante num cenário policial. Ela tem o poder de desequilibrar qualquer luta, e quem a tem posse nunca estará disposto a lutar francamente, o agressor ele não quer uma luta justa, muito pelo contrário, ele quer usar todos os meios e artifícios necessários para te golpear usando a surpresa como potencializador do ataque. Não é a toa que 89% dos ataques com faca, o agressor só saca a faca no momento final ou crucial para o golpe, chamo isso de “Momento Peremptório”.
Uma luta contra alguém com uma faca não é um duelo, é uma emboscada. Além do mais, o quanto é destruidor e atormentador para alguém que foi golpeado de surpresa com uma lâmina? Seu sistema neurofisiologico e todo seu arsenal de habilidades são afetados drasticamente, e isso acarreta em diversos fatores negativos para sua defesa e sua sobrevivência.
Fazendo uma mera comparação com atividades de contatos físicos esportivas, autores como Jones e Hardy (1990) e Rotella e Lerner (1993) apud RUBIO (2000) ressaltam a importância de se conhecer os efeitos dos aspectos psicológicos envolvidos em atividades esportivas e chegam a afirmar que, em várias ocasiões, a capacidade de lidar com diferentes aspectos psicológicos envolvidos em uma competição é que pode determinar a diferença entre o atleta vencedor e o perdedor ou entre o atleta verdadeiramente talentoso e o comum. Se um atleta de alto nível precisa desse treinamento imagina alguém, um policial por exemplo que está prestes a enfrentar um esquizofrênico com uma faca na mão.
O indivíduo bem preparado psicologicamente consegue absorver com mais facilidade os momentos adversos da luta como machucados, dores, até desvantagem numérica e pode reverter essa situação a seu favor. Ele tendo esse controle consegue aguentar a pressão, elaborar uma estratégia e aguardar o momento favorável de aplicar a ação que pode ser decisivo para decidir o combate. Até mesmo fugir de alguém com uma faca precisa de estratégia não é mesmo. Exemplo disso, é as vítimas que correm de costa para o agressor, tanto civis como policiais. Resultado, 55% das vítimas que correram de costa caíram, pelo simples fato que correr de costa te torna mais lento, desengonçado, você não tem visão para onde está indo (vítima se suicida correndo de costa para parede), não sabe aonde está pisando e habilidades motoras finas e grossas são conturbadas (Policial correndo de costa tentando acessar a arma ou atirar).
Para finalizar, não podemos deixar de falar do fato que um simples corte na mão pode afetar nossa concentração, nossa confiança e nosso espírito de luta, além de incapacitar certos movimentos. Muitas pessoas chegam a apresentar hipotensão ao ver. Neste contexto o controle da dor é essencial, assim como a frieza para lidar com sangue e ferimentos, tanto próprios como do adversário, pois ao contrário do que ocorre nos filmes, um oponente ferido não desfalece pacificamente ao receber um golpe certeiro de faca.
É preciso estar preparado psiquicamente, pois as cenas e os sons em um contexto de luta real diferem muito daqueles presenciados nos treinos. Além disto, quantos de nós está de fato preparado para receber um corte ou varias estocadas inevitáveis? Pense: será que sua técnica se manteria se você estivesse com dor ou sangramento? Nos treinos, quando recebemos um golpe fatal ou quando estamos acuados ou se nos ferimos, damos uma pausa e depois continuamos. Este é um hábito que pode criar condicionamentos desfavoráveis, fatais num combate real no qual mesmo com grande desvantagem ou ferimentos não podemos simplesmente “jogar a toalha” ou pedir uma pausa pro parceiro de treino.
O comedimento e o respeito frente ao nosso colega de treinamento também podem limitar nosso condicionamento, pois molda nossa atitude. Deve-se lembrar que para sobreviver não há regras. O domínio do emocional do oponente pode estar em nossas palavras, assim como sua forma de lutar (com mais ou menos precaução). Intimidá-lo, induzi-lo a erros, enganá-lo pode ser uma forma de vencê-lo.
Raciocínio faz parte do combate, até mesmo por um simples ato de escolher a direção que ira correr pode ser um fator decisivo para sua sobrevivência.
Um feliz 2021 a todos e até a próxima!!!!!