Introdução
Dando continuidade ao artigo anterior, vamos explorar mais um pouco sobre as posições “Pronto Alto e Pronto Baixo”. Nesse presente artigo iremos pontuar sobre Retenção e Contra Retenção de cada posição como também o uso do fuzil em combates a distâncias curtas, sendo uma ferramenta de impacto contundente contra ameaças desarmadas.
Lembrando que não iremos tratar de uma regra específica nem de maneiras específicas de fazer as coisas. Como tudo na vida, existem dezenas de maneiras para se chegar a um destino/objetivo. No final das contas é sobre segurança, a funcionalidade e o rendimento que tem dependência das normas e métodos científicos que comprovam a eficiência.
É isso que importa!
Retenção e Contra Retenção
Qual das posições do último artigo têm maior vantagem e menos riscos do atirador perder sua arma longa?
Para um melhor entendimento, vamos definir primeiro o que é Retenção e Contra Retenção de Arma de Fogo.
Retenção de Arma:
É assegurar o armamento por meio de técnicas e contramedidas permitindo ao atirador condições de defesa e permanência do seu armamento.
Contra Retenção de Arma:
É o uso de técnicas e táticas para recuperar o controle do armamento ou tomar o armamento em situações de combate corpo a corpo dando ênfase em movimentos dinâmicos, explosivos e eficazes.
Vale ressaltar que, quando falamos sobre recuperar o armamento, estamos nos referindo a retornar a posse e controle absoluto desse armamento durante o combate físico.
E quando falamos sobre tomar o armamento, estamos nos referindo especificamente no momento em que o atirador perde sua arma no combate físico e tenta apropriar-se novamente da mesma. Esta situação também pode ocorrer quando o indivíduo está desarmado e rendido por um criminoso, e em uma janela de oportunidade por meios de técnica e tática consegue tomar a arma deste.
O grande mestre Luis Charneski, maior referência sobre o assunto, define:
Pronto Alto
Durante a Retenção, a posição pronto alto irá lhe fornecer uma maior resistência e sustentação, pois ambos os braços estão semi flexionados, em uma posição alta e retraída ao corpo dificultando a perda do armamento. Para aumentar essa Retenção podemos colocar a coronha do fuzil debaixo da axila da mão ativa, chamo isso de “Trava e Retém”.
No Pronto Alto Modificado, esse ganho isométrico é ainda mais eficiente, mantendo o atirador com o maior controle do armamento mesmo com a ameaça puxando o resultado. “Onde o fuzil for, o atirador vai”. Sem falar que, o atirador consegue colocar o armamento em posição de pronto emprego mesmo com a ameaça segurando com força.
Na Contra Retenção, a vantagem isométrica e a facilidade de trabalhar técnicas unilaterais e bilaterais ainda é um ponto forte nessa posição.
Retenção e Contra Retenção é pura aritmética de forças opostas.
Se o exercício é dinâmico, uma força ganhará outra. Por exemplo, o halter sobe porque você faz uma força maior que a da gravidade somada ao peso do halter. Você corre porque sua força é maior do que a que te retém contra o solo, salta porque utiliza uma força maior do que a da gravidade e cai após um salto com vara porque a gravidade acaba ganhando a partida. O objetivo é diminuir o máximo possível que uma ameaça mais forte que você ou em uma vantagem mecânica e ergonômica tome sua arma.
Pronto Baixo
Antes de dar início ao próximo parágrafo, quero dizer que estamos falando do Pronto Baixo, não confunda com posição SAS ou Sul. Dito isso, podemos prosseguir!!!
O Pronto Baixo não é uma posição muito vantajosa na Retenção, principalmente em ambientes fechados ou edificações, exemplo, casa, apartamento, uma conveniência, um corredor,…etc.
Porque nesses ambientes os confrontos tendem a serem mais próximos, e a ameaça (s) em poucos passos conseguem encurtar a distância ao ponto de neutralizar a capacidade do armamento, pois se tratando de arma longa, combates físicos trazem dificuldade ao atirador para colocar o cano de sua arma na ameaça.
Como o cano da arma está para baixo e a coronha somente encostada no ombro, fica difícil de subir a arma quando alguém está segurando o cano, pelo fato da coronha não está em uma posição fixa e sustentável o armamento fica comprometido em um embate de Retenção.
“Quem controla a coronha controla o cano” esse mantra escutei uma vez em um curso de CQB, e para mim faz muito sentido.
Claro que o cano levemente para baixo ainda posso ter condições de efetuar disparos na parte do abdômen, pélvis e pernas, entretanto esse combate é volátil e dinâmico, vemos isso em treinamentos e vídeos de situações reais, então acertar a ameaça nessas condições não é tão simples.
Algumas técnicas de Contra Retenção são bastante eficazes nessa posição, principalmente quando a ameaça estiver com as mãos no cano perto da massa da mira. Observe que não existe vantagens isométricas e nem mecânicas se tratando de embates físicos. Indo um pouco mais além, o atirador que por ventura ou por ações resultantes desses cenários repentino e violento cair com seu fuzil de barriga para cima em uma luta pela arma, na posição pronto baixo temos poucas soluções comparado ao pronto alto.
“Temos que ter criatividade para enfrentar as diversidades”
D.Pithon Operador 35 do COE da BA
Muzzele Strike e Muzzele Hook
Muzzele Strike é uma técnica de combate aproximado (Close Quarter Combat) que o atirador utiliza sua arma longa como arma de impacto para uma resposta imediata a uma ameaça muito próxima (uso progressivo da força não letal), que tente pegar a sua arma, impedir de prosseguir ao ponto de dominação do ambiente, que obstrua sua passagem e visão periférica ou até mesmo de forma involuntária (por efeitos de drogas pisicoativas que distorcem a realidade).
O cano do fuzil ou rifle é usado como uma lança, (como se fosse uma baioneta) espetando na parte do peito próximo ao plexo solar, ou no rosto e garganta, afastando a ameaça/incapacitando por um período curto.
Dessa maneira provendo uma janela oportuna para o atirador não só tomar decisões mas resguardar a sua integridade e também de sua equipe.
Vale ressaltar que golpes na garganta, rosto, queixo pode levar o indivíduo a morte dependendo da força aplicada.
No Pronto Baixo mantenha uma boa plataforma de combate. Traga a coronha por cima do ombro flexionando seus braços. Com um movimento explosivo, espeta o armamento na altura do seu peito utilizando seu tronco e braços como fonte de força. Retraia o armamento por cima do ombro ou volte a posição inicial. Lateralize para uma melhor biomecânica
Veja que os movimentos são similares tanto no Pronto Baixo como no Pronto Alto. No final, o movimento natural tem que ser igual a uma mola flexível que quando contraída e extendida exerce uma energia mecânica sobre algo.
A retração do armamento em ambas posições por cima do ombro permite a diminuição de volume dentro de um espaço fechado, melhor manuseabilidade, rápido engajamento, condições de efetuar disparos a curtas distâncias e dificulta a retenção do armamento.
Imagine um homem atrás de uma porta desarmado, o operador ao passar por ela é surpreendido e sua arma longa retida não por completa, (supondo que ele está de bandoleira), o homem tem acesso a coronha sendo que nessa briga pela arma longa quem tiver o maior controle sobre a coronha terá o controle do cano, e aí temos uma situação eminentemente perigosa com um cano de fuzil lotérico e um gatilho sensível, a possibilidade de disparos nesse contexto é potencialmente alto.
Claro que em muitos casos o Operador não só pôde como deve usar sua arma secundária ou se preferir sua faca para se defender, dependendo da situação, em outros casos seus companheiros também pode ajudá-lo mas sem comprometer a segurança da equipe.
Posso citar um caso de um pelotão Rangers onde o Operador sendo o ponta matou um cara de perto com sua faca de combate (ao largo da costa da Somália). Um homem magro havia pulado no membro da equipe de assalto e ele não poderia ter uma chance clara de disparos sem risco. Solução?
Aproximou se com uma lâmina de combate e cuidou dos negócios. Todo e qualquer operador/atirador deve saber lutar com seu kit de armas, transições e retenções de arma de fogo em pé ou no solo. Sem exceções..
Muzzele Hook
É uma variação que não vou dizer que criei, porque é muito temerário falar sobre criar algo, ainda mais sobre técnicas de combate, mas caso você queria procurar no Google não irá achar o nome nem a técnica. Vi ela sendo apresentada por um Ranger, Instrutor do MACP ( Modern Army Combat Program) numa live, ele chamou de Muzzele Thumping, que na tradução pro português é Batendo com o Cano.
Como o movimento é similar a um gancho do boxe, coloquei essa nomenclatura para uma fácil compreensão. Se você estiver no Pronto Baixo, você irá realizar um movimento de cavar com o fuzil, colocando a coronha voltada pro chão, e batendo com o cano num movimento de baixo para cima.
No Pronto Alto, você terá que reter sua arma colocando seu cano em um ângulo de 45°, em que a coronha fique de baixo da axila e efetuando o movimento do golpe de baixo para cima. No Pronto Alto a técnica requer menos movimento, as etapas são mais curtas e isso resulta em uma resposta mais rápida a um estímulo.
1 Pronto Baixo 2 3 4 1 Pronto Alto 2 3 4
Essa técnica pode ser utilizada em situações em que a ameaça está tentando pegar o seu armamento, e com movimentos rápidos e reflexivos o atirador retira o armamento da exposição e efetua o golpe contundente.
Resumo
Não podemos deixar se citar os golpes com a coronha, que estão nos manuais combativos de 1918 até os dias atuais treinado por diversas unidades operacionais. Golpes com a coronha são implementados por uma variedade de combatentes, muitas vezes treinados em uma série de movimentos de transição para evitar o desperdício de movimento e garantir que o operador seja capaz de fazer ataques repetidos, desviar ou defender rapidamente após uma tentativa fracassada.
Esses golpes podem ser combinados com chutes, cotoveladas e joelhadas na parte superior e inferior do corpo do oponente para aumentar ainda mais a eficácia e fornecer mais variedade às rotas de ataque.
Por fim, quero deixar claro que um artigo não vai produzir técnicas ou táticas instantaneamente durante o combate, é imprescindível o treinamento adequado e consistente alinhado com umas doses de querência e disciplina. Foi apresentado uma sequência de dois artigos sobre um assunto muito pertinente, e que deve ser levado em consideração. Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes.
Então, acrescente o que é importante, e descarte o que for fútil.
Muito obrigado e até a próxima!!