Se alguém observar a atividade policial, verá que é um trabalho para poucas pessoas. Pense sobre isto: um homem entra em uma loja, saca uma arma, anuncia um assalto (que dá errado), faz reféns e diz que antes de morrer, vai matar o primeiro que aparecer. Um policial recebe essa chamada pelo rádio. E o que ele faz? Ele atende a ocorrência e se dirige às pressas para chegar ao local. Ele corre para chegar lá!
Não é difícil imaginar as pessoas empurrando umas as outras, procurando uma proteção e fugindo aterrorizadas. Em situações assim, essas pessoas têm a ideia certa, mas o policial não dispõe desse luxo. E apesar do medo e do estresse, ele corre contra a multidão em pânico, para chegar o mais próximo daquele que tentará matá-lo.
Desde o primeiro dia, o policial é informado de que o trabalho dele é ir aonde está o problema. Quase tudo o que se aprende está relacionado com o perigo. Infelizmente, outra parte importante do treinamento carece do realismo necessário para fazer com que o policial compreenda, por exemplo, a estranha natureza dos confrontos armados. Mas isso é outro assunto!
De qualquer maneira, embora o policial aprenda maneiras de se aproximar do perigo, nunca lhe é ensinado um modo de fugir.
Mas por que o policial corre para chegar lá, apesar do medo? Esse assunto é amplo e complexo, no entanto, o treinamento constante em técnicas coerentes com a realidade e o conhecimento sobre como o medo afeta o corpo e a mente podem ajudar você a se tornar mais rápido, mais forte e orientado para um objetivo. Assim, considere as seguintes sugestões antes que sua vida esteja em perigo:
Permaneça atualizado, o melhor possível, nas técnicas policiais e treine regularmente. Nunca perca a oportunidade de participar de treinamentos (táticas defensivas, de sobrevivência, armamento e tiro, primeiros socorros). Se a corporação não pode custear seu aprimoramento, você deve considerar pagar por isso.
Leia artigos, compre livros e não seja tão orgulhoso a ponto de não fazer perguntas e aprender com os policiais mais antigos, experientes e capacitados.
Avalie as informações relacionadas ao seu trabalho e pesquise por conta própria. Quanto mais você aprende, melhor exerce a sua atividade.
Observe o que você está fazendo na área da autodefesa e da sobrevivência policial e pergunte a si mesmo se o seu treinamento está coerente com a realidade. Seu treinamento deve simular situações reais, pois a experiência “real” constrói e aumenta a confiança, reduzindo a “novidade” do trabalho diário.
Compreenda as motivações para o fenômeno de luta ou fuga. O medo não é um tipo de neurose que precisa ser eliminada. É uma importante emoção utilizada pela natureza para informar a você que sua vida está em perigo e que é hora de tomar uma atitude. Para ajudá-lo a agir, o medo produz uma mudança química que lhe dá uma margem de sobrevivência, compelindo-o a instintivamente fazer uma de três coisas para salvar sua vida: lutar, fugir ou obedecer.
Luta – Quando se está lutando pela própria vida, a natureza não espera que você siga regras; ela programou o homem para aniquilar a ameaça da maneira que ele puder. Diante duma ameaça a vida, muitas pessoas encontram força e ferocidade que jamais imaginam ter. Entretanto, você pode lutar e até usar a força letal com o propósito de se defender, mas deve reagir com controle da situação e de si mesmo com o objetivo de cessar a agressão. Isso não é uma tarefa fácil quando alguém está tentando matá-lo.
Fuga – Toda criança sabe como fugir do quarto quando ouve aquele barulho estranho que faz o coração disparar. Ela vai de encontro a tudo que há à sua frente, não importando os possíveis ferimentos, e não para até chegar ao quarto dos pais. Isso não foi ensinado, mas aprendido instintivamente. Mas a fuga nem sempre é uma opção, pois você fez um juramento e recebe seu salário para ir até aonde está o perigo (a retirada em busca de proteção não é considerada como fuga).
Obediência – Quando não se pode lutar ou fugir, mais uma vez a natureza vem em socorro com um terceiro modo de sobrevivência. Por exemplo, nos Estados Unidos, quando um urso cinzento ataca alguém, enfrentá-lo não é uma opção, nem fugir, uma vez que o urso é mais rápido. Assim, os guardas florestais orientam os visitantes dos parques ecológicos a ficarem imóveis e se fingirem de mortos, para que o urso fique entediado e procure uma presa viva. A menos que você trabalhe com ursos cinzentos, como policial, a obediência raramente é uma boa opção.
Avalie as situações de risco ocorridas no passado tanto quanto o que você fez de certo ou errado e o que precisa ser melhorado. Rever suas ações é uma ferramenta poderosa para o aprendizado, dando a você a confiança para enfrentar outro incidente crítico.
Entenda que mesmo que outro policial tenha feito algo que funcionou, ainda podem existir opções que funcionariam melhor. O melhor colega é aquele com quem você pode discutir os incidentes vivenciados, mesmo que para isso você tenha que demonstrar sua fraqueza.
Entenda e aceite a possibilidade de que você tenha que usar a força letal. É importante considerar o que seria disparar sua arma contra o corpo duma pessoa e vê-la desabar sem vida como resultado daquilo que você fez.
Conheça as tendências do crime e dos criminosos na cidade onde vive. Quanto mais sintonizado com aquilo que acontece a sua volta, menor sua chance ser pego de surpresa.
Faça um esforço para permanecer em alerta. Isso também reduz a possibilidade de você ser pego de surpresa. Quando você está com “a cabeça no mundo da lua” e é empurrado de repente para uma situação arriscada, existe uma grande chance de que você, assustado e incapaz de entender o que está acontecendo, “congele”. O estado de alerta mantém você concentrado no trabalho, mesmo durante os períodos de tédio.
Confie na sua intuição porque é o acúmulo de conhecimentos a partir de sua experiência de vida e que está trabalhando para você de modo inconsciente.
Acredite na missão. Se você não acreditar na missão para a qual foi indicado, será complacente e hesitará durante o confronto, e aquele que acha que nada vai acontecer ou hesita nessa circunstância, normalmente perde a vida. Missões cujos riscos ultrapassam os benefícios para você ou para a sociedade devem ser descartadas.
Mantenha-se em forma. Um bom preparo físico melhora sua autoestima e o ajuda nas situações aonde a força física prolongará sua resistência para continuar lutando.
Desenvolva um forte desejo de sobreviver em qualquer tipo de situação. Existem relatos de policiais e criminosos que foram gravemente feridos e, apesar de tudo, continuaram a lutar. Essas pessoas tinham um intenso desejo de sobreviver e foi o que fizeram, embora em muitos casos tenham sido atingidas várias vezes. Passe seu tempo livre dizendo a si mesmo que sobreviverá não importa quão ferido esteja, e que não desistirá até que tenha vencido o confronto.
Pratique o treinamento mental. Esse treinamento é uma atividade que não exige esforço físico. Você pode desenvolvê-lo enquanto dirige a viatura ou está em casa. Basta imaginar uma briga num bar ou um roubo em andamento, e como você responderia a essas ocorrências. Visualize um caso real, coloque-se no lugar do policial que atendeu a ocorrência e imagine sua reação visando sua sobrevivência.
Como a mente não consegue facilmente diferenciar a fantasia da realidade, o treino mental é uma ferramenta eficaz, sempre disponível e com a qual você pode “vivenciar” situações perigosas sem se expor aos riscos dum confronto real.
Lembre-se, a vida duma pessoa é considerada o bem mais precioso. Muitas das leis e condutas morais estão fundamentadas na autoproteção e na preservação do ser humano contra graves ferimentos e a morte. No entanto, numa situação de legítima defesa, você pode ter que ferir ou mesmo matar outro ser humano (o agressor).
Por fim, saiba que no combate não há lugar para considerações pessoais ou religiosas. É preciso concentração na tarefa e nada mais. Se isso não for feito, você estará em perigo.