Talvez você já tenha passado horas a fio num estande, numa sala de aula ou num tatame, absorvendo lições e técnicas com algum instrutor. Acredito que você também já tenha percebido que a maioria desses instrutores lhe ensinou algo; outros apenas tomaram o seu tempo; outros o seu dinheiro e poucos lhe incutiram uma mudança de comportamento. A mudança comportamental é algo poderoso; talvez seja a única coisa que realmente vale a pena após horas de preleção e demonstrações. O verdadeiro instrutor irá além da transmissão de conhecimento de uma técnica, habilidade motora, táticas ou protocolos. O verdadeiro instrutor é fonte de inspiração, um rumo ou farol para seus alunos, sobre o qual se pode traçar um paralelo com um “Mestre Jedi”. Um exemplo a ser seguido, perseguido
por aqueles que já lhe ouviram ou presenciaram sua dinâmica numa instrução. Alguns alunos me perguntam “O quanto eu vou aprender neste curso?” e a resposta é simples: “Você irá aprender o quanto não sabe sobre algo e depois criará uma mudança de
comportamento que alavancará seu método de aprendizado sobre como melhorar naquele aspecto”. A palavra “Instrutor” nunca foi tão banalizada nos meios operacionais ou na luta; esquecemos que um mero título ou certificado na parede não nos torna aptos a sermos instrutores. Possuir o conhecimento sobre algo não valida nossa capacidade de replicar
aquele assunto; na verdade, a função de instrutor demanda valências interpessoais, comunicação eficaz e metodologia de ensino adequadas a matéria ministrada. E a experiência conta? Depende, ensinar uma habilidade ou técnica de tiro não requer experiência ou vivência operacional, mas quando falamos de técnicas coletivas de combate como varreduras em edificações ou conduta de patrulha, a experiência conta ainda que não seja imprescindível. Muitas vezes o conhecimento coletivo e as lições aprendidas nos darão o conteúdo necessário para explanarmos acerca de um assunto, porém a vivência
operacional NUNCA poderá ser ignorada. O instrutor que tenha prática em confrontos armados ou que opere em ambientes de alto risco sempre terá uma perspectiva que outros instrutores não poderão compartilhar. Tornar-se um instrutor operacional atrás de uma mesa ou na frente de um monitor não é algo saudável para seus futuros alunos. Devemos nos tornar instrutores, professores ou mestres melhores! É nossa responsabilidade para com os nossos alunos. A cada lição ensinada, técnica repassada ou procedimento replicado, criamos ferramentas que visam trazer nossos alunos de volta para casa após uma jornada de trabalho ou garantir a sobrevivência deles num confronto perigoso. Comprometimento é a palavra-chave; sem o comprometimento nos esquecemos de quem somos e de onde viemos, esquecemos da nossa responsabilidade com nossos alunos e ainda deixamos de nos reciclar. Esqueci de mencionar, mas a função de instrutor exige um aperfeiçoamento constante das técnicas, protocolos e doutrinas ensinadas; lembre-se, não estamos mais nos anos 80! A Doutrina mudou e é cíclica. Na Era da Informação, as mudanças são rápidas e constantes! Cunhamos uma expressão, na instituição em que dou aula, chamando alguns “instrutores” de “instrutores Topa-tudo-por dinheiro”, cuja única preocupação não está em repassar técnicas corretas e atualizadas aos seus alunos, mas em encher o seu bolso de dinheiro, seja em hora-aula ou em cursos ministrados ou pelo mero glamour. Estes
instrutores não possuem a responsabilidade de se renovarem doutrinariamente ou de passar algo correto; não interessa o quanto o conhecimento está ultrapassado ou se a técnica é ineficaz, o que realmente vale é a recompensa pecuniária por alguns momentos “enganando” uma turma de alunos sedenta por conhecimento e que busca um modelo ideal personificado no instrutor e que, talvez, dependa daquela informação ou daquele exemplo
para voltar para casa no final de um dia de trabalho. Por fim, não posso deixar de falar de todos aqueles instrutores, professores, mestres e amigos que me tornaram o instrutor que sou agora. Fico imaginando se todos tivessem a oportunidade de conhecer os diversos Betos, Serginhos, Alfredos, Robertos, Giovanys, Antonios, Rodrigos, Henriques,
Constantinos, Mauros, e muitos outros que existem por aí, que vão muito além da formação convencional, empurrando você para a realização de todo seu potencial e tornando-o um aluno melhor e, consequentemente, um instrutor mais capacitado. Sem esquecer, é claro, dos meus alunos, dos antigos, atuais e futuros que, cada vez mais, constituem minha fonte de inspiração e fator motivacional para que eu procure ser um instrutor, operador, profissional e uma pessoa melhor. A todos estes amigos, alunos, instrutores, professores e mestres meu MUITO OBRIGADO!
“Às vezes eu sou instrutor,
mas, na maior parte do tempo, eu sou um eterno aluno”. Serginho COPE PCPR
- Marcelo Esperandio