Beabadotiro por Luciano Lara
A história se repete, os erros se somam e a conta é da sociedade organizada.
A sociedade foi atacada recentemente.
Um policial civil foi morto no cumprimento do seu dever, em operação cumprindo mandados de prisões em desfavor de dezenas de membros de violenta organização criminosa que domina região do Estado brasileiro, abandonada pelos Governantes e entregue ao comando do crime.
EVOLUÇÃO DO PROBLEMA
O vácuo deixado pela ausência do Estado, a geografia, as políticas públicas, tudo somado fez com que a população ocupasse os morros cariocas, a sua maioria trabalhadores que não tinham como morar distante das vagas de empregos, nem tinham condição de arcar com custos, de transporte e habitacionais, outros que não o de formar as favelas: cidadãos de bem que por falta de opção se aglutinaram nos morros.
Pronto. Uma enorme quantidade de pessoas passou a residir em locais de alta densidade populacional + ausência de serviços públicos + dificuldade de acesso das forças de segurança. Receita de facilidade para a criminalidade!
Essa bandidagem passou a aproveitar do vácuo do poder público e se instalou – em seguida, vieram os grupos de extermínio para combater essa bandidagem e, vendo a rentabilidade da exploração da população local, formaram milícias que ao invés de apenas combater os traficantes para expulsá-los e libertar a população, somaram-se aos que disputam, na criminalidade, a exploração dessa combalida população.
Faço este introito para dizer: 99,9% daquela população é formada por cidadãos de bem, ordeiros, trabalhadores, cumpridores de seus deveres MAS que por estarem sujeitos a conviver com criminosos tem que TOLERAR a sua presença e permanência na comunidade – sob pena de tortura, expulsão e/ou morte.
E isso ficou evidente no relato televisionado da cobertura da Operação de um morador que disse ter tido a casa invadida por um criminoso e nem sequer poder reclamar – o bandido ali entrincheirado foi encontrado e, no confronto, morto pela polícia – o que o cidadão relata traumatizou sua filha e o fez sair de casa.
REALIDADE ATUAL
Exploração, cooptação de seus filhos meninos para se tornarem soldados do tráfico, das meninas para exploração sexual e subjugo dos donos do morro, tudo quanto a Operação Exceptis buscava enfrentar, realizada para cumprimento, repito, a Mandados Judiciais de prisão de 21 membros de OrCrim.
Eis que, para surpresa de ZERO pessoas minimamente inteligentes, dada a carta branca concedida para a criminalidade com as restrições de operações policiais durante a Pandemia, houve forte repressão criminosa contra a LEGÍTIMA e NECESSÁRIA ação policial na localidade.
E a certeza de conhecimento dessa potencial resistência foi a dimensão do aparato repressivo para, repito, cumprimento de apenas 21 mandados de prisão: 250 policiais, apoio aéreo de helicóptero e ação de 4 blindados, os quais foram logo impedidos de subir já que os bandidos instalaram obstáculos na via.
Em nenhum lugar do mundo, que não esteja vivendo período de guerra declarada, há enfrentamento, muito menos pela polícia, desse nível de armamento e forma de atuação no crime “comum” em zona urbana, verdadeira guerra assimétrica instalada na cidade maravilhosa.
Quem em sã consciência acredita que as forças de segurança poderiam subir o morro de mãos vazias com os mandados de prisão embaixo do braço anunciar as ordens judiciais e aguardar os seguranças, olheiros, os donos do morro entregarem-se pacificamente para a sua efetivação?
Aos mais novos não custa rememorar – o tráfico de drogas torturou, matou e queimou o corpo em micro-ondas (pilhas de pneus embebidos em combustível) o repórter Tim Lopes, de uma emissora nacional, descoberto enquanto fazia matéria jornalística sobre a criminalidade e exploração de menores em bailes funk há 19 (dezenove) anos.
Essa realidade não é nova e é fruto de desmandos e descaso de três décadas culminando com os últimos cinco governadores do RJ presos e dezenas de parlamentares processados e/ou presos.
E não se espera outra resposta do Estado senão ENFRENTAR a criminalidade, buscando evitar sua perpetuação e o reconhecimento da TOTAL FALÊNCIA desse Estado – manter-se isolado e intocável reduto de criminosos explorando a população dessas comunidades é vergonhoso e covarde, coisa que as forças de segurança pública JAMAIS serão.
O mais chocante, aliado ao absoluto descaso dos meios de comunicação à morte do guerreiro André Frias, esse sim executado com um tiro na cabeça quando desembarcava do blindado, tocaiado pelo tráfico, é a aparente presunção contra a ação policial, tendo a esmagadora maioria dos noticiantes se indignado pela antecipada “execução arbitrária” que teria ocorrido contra 25 (o número já chega a 28) “moradores” da comunidade.
Pior que a ofensa ao trabalho policial, que menos de presunção de ilegalidade tem sim a presunção de VERACIDADE e LEGALIDADE, é a antecipação de juízo contrário à polícia e favorável aos guerrilheiros abatidos.
A deturpação de valores é tamanha no Brasil que a presunção é contrária à polícia, braço armado da segurança do Estado, a ponta de lança no enfrentamento à criminalidade.
Não devia ser assim e não precisa ser assim.
Menos que estrito cumprimento do dever legal como sustentam alguns, agiram os policiais civis desempenhados para aquela operação em LEGÍTIMA DEFESA própria e de terceiros, aqui incluídos não só os demais membros das forças de segurança como também todos os moradores daquela comunidade, e somente cabal demonstração em contrário deve ocorrer para sua não configuração no caso (art. 386, inciso VI, última parte, CPP).
O que deveria chamar a atenção não é jamais o fato de a polícia ter que matar para não morrer na execução e cumprimento de mandados judiciais de prisão. Isso é sobrevivência.
O que deveria ser manchete é o se ter buscado impedir a ação policial com a morte de um de seus membros com um tiro de fuzil na cabeça, ao desembarcar do blindado em armadilha e obstáculo pré-disposto pelos guerrilheiros da facção criminosa que comanda a região.
O que deveria chamar a atenção é a quantidade, a variedade e a espécie de armamento e munição encontrada em poder dos criminosos: 16 pistolas, 06 fuzis, 1 submetralhadora e 1 escopeta, além de 12 granadas, munição e uma granada naval de 127mm, jamais o número de mortes alcançado no confronto, representativo da resistência e ofensa por esses oferecida.
O que deveria chamar a atenção de organismos internacionais, ONGs e seja lá quem mais adore fazer apologia ao crime e odes à bandidolatria é saber como pode um enfrentamento de guerrilha urbana ocorrer nessa comunidade e também poder ocorrer em situações semelhantes em qualquer outra comunidade da mais linda cidade do Brasil.
Mas o que se destaca, infelizmente, é a presunção contra a polícia e a crítica quanto à atuação do Estado Democrático de Direito, dentro de suas funções de efetivação de Segurança e Justiça, na tentativa de fazer valer uma ordem judicial de prisão de 21 criminosos.
A CRÍTICA DESMEDIDA
Criticada como desastrosa a ação pelo número de mortes alcançado, classificada como ação vingativa e indevida, já que os criminosos deveriam ter sido presos e não mortos, afoitos propagandistas do caos pregam o impossível: que a polícia aceite ser morta para comprovar que bandidos fortemente armados e dispostos a não serem capturados estavam nesta condição, ademais cantada e filmada por muitos deles.
A violência, a pré-disposição ao enfrentamento e o orgulho de guerrear contra o Estado-polícia é documentado e disponibilizado nas redes sociais, gravado nas paredes da comunidade, mas para tentar prejudicar a imagem da polícia até vídeo de outra facção criminosa do sul do país, fazendo irônica encenação de ação policial em execução de inimigo do grupo, foi usado para provocar corte superior sobre os “excessos” da ação.
Desastre, efetivamente e por outro lado, é que uma parcela da população, ainda que pequena mas ruidosa e manipuladora, tente atribuir como criminosa a ação policial, fazendo-o já dando ênfase aos seus interesses, liberação de comércio de drogas e pregação contrária à Polícia Militar (pasme leitor, a ação foi da Polícia Civil!)
Toda operação passa por um debriefing e toda ação que envolve emprego e uso de arma de fogo passa por uma investigação – não seria diferente nesse caso e o só fato de um policial civil ter tombado heroicamente no exercício de sua missão já bastaria para que uma apuração se seguisse e que se busque evitar que perdas como a desse herói voltem a ocorrer.
Agora, o que mais enoja é se entoar cânticos e se buscar poetizar a vida dos marginais tombados combatendo o Estado-polícia, na sempre presente romantização da vida do bandido que desde muito vem ocorrendo no Estado do Rio de Janeiro e em outros pontos do país.
Bandido que não quer morrer só precisa não resistir efetuando disparo de fuzil contra a ação policial, ou usando granadas, armadilhas e técnicas de guerrilha.
Cidadão que não quer ser preso basta respeitar a lei e não delinquir, como fazem 99,9% da população brasileira.
Liberal que não quer ação policial em morro basta parar de pensar com o nariz e falar pela brisa do fino, deixando assim de fomentar o tráfico de drogas, eis que muito ajuda quem não atrapalha.
E quem não sabe pra que lado do cano sai o disparo, quem nunca esteve em uma troca de tiros, quem nunca participou de uma reunião de briefing de uma operação contra organização criminosa em qualquer nível, que pare de pagar de especialista em segurança pública e deixe para quem arrisca a vida para enfrentar a criminalidade, fazer o papel de lutar pela efetivação dos direitos da população daquelas comunidades, que não quer ter seus filhos aliciados nem cooptados pelo crime organizado.
Registro minha sincera condolência à família do Inspetor André Frias, aos seus companheiros da DCod (Delegacia de Combate às Drogas) e da PCRJ: Till Valhalla.
Classificar a ação policial como massacre do Jacarezinho é deturpar o conceito da palavra, na mesma semana em que o efetivo massacre, na creche em Saudades/SC, ocorreu contra professoras e crianças inocentes ali presentes.
Questionar a “tese de enfrentamento”, criticando e comparando o número de baixas policiais com a dos bandidos que enfrentaram o Estado-polícia para defender o território do tráfico e da OrCrim, é fruto de mente deturpada e da falta de paradigma a que estamos diante na guerra de informação travada.
E pra finalizar, em nenhum momento do texto se mitigou o princípio constitucional da presunção de inocência – é que quem sai às ruas portando fuzil e atirando na polícia, nem por regra de trato é inocente.
Só não dá para aguentar calado a relativização da vida de um policial que apenas cumpria o seu dever, nem as horas dedicadas a se louvar a vida de bandidos que se dispõem a dominar uma população e guerrear pela manutenção do poder do crime organizado.
Treinem, sempre e muito, estudem bastante e não se calem ante a propaganda pró-bandido, até a próxima.