O efeito borboleta (Edward Lorenz, 1969) é um termo que demonstra, grosso modo, a dependência dos resultados finais às condições iniciais. Tal efeito faz parte da Teoria do Caos, que é utilizada nas ciências exatas, médicas, biológicas e humanas.
Tal efeito também encontra aplicação em qualquer sistema que seja dinâmico, adaptativo e complexo.
De algum modo isso se aplica ao treinamento policial e, em especial, à construção de uma aula de tiro.
Então, dependendo do resultado final que se deseja alcançar, as condições iniciais precisam ser estabelecidas, testadas, reavaliadas e aplicadas. Após essa primeira aplicação, a aula pode ser novamente avaliada e readequada, se for o caso.
O plano de aula
O relevante é que cada etapa seja pré-requisito para a próxima, e assim por diante. Ou seja, cada exercício deve ter um objetivo específico, sem que se perca de vista a sua aplicação no exercício seguinte e o resultado final.
Um plano de aula nunca é o mesmo no caminhar de um treinamento. Por exemplo, quando elaboro um plano, sigo até o estande de tiro, onde testo todos os exercícios. Avalio a carga horária, a quantidade de recursos (alvos, munição, etc.), o número de repetições, o que pode ser agregado ao exercício e que sirva de conexão para o treino do semestre seguinte. E aqui já faço as primeiras alterações.
A primeira turma passa pelo treino e, considerando o resultado final, posso fazer ajustes adicionais.
Daí seguem as outras turmas e as mesmas perguntas: as condições iniciais do treino permitem que os policiais atinjam o resultado final? Há, de fato, uma dependência entre os exercícios? São eles que fortalecem os resultados? De modo geral, houve melhora no desempenho dos policiais em relação ao treino do semestre anterior? Houve melhora durante o treino atual?
O importante, também, é estabelecer o caminho pelo qual o policial precisa passar para atingir o objetivo. Mas como instrutor, é preciso compreender se esse caminho é o mais adequado ao policial. Assim, o teste do plano de aula não pode considerar as habilidades do instrutor, sob pena de estabelecer parâmetros acima da capacidade atual do aluno. E isso tem efeito colateral, pois pode afastar o policial do treino de tiro por causa da frustração.
Um exemplo simples
Se você pretende incluir uma avaliação após o treino de tiro, é preciso avaliar as habilidades que serão cobradas no teste. Contudo, tais habilidades devem ser construídas (aplicadas) no início do treino e, se possível, percorrer todos ou muitos dos exercícios anteriores. Por exemplo, seu teste prevê disparos com apenas uma mão. Então, você precisa incluir exercícios prévios que trabalhem essa habilidade. Além disso, você pode incluir um pré-teste (réplica do teste), aonde o policial irá experimentar todas as habilidades cobradas na avaliação. Isso oferece ao aluno duas ou mais oportunidades de construção da habilidade específica antes do objetivo final
Entretanto, à medida que as habilidades do policial melhoram, também deve aumentar o nível de exigência para que o aluno se sinta motivado a avançar e vencer.
Conclusão
Portanto, sempre que projetar um treino, mesmo que seja pra você mesmo, observe se as etapas se conectam e se são capazes de pavimentar o caminho até o seu objetivo final.
E quando participar de um curso ou treino observe se aquilo que você alcançou foi o resultado das habilidades que já possuía ou se foi em razão do caminho oferecido pelo instrutor.