Introdução
Esse artigo quase científico não é uma fonte de verdades absolutas, e sim alguns pontos de vista de forma clara e precisa de quem estuda, se dedica e trabalha na área de segurança pública há quase 10 anos, além de dar instruções na área civil e policial ao redor do país. Veja como uma fonte informações na reflexão pertinente a fatos reais, com objetivo de somar conhecimento na área e encorajar o desenvolvimento de estudos.
Tenha uma boa leitura!!!!
A ocorrência
Segundo o presidente do Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais no Ceará SINDPRF/CE, Erivaldo Silva, os agentes eram lotados no Grupo de Motociclismo Regional (GMR) da PRF e eram especialistas em escoltas de autoridades. Os dois agentes estavam no local atendendo a uma ocorrência de trânsito em virtude de um acidente que deixou o tráfego lento.
Segundo informações de policiais que atenderam a ocorrência, um andarilho que estava bloqueando o tráfego no viaduto e fazendo balbúrdia desde madrugada do dia anterior, e estava novamente interrompendo o fluxo da BR, os policiais estavam em uma abordagem veicular no momento em que um passageiro de um ônibus veio pedir um apoio aos mesmo para que tirassem o andarilho do local pois já estava se formando uma fila.
Os dois policiais então deslocaram se até local, que no momento da abordagem o masculino reagiu usando a força física, os policiais incumbidos de tirar o andarilho da via tiveram que se aproximar do masculino e utilizar os meios necessários para conte-lo. Nesse contexto o Policial Bonifácio que é canhoto em contato físico o masculino acabou colocando a mão em sua arma que estava coldreada e ali conseguiu arrancar sua arma e efetuar um disparo que acertou a perna do Bonifácio, sendo que o Policial Márcio estava logo atrás do seu parceiro e acabou tropeçando no próprio Bonifácio e caiu no chão a mais ou menos 1 metro a frente, o masculino efetuou mais dois disparos que pegou no braço e na cabeça executando o Márcio, nesse momento houve uma pane no armamento, então o masculino decidiu colocar a arma na cintura e retirar a arma do Bonifácio que estava no chão indefeso com um tiro na perna e em seguida executou o Bonifácio com um tiro na cabeça.
Márcio Hélio era natural de Baturité, no Ceará, e estava na Polícia Rodoviaria Federal (PRF) desde o ano de 2006, ja tendo atuado no Estado e em Roraima. Ele era casado e deixa um filho. Já Raimundo Bonifácio ingressou na corporação um ano antes, em 2005. Ele era natural de Viçosa, no Ceará, e atuou também nos estados do Maranhão e Roraima. Ele era casado e deixa duas filhas. A PRF divulgou nota de pesar pela morte dos oficiais. “O falecimento dos nossos policiais entristece toda a instituição. Manifestamos irrestrito apoio à família e nossa solidariedade a familiares e amigos neste momento de dor”, diz o órgão.
Essa é uma ocorrência lamentável e infelizmente frequente no nosso país, dessa vez dois policiais experientes e capacitados contra um cara psicologicamente doente e perigoso, sendo executados pela sua própria arma. Vale destacar que a PRF faz um excelente trabalho atualmente no que diz respeito a treinamento e capacitação de seus agentes, estrutura e aquisição de equipamentos de qualidade.
Ocorrências Policiais em cenários de guerra
A taxa de mortes policiais de forma violenta é 0,83 morte de policial para cada um milhão de habitantes, é 72,4% maior do que a Argentina (0,48) e quase 6.000% maior do que o Reino Unido (0,014). Uma carnificina fúnebre, são 500 policiais mortos em média por ano, para se ter uma idéia, nos EUA, morrem em média 70 policiais por ano.
O mais impressionante é que nos EUA existem gangues perigosíssimas, pode-se comprar armas de fogo em supermercados ou lojinhas na esquina (o que comprova, mais uma vez, que esse papo de desarmamento da população civil é conversa pra boi dormir dita por militantes de má fé), tem graves problemas com terrorismo e étnicos, além de ter uma população muito maior que a nossa, o Brasil tem 200 milhões de pessoas e os EUA 300 milhões, o que mostra que ao invés do paraíso utópico prometido pela esquerda, foi entregue um inferno real, já que o Brasil tem em média quase 70 mil homicídios por ano, enquanto nos EUA são 12 mil.
Olavo Mendonça.
Na guerra do Iraque morreu em 8 anos 4 mil soldados americanos, o Brasil só em 4 anos a metade, morreu 3 mil policiais.
Os policiais brasileiros combatem o crime em um estado de guerra num sistema de segurança precário com uma justiça benevolente a criminosos.
E nunca será o suficiente o treinamento, o conhecimento, a capacitação, que são virtudes e necessidades perecíveis e exigem um treinamento constante, atualizado, moderno, com protocolos coerentes em uma mentalidade alinhada com equipamentos decentes em que o Estado deve oferecer e o policial deve buscar também.
Nossas habilidades podem ser requisitadas a qualquer momento, sem aviso prévio, e quando chegar esse dia, você vai rezar que elas sejam suficientes para você sobreviver.
A verdade sobre Treinamentos
Não sei se os policiais assassinados tinha algum treinamento combativo envolvendo cenários de retenção mas independente disso o fato ocorrido é um alerta a uma situação que pode acontecer com qualquer um, é está cada vez mais frequente e as pessoas treinadas também estão sujeitas a morrerem, infelizmente faz parte. E não são todos os treinamentos disponíveis dentro de uma instituição que vai validar a sua capacidade, e nem todos realmente estão coerentes com o contexto.
Na verdade o treinamento deve ser apropriado para reduzir essa probabilidade, aumentando a proficiência apartir do condicionamento, da técnica, de estratégias, equipamentos, construção de habilidades inerentes ao serviço policial,…
As coisas ruins acontecem o tempo todo. Acontece com pessoas boas, e acontece as vezes sem explicação. O filósofo George Santayana é frequentemente citado como a origem da frase: “Aqueles que não conseguem se lembrar do passado estão condenados a repeti-lo”. Outras iterações incluem: “Aqueles que não aprendem com o passado estão condenados a repeti-lo”.
Diversas vezes vemos vídeos de policiais sendo mortos em circunstâncias de Combate Corpo a Corpo em que sua arma é tomada de sua mão ou de seu coldre. A questão é, se você já viu algum vídeo desse e foi buscar conhecimento sobre, parabéns, você está dentro de uma minoria, caso ao contrário, é preocupante e assustador, pois você é uma vítima em potencial.
E esse sinal não é só para os policiais mas sim toda a comunidade armamentista que postam suas armas nas redes sociais como seus prêmios em meio a coleções, gostam de ir nos clubes de tiros, atirar em alvos no estilo desportivo. Como se tudo isso resumisse as complexidades de confrontos armados que contornam a descontrolada violência no país. Se você carrega uma arma de fogo e não é policial, a mesma violência que me assola e afronta e a mesma que te assombra e pode te matar.
Nem tudo se resolve com habilidades de tiro, e o cenário nem sempre vai ser do jeito que você treina ou que você pensa. Isso é inegável.
Você treina para ser sentir bem ou você treina para ser melhor e mais preparado? Cérebro antes do ego.
Ameaça preferida
Imagina duas opções de supostas ameaças que você vai enfrentar, você pode escolher só uma: a primeira não tem nenhuma passagem criminal e nunca matou ninguém a segunda tem passagens por roubo, porte de arma, violência doméstica, receptação….
Claro que você vai escolher a primeira opção, ninguém quer combater um adversário com um ciclo de violência extenso, experiente e preparado para matar. Mas não escolhemos a ameaça em uma VIOLÊNCIA REAL, nem sequer cogitamos, esperamos alguém burro e idiota, tentando alguma coisa criminosa contra nós.
Até o ser mais idiota pode te matar por um erro idiota seu!!!
O inspetor Darlan Antares, chefe da 3ª delegacia da PRF, informou nesta quinta-feira (19) que o suspeito e assassino, identificado como Antônio Wagner Quirino da Silva, 31 anos, trabalhava como pedreiro na cidade de Aratuba, mas estava vivendo nas ruas desde o ano passado. O policial disse que, conforme informações relatadas pela familiar, o homem passou por problemas psicológico após ter o nome relacionado em um roubo de uma moto, mas não se sabe qual é essa relação.
Apesar do relato da irmã Antônio Wagner, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), Antônio Wagner não possuía antecedentes criminais.
O que ocorre logicamente é que quando estamos treinando cursos com doses de rusticidade e dores, buscamos um parceiro magro, não muito forte e que não seja tão difícil ganhar dele. E construimos uma ameaça preferida de um treino preferido, aonde temos habilidades sendo prejudicadas com um roteiro de pratica finito e manjado.
Não vejo problema em treinar com pessoas mais fraca que você, o problema que isso pode tornar você arrogante e com sentimento de invencível. E nem sempre àquele que aparentemente é o mais frágil é o menos perigoso. Nunca subestime a capacidade de um indivíduo, sempre tenha em mente que ele seja igual ou melhor que você.
Ja ouviu a frase “Como ferro afia o ferro, o homem afia o outro”?
Este verso foi escrito em um momento em que os homens transformaram as ferramentas agrícolas em armas para o combate. Eles esfregavam pás de ferro, forquilhas e arados juntos para formar lâminas afiadas. Eles usariam essas lâminas para lutar e matar seus inimigos. O verso ensina que, assim como esfregar 2 peças de ferro juntos, cria armas eficazes para o combate, quando dois homens se afiam, tornam-se armas eficazes para a vida. Os homens que treinam, encorajam, admoestam, desafiam, disciplinam-se e se apoiam mutuamente. Quem afia você? Quem você afia?
É assim que deve ser seu treinamento, com adversários diferentes, fortes e implacáveis, porque no dia do encontro inusitado com a sua ameaça aleatória, sua vitória tem que ser sua sobrevivência apesar das adversidades e a degradação de suas habilidades mais especiais em um cenário que não tem script e totalmente volátil.
Equipamento custa caro, e sua vida ?
Qualquer coisa realmente ruim e digna de discussão atende a um critério importante: Você deve treinar em torno da falha. Uma avaliação realista da necessidade, risco, habilidade e conhecimento experimental são requisitos para poder dizer “funciona super bem”.
Se você não experimentou uma falha ou quebra, não é porque seu produto é ótimo ou você ‘tem um bom’, geralmente é porque você não encontrou o ponto de ruptura. Sem essa experiência, você obtém uma cascata de más práticas e confianças traiçoeiras.
Estou falando isso porque os dois policiais envolvidos na ocorrência já supracitada estavam com coldres nacionais carimbados pela péssima qualidade. E um deles eu usei durante 3 anos no serviço ostensivo policial, e tive péssimas experiências com ele, uma delas a trava do coldre abria facilmente, por esse motivo em uma ocorrência que entrei em vias de fato com o suspeito ela saiu do coldre e caiu no chão…
“Uma coisa que você tem que lembrar – uma ligação de uma ocorrência policial – a cada ligação que você faz, há uma arma lá. É o que você traz… Uma arma!!!
É um fato preocupante que vale a pena lembrar, porque todos os anos policiais são mortos por suas próprias armas de fogo.
policial Keith Garcia, um veterano de 27 anos de serviço.
Hoje uso um coldre em Kydex de alta qualidade com plataforma Safatiland com travaSLS de retenção reforçada. O propósito do coldre é guardar a sua arma de forma segura e acessível, a grande maioria não foram construídos para sustentar pressões e situações de alta intensidade.
E os que fazem isso são extremamente caros, e muitas vezes inviáveis para um policial que ganha 3 mil reais por mês.
O maior conselho que dou é:
Quando começa os cuidados para evitar que qualquer pessoa encoste no armamento com o intuito de causar dano ao Policial?
Começa no momento que você estiver com sua arma a sua disposição. No serviço, no local de trabalho, na ocorrência,…A segurança desse armamento é de responsabilidade do policial. Qual é a chance de ter uma arma de fogo em uma ocorrência Policial?
A resposta é 100%!!!
No momento que o policial está inserido no cenário já existe uma arma de fogo, e a probabilidade de ocorrer qualquer tipo de evento ou crise envolvendo essa arma é consideravelmente alta. Muitos treinamentos de retenção ao redor do país se preocupa em técnicas reativas, isso quer dizer que, os exercícios e simulações dessas técnicas e táticas inicia quando a suposta ameaça coloca a mão no armamento. E isso é repetido diversas vezes!!!
Então são 1,000 repetições da ameaça colocando a mão na arma certo!?
No final do dia o aluno sabe mais reações do que preocupações!!
Se seu coldre não satisfaz as condições de um bom coldre, então sua preocupação tem que ser ainda maior, e o treinamento de como evitar ainda mais.
Resolver um problema físico usando arma de fogo.
O engajamentos de alcance a curtas distâncias, você precisa de ambas as mãos para estabelecer e manter o domínio postural e posicional. Você pode usar estrategicamente técnicas de grappling ou clinch para ganhar uma posição superior e menos vulnerável.
Esses são pré-requisitos absolutos e não negociáveis para acesso a armas em combate, fato. Tentar trazer a arma primeiro em distâncias muito curtas causam duas coisas problemáticas:
A primeira, torna um combate físico em força letal, e a segunda, transforma uma luta em uma briga pela arma. Literalmente uma situação de retenção, e totalmente desnecessária!!
O verdadeiro conceito sobre o treinamento de retenção não é uma maneira de permitir que você atire enquanto estiver sendo atacado fisicamente; é uma maneira de reter sua arma desse ataque, uma vez que você já se comprometeu com a arma na luta. Sendo assim protegendo ela, e criando chances para sair da situação e ter condições plenas de tiro. Especificamente falando, essa é uma situação ruim. Não é algo que você tenta fazer. É apenas uma opção “Ultima Ratio”, para tornar uma situação muito ruim vencível. Principalmente quando a luta for para chão, e as técnicas de retenção são primordiais para te manter vivo.
A resposta não é “encontre uma maneira de colocar sua arma em ação ou numa retenção“, é lute para sair dessa situação usando grappling/clinch/técnicas de retenção ou abrindo uma oportunidade utilizando uma faca, que não falha mecanicamente ou exige habilidade motora fina para operar, e pode ser usada para conquistar um domínio no combate, a faca é extremamente intimidadora e letal.
Resumo
A perda da arma de fogo por um descuido, falta de atenção ou por simples saque, também podem estar motivadas pelos procedimentos recorrentes do policial no resguardo com sua arma dependendo do seu nível de treinamento. Nesse sentido, em se tratando de lutar com sua arma e lutar sem ela, torna-se crucial, uma conjuntura de obras habilidosas não facultativas em cenários de Retenção e Contra Retenção, uma premissa para todos os policiais e atiradores que tem uma arma de fogo.
Assim, faz-se pertinente uma experiência carregada de ações e reações corretas e conectadas aos tentáculos da sua capacidade; física, psicológica, neurológica e fisiológica, resumindo no preenchimento do copo empírico e pragmático, na sagacidade do treinamento adequado, modificando não só sua maneira de lutar visando a sobrevivência como também, seu status comportamental, agora mais poderoso, predisposto e inclinado a escolher as ferramentas corretas para tomada de decisões importantes nessa integração das valências que treme o corpo e educa o cérebro.
Deixo aqui toda a minha solidariedade e respeito com os policiais assassinados hoje, combateram o bom combate, que Deus os receba de braços abertos, e que apartir de hoje sejam nossos anjos protetores do mal e da escuridão.