A alguns dias na Texas Expo tive a oportunidade de conhecer a história de dois heróis da Brigada militar (Polícia Militar) do Rio Grande do Sul. Eles estavam no estande da Desmodus, fabricante nacional de torniquetes. Primeiramente encontrei o Rodrigo Dewes, ele reagiu a um assalto a mão armada em uma farmácia e levou um tiro na perna, que posteriormente contraiu uma infecção no local e teve sua perna amputada. Posteriormente conheci o outro policial envolvido na ação, Styer Ferraz, que foi quem salvou a vida de Dewes aplicando um torniquete na perna ferida, o sangramento máximo foi controlado dando tempo de chegarem ao hospital e salvando assim a vida de Dewes.
Vou deixar vocês com o relato de Styer Ferraz sobre o evento:
Para aqueles que não sabem a nossa história dia 03 de setembro de 2019 por volta das 21 horas na cidade de Rio Grande -RS meu irmão Rodrigo Dewes no seu momento de folga reagiu bravamente a um roubo no estabelecimento comercial onde aguardava atendimento, dois indivíduos anunciaram o roubo e de pronto ele reagiu alvejando ambos os assaltantes, sendo que um deles veio a óbito no local e restando o policial ferido por dois disparos sendo um no abdômen e outro na perna direita que transfixou e pegou na outra perna rompendo a arterial femoral da esquerda.
Alguns kilometros do local eu e meu dupla fazíamos uma abordagem policial quando ouvimos o alerta na rede de rádio “colega baleado no local prioridade na rede” de pronto abandonamos a abordagem e deslocamos o mais rápido possível levando em torno de 2 minutos até o local, ao chegar visualizamos um veículo saindo e realizamos a abordagem no volante estava um senhor de idade mais elevada com um tom pálido, olhos esbugalhados e uma voz trêmula me proferiu as seguintes palavras “meu guri, está cheio de gente morta lá dentro” a alguns metros da entrada corri e presenciei uma cena que jamais havia visto por se tratar de um irmão de farda, a vidraça estourada, sangue espalhado por todo lugar, o cheiro de sangue se misturava com o da pólvora um dos indivíduos tentava fugir rastejando após ter sido alvejado, ao correr rapidamente o olhar pro interior da farmácia visualizei um corpo estirado e cercado por sangue, fizemos uma breve revista e algemamos o ferido, procedemos na entrada com o máximo cuidado e técnica possível passando pelo corpo estendido no chão aquele sentimento de esperança encheu meu peito ao ver que aquele corpo já sem vida não era do meu irmão, após mais alguns metros o encontrei muito ferido e em choque devido a perda de sangue excessiva com muito esforço e voz baixa me proferiu as seguintes palavras “ainda bem que vocês chegaram, eu vou MORRER!”
Naquele momento foi uma mistura de meu Deus e agora? Com toda certeza não teríamos tempo para chegar até o hospital que ficava a cerca de 7 kilometros do local, joguei o fuzil para as minhas costas saquei meu Torniquete de combate alcancei pro meu dupla que estava próximo aos pés de Rodrigo e pedi para me alcançar já em torno da perna ferida realizei a aplicação o mais alta e apertada possível, neste momento chegou no local um colega de folga que passava por lá e parou para prestar apoio, colocamos nosso irmão ferido na viatura e deslocamos com toda brevidade e cautela possível com a certeza que carregávamos o bem mais importante do universo, a vida de um guerreiro, Igor dirigia com maestria e tranquilidade modulando no rádio “colega baleado saxo, dois disparos um no abdômen e outro na perna, avisa a Santa Casa, torniquete aplicado” e foi passando as coordenadas de onde estávamos a cada rua.
Eu estava com os joelhos apoiados no banco da frente, virado para trás segurando a mão de Rodrigo e dando diversos tapas na sua cara toda vez que esboçava sinais de desmaiar, “fica comigo porra, estamos chegando, aguenta firme” chegamos ao hospital em 5 minutos e ele com vida, minha missão foi cumprida e a dos outros dois policiais também um por combater e sobreviver e outro por fazer a melhor “boleia” que eu já tinha visto.
Confesso que desconhecia que teria tal capacidade mas foi tudo extremamente automático, simples e eficaz e hoje temos esse exemplo Rodrigo Dewes guerreiro, sobrevivente e letal. Muito obrigado por deixar que eu fosse protagonista desta grande história da tua vida e da sobrevida também. Uma história real, da vida real que nem eu mesmo tinha contado com tantos detalhes e sentimentos até o dia de hoje, com erros e acertos, nem tudo foi extremamente tático ou impecável como reza a cartilha mas foi verdadeiro, com visão de túnel, nervosismo e com a melhor técnica que consegui empregar no momento.
Torniquete Salva Vidas
A poucos dias atrás estava na gravação do curso de Controle de Hemorragias, ministrado pelo Aranha e pelo Dr. Filipe da Quiron Treinamentos para a Comunidade InfoArmas que irá estrear nas próximas semanas (Se inscreva aqui) e é impressionante como ainda há tanto no mundo civil/militar quanto no médico um preconceito contra o Torniquete. Sendo que o mesmo é utilizado com grande frequência em salas cirúrgicas hoje em dia.
Devemos lembrar que em um ambiente de emergência (ferimento provocado por confronto armado, acidente de carro ou moto, ou qualquer outro com sangramento massivo) devemos priorizar o controle dessa hemorragia que pode matar a vítima em minutos. Como disse o Dr. Filipe durante o curso: “nosso coração é uma bomba excelente, feita para bombear praticamente o todo do nosso sangue a cada minuto quando estamos em repouso. Um ferimento em uma Artéria ou Veia principal pode servir de dreno para todo o volume de sangue em poucos segundos. O controle de hemorragias é fundamental para preservar a vida e o torniquete é hoje nossa melhor ferramenta para sangramento massivo em membros”.
Aos que muitas vezes argumentam que na hora dá para improvisar. uma pesquisa da Jama Surgery indica que a taxa de sucesso com um torniquete improvisado é de apenas 32%, isso levando em conta pessoas preparadas e que tinham os materiais necessários em mãos. Enquanto entre aqueles que aplicaram torniquetes reais a taxa de sucesso subiu para 92,2%. O especialista em APH de combate Rodrigo Aranha traduz bem a necessidade de se usar o equipamento original e não contar com a sorte do improvisado quando ele coloca a seguinte situação: “Você entraria num vôo com sua esposa e seus filhos sabendo que o avião tem apenas 32% de chance de chegar no seu destino? tendo 68% de chance de cair no meio do caminho?” não brinque com a sorte, carregue pelo menos um torniquete sempre com você.