Foto por Alejo Reinoso on Unsplash
No dia 19 de fevereiro de 2008, na cidade de São José do Rio Preto/SP, um policial estacionou o carro e permaneceu dentro dele, juntamente com sua filha de 12 anos de idade. Ele estava aguardando a chegada de sua esposa.
Sem aviso, um homem entrou no carro pela porta traseira e, de arma em punho, ordenou que o policial dirigisse. Enquanto dava ordens ao policial, o criminoso apontou a arma para a cabeça dele. Segundos depois, o ladrão saiu correndo do carro e caiu morto 20 metros adiante.
O que disse a imprensa?
“R.S.S., 23 anos, foi morto anteontem por volta das 20 horas pelo agente da Polícia G.A., 44 anos, durante uma tentativa de assalto. Segundo consta no boletim de ocorrência, o agente estava dentro do carro dele, um Ecosport, em frente à casa da cunhada à espera de sua mulher, quando notou a aproximação de R.S.S. em direção a porta traseira do veículo. O rapaz, que estava a pé, abriu a porta, anunciou o assalto e ordenou que o agente descesse do carro. Nesse momento, G.A. tirou da cintura uma pistola nove milímetros e efetuou cinco disparos contra o assaltante. Três deles acertaram o braço e o peito do rapaz. Mesmo ferido, R.S.S. saiu do carro e caiu no chão. Compareceram no local profissionais da unidade de Resgate e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que constataram o óbito.” (DIÁRIOWEB, 2008).
O que disse o policial?
“O meliante sacou uma arma de fogo e apontou para minha filha chamando-a de vagabunda, uma criança de 12 anos, que estava no banco traseiro. Eu que estava no banco dianteiro com a arma no colo, empunhei-a e calmamente passei pela frente do meu peito e posicionei-a embaixo do meu braço esquerdo que estava apoiado na coluna do veículo, o conhecido ‘sovaco’. Nesse ínterim, o marginal apontou a arma para minha pessoa e gritou: ‘Toca porra…!’ Nesse momento, ele desviou atenção para fechar a porta, instante que efetuei os disparos atingindo-o mortalmente. Graças a Deus estou aqui contando essa passagem e, ainda melhor, podendo beijar minha filha e educá-la para um país melhor, onde o bem vencerá o mal.” (G.A., 2008).
O que o policial fez de errado?
O único erro que o policial cometeu foi estacionar na rua e permanecer dentro do carro. Apesar de ter sido o único erro, isso foi o suficiente para o bandido aproveitar a oportunidade e cometer o crime.
Quando você estaciona seu carro e fica dentro dele, você é um alvo fácil. Se alguém se aproxima do carro para furtá-lo, e você está lá dentro, o que seria um simples furto pode se transformar num sequestro ou assassinato. Esperar dentro do carro é confortável, mas perigoso. Esperar fora e longe dele é desconfortável, contudo mais seguro. O desconforto sempre passa, mas as consequências do crime e da violência duram para sempre. Por isso, nunca espere alguém ou alguma coisa dentro do carro. Saia e vá para um local mais seguro.
O que o policial fez de certo?
Para compensar o fato de estar dentro do carro e numa condição extremamente vulnerável, o policial sacou a arma e a colocou no colo para usá-la logo, caso algo ocorresse. E quando o policial percebeu que ele e sua filha seriam levados para outro local, reagiu imediatamente. Ele disparou e continuou a atirar até o criminoso desaparecer.
Pense nisso: roubar alguém é fácil e rápido, mas o sequestro, o estupro, a tortura e o assassinato não seguem a mesma dinâmica. Para que essas atrocidades ocorram o criminoso precisa dominá-lo e levá-lo para outro local. O único objetivo para levá-lo de um lugar para outro é impedir que o crime seja testemunhado por outras pessoas, dificultando que você receba o socorro para continuar vivo. E se você for levado para outro lugar, sua chance de escapar ou lutar é mínima.
Um ladrão só precisa de alguns segundos para fazer o trabalho dele e ir embora, mas a tarefa de um maníaco ou assassino cruel leva mais tempo. Assim, o policial resistiu e reagiu logo antes mesmo que saísse do lugar e chegasse ao seu destino final, onde ele poderia ser tortura e morto e sua filha violentada. Ele arriscou tudo na hora porque se estivesse com o criminoso num local isolado, só haveria tempo para lamentação e arrependimento por não ter feito nada. Além disso, era bem provável que os comparsas do ladrão estivessem esperando por ele. Com a superioridade numérica, os bandidos teriam melhor condição para revistar e assassinar o policial.
No dia 21 de fevereiro de 2008, tive a satisfação de conversar com esse colega e parabenizá-lo pela atitude. Enquanto ele narrava o fato, me disse que quando percebeu a oportunidade de reagir, pensou: “É AGORA!”. Conheço bem esse pensamento, porque foi o mesmo que me ocorreu em 1998 durante uma tentativa de assalto.
Por que essa frase é importante?
Porque é a frase que separa os sobreviventes dos perdedores. Quando alguém diz “É AGORA!”, isso reflete seu comprometimento com a própria segurança e seu condicionamento mental para a sobrevivência.
Quando você assume a responsabilidade por sua própria segurança, isso lhe dá a motivação para fazer o que for necessário para sobreviver caso o pior aconteça, ou seja, alcançar um objetivo determinado por antecipação. Esse condicionamento da mente fundamenta-se numa reação rápida e objetiva. A presença da sua arma não muda nada, pois você ainda precisa estar mentalmente orientado para um propósito (a sua segurança).
Por isso, até que você tenha atingindo esse objetivo e esteja em casa com sua família, você não pode desistir de sobreviver.
No entanto, a polícia costuma dizer que se você não reagir, o criminoso não vai lhe ferir. A verdade é que nenhum policial pode lhe dar essa garantia. Contudo, o que o criminoso vai fazer com você, só ele sabe. Então, cabe a você decidir o que vai fazer para salvar a sua vida: acreditar no bandido e fazer o que ele manda ou acreditar em você e seguir suas próprias ordens.
A decisão de ser obediente não o protege das consequências de um crime. Na verdade sua submissão cede o controle ao criminoso, a menos que você reaja rápido e leve o caos para o lado dele. Quando você reagir, verá o desespero estampar-se na cara dele, pois agora você é a ameaça.
Você consegue realmente atirar numa pessoa?
Não é blefar, mas ATIRAR contra alguém que ameaça a sua vida. Lembre-se, você está diante de alguém capaz de lhe matar. Provavelmente ele já tentou fazer isso com outras vítimas. Portanto, você tem que ser curto e grosso. A hesitação ou a compaixão provavelmente vão fazer com que o criminoso tome a sua arma e a use contra você.
E só para você lembrar…O policial G.A. está vivo, ao lado da família e aposentado! Já o criminoso foi enterrado dia 20/02/2008 no cemitério São João Batista.
Ah! Quase me esqueci. A frase dos perdedores (que normalmente estão mortos) é: “AI, MEU DEUS!”