Há algum tempo atrás, apareceram imagens nas redes sociais sobre um caso de assaltantes de banco que trocaram tiros com a polícia do Paraná e acabaram alvejados. Uma situação criminal que é infelizmente corriqueira no Brasil. Mas nesse caso, um fato inusitado ocorreu, foram achados materiais de atendimento pré-hospitalar no veículo e nos arredores do fato.
Muitos se assustaram com o fato desses marginais terem esse conhecimento e deles, possivelmente, terem se salvado com a utilização do material médico. E na sequência queriam atribuir alguma culpa nas mídias sociais e nas pessoas que ensinam procedimentos simples de resgate em redes abertas.
Eu entendo e compartilho a indignação de pessoas que se arriscaram no dia-a-dia para a defesa da sociedade e quando criminosos como esses, que feriram homens de bem, pais e mães de família que não voltaram para seus filhos, não terem a punição devida pelo estado, que é visivelmente deficiente nessa ação. O trabalho policial é muitas vezes ingrato, prender várias vezes o mesmo indivíduo para que apenas ele volte para a liberdade em alguns anos, mesmo com crimes bárbaros nas costas. É o famoso “enxugar gelo”, mas é o nosso trabalho e devemos fazer isso com a melhor das nossas capacidades e brigar para que o sistema judiciário se atualize e faça uma reforma penal.
Mas essa nossa indignação não pode ser cega, porque nada na vida é uma avaliação totalmente preta ou branca, devemos ver os assuntos em paletas de cinza. Pesar os prós e contras das situações e ser isentos, no máximo possível, de emoções que possam nublar as nossas decisões.
Nesse sentido, peço que me acompanhe nesse texto o meu raciocínio, pois iremos colocar e pesar na balança do bem e do mal os fatos.
Nesse caso acima dos assaltantes de banco, existe a alta probabilidade que eles voltem a fazer crimes e arrisquem a vida de outros policiais e da população. Então esse conhecimento aberto na internet pode entrar na possibilidade do mal.
Agora quero compartilhar que semanalmente recebo casos de alunos e pessoas da internet que salvaram vidas de familiares, deles mesmos e de outros colegas policiais só pela informação que receberam pelas minhas mídias e pelas mídias de tanto outros que levantam a bandeira do APH de combate. Só a felicidade de saber que uma vida de uma pessoa de bem foi salva com esse conhecimento já vale todo esforço e dinheiro investido nisso. Essas vidas definitivamente entram na balança do lado do bem.
Todo o trabalho nas mídias digitais para mudar a mentalidade do policial no Brasil que hoje entende a importância do APH de combate, de ter em suas mãos a ferramenta para voltar vivo para a sua família, foi o que levou milhares deles a procurar cursos de capacitação. Isso também entra na balança do bem.
Também semanalmente recebo mensagens de médicos e enfermeiros que nunca souberam da possibilidade de trabalhar nessa área e querem entrar na seara para ajudar os policiais de todo o Brasil, tanto no ensino quanto nas operações policiais. Isso também eu adiciono no lado do bem.
Todos os instrutores formados por nós, que disseminam o conhecimento em suas unidades e que souberam disso através das mídias. E adivinha: coloco do lado do bem!
Só de pesar esses fatos nessa imaginária balança moral do bem e do mal e pensar que não teve mais efeitos positivos que negativos é ter uma visão muito estreita da realidade ou uma má-fé escondida por algum ganho qualquer.
Imagine se parássemos de ensinar massagem cardíaca porque alguém desavisado poderia fazer uma massagem em uma pessoa que parou o coração na rua e esse paciente era um bandido? Todas as pessoas que foram salvas no mundo todo, por esse ato simples e facilmente aprendido na internet, não teriam sido salvas!
Pensar que em medicina o conhecimento básico para salvar uma vida deve ser restrito é colocar a emoção no lugar da razão! E quando isso vem de pessoas da área da saúde é uma limitação intelectual impressionante que nunca pensei que presenciaria.
Acredito sim, que certos procedimentos e certas informações devam ter o sigilo e a responsabilidade devidos, tanto na medicina quanto nas técnicas policiais. Pois, com isso, diminuímos o ritmo de conhecimentos aprendidos pelos marginais e isso faz com que conseguimos ficar na frente. E assim, também na medicina, evitamos danos a pacientes por pessoas que não tem ideia do que fazem e que do podem acontecer de ruim quando se faz um procedimento avançado sem um treinamento correto.
Portanto, na minha bussola moral, estamos no azimute correto! E para mim, os fatos demonstram isso, pois eu não queria voltar no tempo e ter que falar para as pessoas de bem que se salvaram, que eles iriam morrer. Porque o que elas aprenderam não poderá ser ensinado, pois, um bandido possivelmente se salvou com esses conhecimentos.
Caso você ache que eu estou errado, estou aberto a discutir e aprender o quanto você está errado.