Imagine que todos os seus Drills dão certo no estande, que a troca de ambidestria ou a transição para arma backup sai de forma fluída e harmônica. Então lhe convido para “navegar” no mundo real, onde de Murphy’s Law afetará o sistema de forma brutal! Agora estamos falando de realizar um transição de arma longa para costa com a finalidade de controlar e algemar um suspeito, transpor um muro durante o início de operação policial para garantir o rompimento do portão que só pode ser acessado pelo lado de dentro, “escalar” entre muros e sacadas a fim de garantir uma entrada mais segura e o apoio a Equipe de Assalto. Nenhuma das narrativas podem ser replicadas num estande, talvez a primeira durante uma sessão do Mestre Charneski.
Este artigo é uma releitura de uma artigo lançado por mim há cinco anos e que foi atualizado e revisado pelo Grande Mestre Jedi “Doc Maniglia”. Sendo assim, baseado na minha experiência decorrente do uso, bem como da observação em cursos e estágios, resolvi descrever as valências que abrangem uma bandoleira de duas pontas referência no mercado mundial(VTAC Two Points Sling). Esta análise é uma somatória de experiências obtidas em operações, cursos, missões de treinamento, rotina de serviço, basicamente em vários cenários: mata, urbano e plataforma aérea. Em suma, tudo baseado na minha experiência, estudos, observações ou feedbacks passados por outros operadores de unidades referências aqui no Brasil e também no exterior.
As bandoleiras de uma maneira geral possuem algumas funções básicas: transporte da arma, manter a arma “ligada” ao corpo, possibilitar o acesso a arma backup ou manter as mãos livres para acessar algum equipamento(Ex.: uso do aríete). As particularidades podem variar de acordo com o terreno, missão ou função do operacional. Entenda que a bandoleira deve atender a necessidade do operador, de acordo com a missão e o terreno.
Fatores Avaliados
A analise baseou-se em três fatores que considero primordiais: Ambidestria, transição para a arma backup e retenção para transição de obstáculos(ou controle de suspeitos). Existem outros pontos como área de trabalho(posição onde são feitas as recargas), resistência e segurança.
A bandoleira de duas pontas é o modelo mais difundido no meio policial e militar em todo o mundo, talvez pela sua simplicidade e também pelo tempo em que ela está empregada nos combates e caracteriza-se por possuir dois pontos de fixação. Para análise deste tipo de bandoleira, utilizei a marca referência neste conceito, a “VTAC two points sling” do Ex-Delta Kyle Lamb.
Ancoragem
Os melhores pontos de ancoragem para este tipo de bandoleira são a extremidade da coronha(chapa da soleira) e próximo da base do handguard, isto facilita a transição pois mantêm a arma mais estável, libera o espaço para a “área de trabalho” e permite um melhor controle da arma pelo operador. Se eu fosse falar de retenção e contra-retenção com armas longas daria apenas uma dica: quem controla a coronha, controla o fuzil! Esta configuração facilita as apresentações da arma partindo da posição de High Port(Guarda alta) e High Ready(Pronto alto). Veja o nosso artigo “Canos para baixo ou canos para cima”.
Redneck ou Drop Off Side?
Vale lembrar que você pode adotar duas posições básicas de uso: Redneck e Drop Off Side. Na primeira posição a bandoleira ficará apenas em volta do pescoço dando ênfase a dinâmica de manipulação da arma, principalmente na adoção da “área de trabalho”, porém dependendo da plataforma do armamento que você utilizará(AR15, FAL, G36, G3, IA2), o peso e o tamanho poderão ser relevantes em fatores como conforto, controle e transição.
Enquanto na posição Drop Off Side a bandoleira é vestida por baixo do braço (lado contrário ao coldre) melhorando o controle da arma durante o tiro, nas posições de tiro e na transição da arma longa.
Ambidestria
Não é um modelo que privilegia a ambidestria, porém existem remédios para esta limitação, dentre eles a utilização do ponto de fixação próximo ao low reciver(ainda prefiro na extremidade da coronha), criando o “espaço” necessário para a troca de empunhadura. Outro forma é a partir da posição Redneck e realizar a troca de empunhadura, porém neste caso você deverá estar com bastante folga na bandoleira. Na bandoleira da VTAC, existe um sistema de ajuste rápido, facilitando este tipo de manobra.
Transição
O modelo em questão permite uma excelente transição da arma longa para a arma curta, sem a existência do inconveniente da arma longa permanecer solta ou balançando durante um deslocamento, inconveniente que existe no modelo anterior de uma ponta. Ressalto novamente o sistema de ajuste rápido, que permite ajustar a bandoleira ao corpo durante os deslocamentos.
Retenção
Este é um ponto forte da bandoleira de duas pontas, tendo em vista sua fixação em dois pontos extremos da arma, proporcionando uma excelente fixação junto ao corpo quando a arma é lançada para as costas ou na lateral. Obviamente que o sistema de ajuste rápido otimiza a regulagem, de forma a deixar a arma bem justa ao corpo. Esta retenção se acompanhada com a utilização do Weapon Catch, mantém uma simbiose perfeita entre arma e corpo do operador. Acredito que neste ponto, a bandoleira de duas pontas supere o modelo de ponta única, assim como na situação de lançar a arma para transição e mantê-la livre na frente do corpo.
VCQB® CARBINE (Combate Veicular)
Manter a bandoleira fixa por uma borracha na coronha ou no handguard facilita a sua movimentação no interior do veículo. A bandoleira de duas deve possuir um “sistema de ajuste rápido”, bem como um “sistema de soltura rápida” para facilitar a configuração do operador e possibilitar a soltura em caso de emergência ou situação atípica da operação(fita da bandoleira presa em alguma estrutura do veículo ou equipamento).
Pontos positivos
No meu ponto de vista este modelo é o melhor dentre os três modelos apresentados no mercado(Uma ponta, Duas pontas e Três pontas), tendo em vista o conforto (distribuição do peso), segurança (pontos de fixação), transição e retenção. A bandoleira pode ser utilizada em qualquer tipo de arma longa, sendo fácil de usar e permitindo muita liberdade para o usuário. Além de todas as valências avaliadas, existe ainda a situação de estabilizar a arma para o tiro quando ajustada para isto. Esta bandoleira somada ao sistema de ajuste rápido é excelente para qualquer ambiente, operador ou missão. Basicamente reúne as melhores características aliada a simplicidade.
Pontos negativos
Enquanto a bandoleira de ponta única permite uma perfeita ambidestria, o modelo de duas pontas necessita de algumas recomendações, dentre elas a fixação na parte traseira do low reciver ou a adoção de uma manobra partindo da posição Redneck, porém existe ainda o inconveniente das bandoleiras com o comprimento curto, que dificultam a utilização da “área de trabalho”, mas que pode ser resolvido com os dispositivos de ajuste rápido.
Considerações
Procure um equipamento que se adapte as suas necessidades e que desempenhe da melhor maneira o seu tipo de operação, entre um dia “ensolarado no estande” e a aplicação de técnicas e conceitos no mundo real, há um abismo a ser vencido através do treinamento e na reflexão entre o que realmente funciona e o que pode ser considerado “lixo procedimental”.
Quer aprender mais sobre bandoleiras e definir a melhor forma de emprego no seu tipo de operação? Então venha treinar com a ESPERANDIO TACTICAL CONCEPT no nosso novo MÓDULO de VQCB® CARBINE, serão dois dias do emprego de carabina no contexto do COMBATE VEICULAR!