Discutimos a respeito das técnicas dos “gringos” e o fato dos caras terem “super credenciais” e poderem falar e argumentar sobre tudo. Aqui no Brasil qualquer proprietário de perfil de instagram se torna especialista e se tiver alguma “credencial”, formação ou especialização em outra área ele se dá ao direito de falar como “entendedor” de tudo. Leia credenciais como “curso de especialização na área ou experiência profissional naquele ambiente de atuação”. Lembrando que se você toca violão, provavelmente não terá proficiência suficiente para dar aulas de teclado.
Existem duas considerações a serem feitas sobre especialistas e suas credenciais:
- O quanto ser uma “mega operador” influencia na área em que ele vai ministrar a instrução? Ser habilitado em operações aéreas não me torna apto para falar de operações ribeirinhas.
Infelizmente nós “transferimos autoridade” para um especialista em determinada área e o tornamos especialista em TODAS as áreas. Um exemplo disso é o fato que nossas mães já foram a maior referência em autoridade que conhecíamos e perguntávamos tudo a elas. Hoje eu te questiono se você perguntaria a ela sobre a melhor opção de plataforma AR15 do mercado? (minha mãe responderia SIG SAUER…) A autoridade, conhecimento sobre determinado assunto, das nossas mães foi amplo em aspectos gerais na época em que éramos crianças, porém hoje é muito pontual.
Com a onda de instrutores nas redes sociais e o alcance da informação ou desinformação temos um rol de especialistas, que definem tudo de tudo…incrível como esses “ especialistas” não possuem um lastro de AUTORIDADE sobre aquilo que falam. Se pudessem ficar calados sobre aquilo que não dominam e opinar sobre aquilo que acham que sabem, talvez até pudessem passar por sábios ou entendedores de suas áreas de atuação.
Vamos definir Autoridade como aquele que possui conhecimento prático ou teórico naquela área, de forma a entender o assunto dentro da sua complexidade e abordá-lo de várias perspectivas. Porém, ele é reconhecido por outros como uma autoridade, ministrar aulas para várias instituições e em vários estados do Brasil e também no Exterior, somado a publicar artigos é um excelente indicador sobre ser uma autoridade naquele assunto.
Já o “entendedor” é aquele que talvez ouviu falar ou se acha competente o suficiente dentro da sua própria ignorância para debater sobre algo que não domina. Muitas vezes o “entendedor” padece do Efeito Dunning Kruger. Os cientistas Dunning e Kruger se perguntaram se a ignorância geralmente anda de mãos dadas com o excesso de confiança, logo “perdedores têm ilusões de grandeza” e “incompetentes pensam que são impressionantes” (citando o autor D.R).
2. O quanto esse operador ou instrutor sabe transferir conhecimento durante uma sessão de treinamento?
A competência de ensinar alguém ou ser um instrutor não é inerente a sua “credencial” de operador. A exemplo disso podemos pegar uma situação onde um tripulante operacional (policial que trabalha embarcado em aeronave) pode ser muito bom em disparos de fuzil em plataforma aérea, porém é “mediano” ou “sofrível” no manuseio em armas curtas.
Um operador bom em desempenhar na área em que se propõe, em regra deveria dominar aquela área e ser um bom multiplicador, No entanto, nem sempre a regra é constante.
Precisamos entender que “credenciais” não lhe torna um especialista de todos os assuntos. Falo de credenciais pois tenho cursos operacionais em diversas áreas como o Curso de Operações Táticas Especiais (COTE) da CORE PCERJ, COTE GRUPO TIGRE PCPR, Curso de Operações Aéreas (COA) PCSC, Sobrevivência Policial (Lima-Peru) HRT FBI, Pós Graduação em APH Policial (MARC) pela Escola Superior de Polícia PCPR, além de outras formações, porém isto não me torna o especialista em todas as áreas do conhecimento operacional. Pelo contrário, estas credenciais me dão uma perspectiva de o quanto eu sou ignorante ou desconheço determinadas áreas do mundo operacional.
A minha credencial de Operador Multimissão (Curso de Operações Aéreas) me torna apto para salvamentos em altura, no mar e operações policiais com plataforma aérea, isto significa que as competências (Táticas, Técnicas e Protocolos) que orbitam sobre estes três campos me dão capacidade para analisar e comentar sobre operações com emprego de aeronave no cenário policial, somado a minha experiência pessoal no trabalho aerotático. No entanto, ainda há uma limitação, pois eu posso julgar baseado na Doutrina da minha unidade, não nas demais doutrinas utilizadas no Brasil.
Precisamos compreender como instrutores, que “credenciais” não lhe tornam apto a julgar ou opinar sobre todo e qualquer assunto relacionado a armas de fogo e técnicas operacionais ou lhe torna um “especialista” em determinado assunto é a profundidade de conhecimento e experiência que você tem a respeito dele, além da capacidade de conectar o assunto a outras áreas do saber.
A humildade intelectual é definida como “a consciência dos limites do nosso conhecimento e a incerteza inerente aos nossos julgamentos”(citando o autor D.R), logo, aproveite esta perspectiva para desenvolver os seus pontos de melhoria e fortalecer aquilo que se sente apto a ensinar, ou padeça sobre o Efeito Dunning-Kruger onde a estupidez lhe torna o conhecedor e soberano de tudo, cuidado com a “Maldição da Expertise” ela te coloca num ponto cego acerca de outras perspectivas sobre aquilo que você julga.
Criar discursos e se promover como palestrante de Instagram não lhe faz um especialista, qualquer um pode falar, só resta falar. A pessoa que já se tornou uma Autoridade mostra e vive dos seus resultados, as pessoas falam dela e sobre o que ela fala. Autoridade não se ganha, se conquista, o resto é mero palpite.
VAMOS COM TUDO!!! Nos encontramos na linha!!!