Os significados mais difundidos falam que o atirador ativo é um indivíduo ou um grupo de indivíduos engajado em matar ou em tentar matar pessoas que estejam numa área com uma maior presença de pessoas. Existem algumas outras definições e dentre elas uma feita em conjunto pelas Agências e Forças de Segurança americanas, que tratam do tema delimitando a área do evento como populosa, podendo ou não ser confinada. Juntando a área populosa ao ambiente confinado, vale frisar para um melhor entendimento, que encontraremos locais maiores, tais como escolas, estações de transporte público, locais destinados a espetáculos e outros mais.
CRÍTICAS PARA A NOMENCLATURA
A nomenclatura de atirador ativo, em que pese seu uso corrente e sedimentado pelo tempo através de veiculações no exterior, encontra críticas desenvolvidas por diferentes ópticas.
A primeira delas, de suma importância, está na correlação de armas de fogo aos resultados. Armas são apenas ferramentas e sozinhas são incapazes de produzir resultados, quaisquer que sejam eles.
Há parte na doutrina que inclusive aponta o uso de outros instrumentos, faca por exemplo, como possíveis para a configuração da modalidade, o que torna a nomenclatura, no mínimo, inadequada.
Nesse contexto, entendemos como muito mais coerente a dicção usada pela doutrina israelense, qual seja “ataque de sacrifício”, por admitir a utilização de qualquer meio ou ferramenta para produção dos resultados pretendidos (faca, coquetel molotov, caminhão, explosivos, etc).
https://chameleonassociates.com/no-such-term-as-active-shooter/
INSTRUMENTOS E FINALIDADES
Além disso, quando falamos só em atiradores, devemos nos lembrar de atividades prazerosamente ligadas a atividades esportivas, à caça e ao colecionismo. Atividades lícitas e que requerem um sem número de pré-requisitos para que sejam realizadas.
Armas também podem estar ligadas à subsistência, basta lembrarmos de pessoas que vivem em áreas bem distantes dos centros urbanos e até de cidades predominantemente rurais. Locais onde não existem açougues e nem mesmo pequenos mercados, além da ausência do fornecimento de energia elétrica, que nestes locais talvez seja acessível somente por meio de geradores.
Ainda com o mesmo raciocínio das armas como meros objetos ou ferramentas desprovidas de vontade autônoma, citamos que são também utilizadas pelas Forças de Segurança ou por pessoas com porte, para questões de defesa, de uso legal da força, ou uso em possíveis interrupções das atividades de atiradores ativos. O Estado, por limitações óbvias, não se faz presente em todos os lugares e situações.
POLÍTICAS QUE PODEM SALVAR VIDAS

Exemplo do exposto no último parágrafo foi o que ocorreu em 29 de dezembro de 2019, numa igreja do Texas, onde um instrutor de armamento e tiro, membro da congregação e voluntário para as atividades de segurança interrompeu o início do que com certeza seria mais um caso de violência em massa. Duas pessoas foram mortas e uma ferida até o momento em que esse senhor de 71 anos atirou no perpetrador.

https://www.bbc.com/news/world-us-canada-50952443
Link sugerido para maior detalhamento desse caso.
UM CASO OCORRIDO NO BRASIL
Em 7 de abril de 2011, no período da manhã, um atentado com essas características típicas de violência em massa marcou também o Brasil. O ocorrido se deu numa escola de Realengo, no Rio de Janeiro. Foram 12 alunos mortos e 22 feridos até o momento em que um sargento do Batalhão de Polícia de Trânsito Rodoviário e Urbano (BPRV), interrompeu as agressões realizadas por um homem de 23 anos de idade, o responsável pelos crimes. Wellington Menezes de Oliveira foi atingido por duas vezes por disparos de arma de fogo, um na perna e um na barriga, vindo então a cair da escada que dava acesso ao andar superior e, logo em seguida, a cometer suicídio, atirando contra a própria cabeça. Frisamos que este evento não foi o único no Brasil.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Massacre_de_Realengo
ALGUMAS CARACTERÍSTICAS COMUNS A ESSES ACONTECIMENTOS
Atento a episódios como esses que ocorreram nos Estados Unidos da América, o “U.S Department of Homeland Security” (Departamento de Segurança Interna dos E.U.A – numa tradução nossa), apresentou algumas características desses tipos de eventos, que foram apontadas em conjunto por Departamentos de Polícia, mas sem o objetivo de exaurir o tema e tendo-se em vista a singularidade de cada evento, a saber:
- Os atiradores ativos almejam atingir mais de um alvo, que podem ser determinados indivíduos ou o maior número de indivíduos aleatoriamente escolhidos;
- Esses tipos de atos são normalmente motivados por ódio, não visando geralmente ganhos financeiros ou motivações comuns em outros crimes. Isso se mostra bastante relevante na medida em que táticas policiais voltadas para contenção e negociação podem se demonstrar equivocadas para essa hipótese, isoladamente considerada;
- Geralmente há planejamento detalhado para a consecução do fim desejado;
- Em muitos casos os atiradores ativos possuem mais armas do que a própria polícia;
- O atirador pode possuir alguma familiaridade com os locais escolhidos;
- Há também uma tendência suicida nos atiradores ativos. Além disso não há por parte deles também aquela intenção usual de criminosos comuns, a de fugir e se esconder da polícia e das Forças de Segurança. Eles não fazem questão de omitir suas identidades;
- Em algumas situações eles escolhem locais que lhes permitam uma vantagem tática.
O CASO DE LAS VEGAS
Destacando a singularidade já mencionada anteriormente, cabe lembrar um caso que se destacou por sua atrocidade e ações pouco usuais, tudo com muito planejamento.

No dia 1º de outubro de 2017, durante um espetáculo de música Country em Las Vegas, a ação de um atirador deixou mais de 50 mortos e mais de 500 feridos. Para mudar o raciocínio natural de imaginarmos alguém armado caminhando durante a ação, estando todos, perpetrador e vítimas, num mesmo ambiente, nesse caso os disparos partiram de uma janela do 32º andar do Mandalay Bay Resort and Casino, a cerca de 400m das vítimas. Os destaques desse evento, que foi tido como dos maiores assassinatos em massa dos nossos tempos nos EUA, servem para nos mostrar que não há regras para atentados dessa natureza, havendo no máximo linhas e contornos gerais de ajuda na prevenção, especialmente em cuidados possíveis com segurança, atendimentos pré-hospitalares, dentre outros.
https://edition.cnn.com/2017/10/02/us/las-vegas-shooting-live
O FATOR TEMPO
Além de tudo já explanado e mencionado, outro fator importante está ligado ao tempo. Episódios como os narrados são de curta duração, sendo que os mais longos duram apenas minutos. Isso faz com que as primeiras respostas possam fazer muita diferença, de maneira geral. Inclusive como o visto na Igreja do Texas. Por outro prisma, cada segundo pode representar uma vida, justificando intervenções mais tempestivas e menos cirúrgicas, em contraste com as mais planejadas, que com certeza demandariam calma, serenidade e treinamento muito além do normal, o que nos chama atenção inclusive para os chamados erros nas considerações do Direito.
O ÁRDUO TRABALHO POLICIAL E AS AÇÕES DE CONTINUIDADE
No caso do Mandalay Bay foi uma equipe especializada que adentrou o local de onde partiram os disparos. O emprego de pessoal com treinamento específico é o ideal (proteções pessoais e armamentos de assalto, proteções móveis e maiores para a equipe e para as funções específicas de maior exposição, procedimentos adequados exaustivamente treinados e mais padronizados, habilidades para demolições e uso de explosivos para abertura de vias etc.), mesmo não sendo o que pode vir a ocorrer, por conta do já citado fator temporal. A tomada do ambiente pela equipe policial ocorreu em um momento em que a violência planejada já havia cessado. O ato era necessário e imprescindível, mas em relação aos mortos e feridos, desse caso, podemos dizer que não houve mudança nos resultados, especialmente porque quem cometeu aquela atrocidade já tinha dado cabo à sua própria vida. A missão foi essencial e só poderia ser feita com sucesso e prevenção, como foi, por pessoal especializado, homens com uma vida dedicada às Operações, repetimos.
OS ATAQUES OCORRIDOS NA FRANÇA EM 2015
Acreditamos também que os momentos que se sucedem e as formas de combate e repressão a atiradores ativos e a ataques de sacrifício podem, na nossa visão, mudar durante o desenrolar dos acontecimentos. Profissionais de Forças diversas só terão a capacidade de agir eficaz e conjuntamente fazendo uso de princípios gerais de combate (uso de coberturas, abrigos e barricadas, de ações diversionárias e de técnicas de ação imediata), mas com dinamismo.
Link onde imagens incríveis de momentos como os que estamos tentando ilustrar foram captadas. Essas foram com os Operadores de Forças de Segurança combatendo o terrorista do Bataclan (teatro/caso de espetáculos). As imagens falam por si.
Caso os responsáveis por essas bestialidades façam reféns, fujam e se homiziem, poderemos e precisaremos ter mais tempo para ações repressivas especializadas, com menor brevidade para mobilização de pessoal e até a execução de um planejamento mínimo. Isso dependerá de quanto os governantes entenderem da importância de investimentos a ponto de pessoal de qualidade maior poder permanecer de prontidão ou no mínimo de sobreaviso. A França parece ter aprendido ou pelo menos permaneceu em alerta após o ocorrido no início daquele mesmo ano.

Acreditamos aqui que, em razão dessas circunstâncias, estaríamos diante de outras configurações doutrinárias (situações com reféns; marginal / terrorista barricado?), o que poderíamos discorrer a respeito numa outra publicação.
Além disso, as rotulações e “etiquetamentos” nominativos terão menor importância do que o correto e difícil entendimento das melhores ações (consciência situacional + bagagem de treinamento + treinamento embasado nas realidades + experiência de combate) nos locais e nos momentos da linha cronológica.
Em outras palavras, ainda que já não mais houvesse o confinamento já citado como possível requisito do conceito, mesmo os espaços sendo abertos e grandes, talvez até entre ruas, esquinas e veículos, com a situação crítica e extremamente agressiva, já com pernas mais velozes, pouco importará o nome. Valerão muito mais os usos das proteções existentes e as formas de combate dos primeiros a enfrentar a situação. Surgindo reféns e a situação agora com outra aparência, melhor ainda entender essas mudanças o quanto antes.
LOBOS E OVELHAS???
Além desses apontamentos expostos acima, podemos tranquilamente dizer que uma outra característica se mostra bem marcante nesse contexto. Enquanto uma pessoa ou um grupo delas almeja promover grande número de mortes ou lesões graves, tendo inclusive se preparado para isso, o público “escolhido” está desarmado, na tranquilidade típica de atividades rotineiras, de trabalho, de diversão e outras nesse viés de serenidade de espírito, de normalidade, pelo menos quanto à sobrevivência.
CONCLUINDO
Após pesquisarmos e viajarmos pelo mundo, podemos tranquilamente dizer que pessoas boas estão por todas as partes e lugares. Infelizmente, uma realidade universal nos diz e mostra que certa parte da humanidade é exatamente o oposto disso e procura ferir e exterminar a vida dos outros. Essas últimas pessoas citadas que desejam causar esses e outros danos, com certeza encontrarão maneiras de fazê-los, sejam em crimes comuns ou em atos de terrorismo ou terrorismo doméstico.
Referências:
https://chameleonassociates.com/no-such-term-as-active-shooter/
https://www.fbi.gov/about/partnerships/office-of-partner-engagement/active-shooter-resources