Recentemente eu vi o anúncio de um porta algemas com retenção por presilha plástica, tipo “macho e fêmea”. O equipamento estava preso ao cinto de trabalho e posicionado nas costas do operador (na altura da coluna vertebral). Então, vou tratar das retenções de um porta algemas de qualidade.
Existem vários modelos, e a escolha tem relação com a preferência pessoal e a padronização do cinto do policial.
Então, eu cito os de plástico injetado, os termoplásticos, os de nylon, os trilaminados e de couro. As retenções também variam:
- Moldado: o molde prende as algemas.
- Botão: uma tampa envolve, fecha e trava as algemas por um botão de pressão; o botão pode ser visível ou não.
- Velcro: substitui o botão.
- Tira flexível com botão: em vez de envolver completamente as algemas, apenas a tira as envolve e faz o fechamento.
Nesses modelos, uma característica comum: a capacidade para liberar a retenção com só uma mão. Por quê? O uso da algema se dá, muitas vezes, em situações de conflito onde o estresse e a urgência estão presentes. Isso significa que as habilidades motoras fina e complexa (que exigem a coordenação dos dedos e mãos; e envolve múltiplos componentes) estão em declínio. Por isso, o equipamento policial deve favorecer a simplicidade no manuseio.
Além disso, em muitas ocorrências, os policiais não estão com as duas mãos livres, pois é provável que uma das mãos esteja contendo os movimentos do braço do suspeito. Portanto, é imperativo que apenas uma das mãos seja capaz de retirar as algemas do seu invólucro.
As retenções por molde, botão e velcro permitem que o policial use todos os dedos de uma vez, da maneira que for viável (uso “bruto”), para pegar as algemas.
Isso implica que uma retenção por presilha “macho e fêmea” não funciona, pois exige um tipo de coordenação motora não disponível: os dedos polegar e indicador devem exercer pressão simultânea nos dois lados da presilha.
Mas o policial não algema o agressor só depois de controlar a situação?! Nem sempre! Por isso, todo equipamento TEM a obrigação de ser funcional nas piores ocorrências.
E sobre o posicionamento do porta algemas no cinto policial? Mais uma vez relembro a imagem do porta algemas (com retenção por presilha plástica) localizado na parte de trás da cintura.
O porta algemas (abreviarei como PA) pode ficar próximo ao coldre. Durante a abordagem, um policial faz a segurança e o outro coldreia a arma e com a mesma mão saca as algemas e as utiliza. Tanto faz se o PA está na frente ou logo atrás do coldre. Tudo é feito com a mão dominante.
O princípio é o uso das algemas com a arma no coldre. Mesmo que os policiais estejam lutando para controlar um agressor que resiste, a arma tem que estar no coldre, já que um disparo pode acertar qualquer um dos envolvidos (o que inclui os policiais); ou o abordado pode arrebatar a arma de fogo.
O PA também pode estar do lado do porta-carregador, já que o saque das algemas pode ser feito com a mão não dominante. De modo similar, o PA pode estar na frente ou atrás do porta carregador.
Nesse caso, o policial tem opções numa distância segura:
- Ele pode sacar as algemas e passá-las LOGO (com a mão reativa) para um colega que não tem o equipamento, enquanto empunha sua arma com mão dominante.
- Pode sacar as algemas enquanto coldreia.
- Pode coldrear a arma primeiro para, em seguida, retirar as algemas do PA. Em todos os casos alguém faz a segurança com a arma de fogo em punho.
O PA pode ainda estar na parte de atrás do cinto, DESDE QUE NÃO TENHA RETENÇÕES, como a presilha “macho e fêmea”. Se alguma retenção estiver presente no PA, ela DEVE permitir uma abertura fácil e rápida, num único movimento. Mais uma vez as retenções por pressão e velcro podem ser usadas.
Finalmente, o policial não deve se aproximar do abordado com a arma em punho, e não deve manter as duas mãos ocupadas com as algemas e a arma de fogo por muito tempo. E para saber mais sobre o comportamento policial, eu sugiro a leitura do livro Sobrevivência Policial – morrer não faz parte do plano.