Sem dúvida alguma o ano de 2020 ficará marcado na História como “o ano do COVID-19“. Ano de isolamento social, desafios (dos mais diversos), LIVES (em demasia), medos e, porque não dizer, incertezas…muitas incertezas!
Reza o dito popular: “o ser humano tem medo do desconhecido“, ou ainda “que o medo da morte é mais aterrorizante que a própria morte“. Isto posto, caros leitores, lembrei-me de um texto que escrevi ao final de 2015, mas que gostaria de revisitá-lo, pois ainda permanece bastante atual.
Basicamente este pequenino texto refere-se ao capítulo 3 – “O mundo de noventa centímetros: Medo”, do livro “NÃO HÁ HERÓIS – Lições de Vida de um Atirador de Elite Americana” (Mark Owen* – Editora Paralela).
*Obs: Mark Owen é o pseudônimo de Matt Bissonnette

Afirmo, sem medo de errar, que esse capítulo foi um divisor de águas em minha vida, e frente aos tempos difíceis que estamos passando, mostra-se ainda bem eficaz. Por esse motivo, caros amigos e amigas, convido-os a adentrarem no “mundo de 90 centímetros.”
“Quatro anos como Navy Seal e escalar ainda era algo desconfortável para Mark Owen…desconfortável não, deveras desconfortável!

A sessenta metros de altura, escalando um enorme rochedo, suando (mesmo com uma corda presa ao meu corpo por questões de segurança) a sensação para quem tem medo não é nada agradável. A mente gritava para prosseguir, mas o corpo simplesmente se recusava. Sentia os braços tremerem com o peso do corpo. Suor descia-me pelo rosto e a palma da mão estava úmida, dificultando ainda mais a tentativa de me segurar.
Olhando ao longe, conseguia ver a Strip de Las Vegas (avenida principal) e o grande deserto que rodeava a cidade. Olhando para baixo, conseguia ver Jeff, um dos escaladores (instrutores) civis que acompanhavam a equipe neste treinamento.
Eu estava tão paralisado, que lá de baixo ele percebeu e comentou: “Quer que eu suba ai para salvá-lo?”, perguntou-me de um jeito engraçadinho. Esforcei-me para encontrar um novo ponto de apoio para as mãos, mas os dedos estavam cansados. “Estou quase escorregando e caindo”, pensei.
O instrutor finalmente veio em minha direção. Ao chegar, percebi que um cigarro pendia em seus lábios enquanto se mantinha agarrado perto de mim. Com uma das mãos na lisa face da rocha, calmamente deu uma tragada, soprou a nuvem de fumaça azul e logo após, em voz lenta e rouca, disse: “Ei amigo, fique em seu mundo de noventa centímetros”.
Como assim? Eu mal conseguia pensar naquela situação e o instrutor acabara de me passar um conselho enigmático! Automaticamente, pensei “Ei, de que diabos você está falando, irmão?”
Ele, parecendo adivinhar meus pensamentos, falou: “Apenas concentre-se em seu mundo de noventa centímetros. Concentre-se naquilo que você pode afetar. Você fica olhando para os lados, e nada disso pode ajudá-lo agora, não é?”
Concordei com um breve aceno de cabeça.
“Você deve estar calculando até onde vai cair, está olhando para os instrutores lá embaixo, mas eles não virão até aqui ajudá-lo. Está olhando para a avenida em Vegas…o que vai fazer, uma aposta cujo prêmio é chegar ao topo? Não olhe pra mim, eu também não vou ajudá-lo, isso é com você. Você está escalando esta pedra, fique em seu mundo de noventa centímetros.”
Jamais esquecerei essas palavras: “Fique em seu mundo de noventa centímetros“.
É libertador livrar-se das coisas que não podemos controlar. Parece que funciona em praticamente qualquer situação. O mundo de noventa centímetros me ajudou a passar por tudo, desde escalar e saltar de paraquedas, a mergulhar à noite quando o único jeito de manter o rumo é conservando o foco na bússola brilhante que levamos no pulso. Das vezes que meu medo quase se tornou pânico (momento crucial em que as coisas fatalmente dão errado), me limitei a permanecer em meu mundo de noventa centímetros, e com isso, voltei a acertar.
O lema dos Navy SEALS é: “O único dia fácil foi ontem”, e durante toda a minha carreira assim foi. Sempre que passo por um momento difícil, não deixo de me lembrar daquele momento da escalada, no penhasco, onde um simples conselho que recebi me fez mudar para sempre: “Ei amigo, fique em seu mundo de noventa centímetros”.”
Caro amigo leitor, se você chegou até aqui (e eu espero que sim!) faço votos que por mais alta que seja a montanha que você esteja escalando ou mais fundo que seja seu mergulho, que você possa recordar dessa breve (mas profunda) lição e focar em seu próprio mundo de noventa centímetros!
Vamos em frente, fiquem bem, e até a próxima!