Considerações Iniciais
Ensinar é uma atividade muito nobre, pois materializa no professor toda uma sensação de liderança e de exemplo a ser seguido.
Certamente até o fim dos nossos dias lembraremos da maioria dos nossos professores da infância, do nosso primeiro professor de inglês, do professor do Karatê, da natação e de todos que de alguma forma contribuíram marcaram as nossas vidas.
“Um professor que tenta ensinar sem inspirar o aluno com o desejo de aprender está martelando em ferro frio.” Horace Mann
Em se tratando de instruções operacionais, mais especificamente nas instruções de tiro, o professor, popularmente conhecido como instrutor, além de ser um profissional capaz de conduzir com maestria as atividades, deverá também ter a capacidade de conduzir todo o processo em segurança e, ainda, ser capaz de motivar o aluno. Conforme estabelece Horace Mann “Um professor que tenta ensinar sem inspirar o aluno com o desejo de aprender está martelando em ferro frio.”
O perfil do instrutor, atualmente.
Na atualidade a atividade de instrução de tiro tornou-se bastante popular, surgindo massivamente uma enorme quantidade de instrutores de tiro que por vezes nem mesmo entendem com clareza qual o seu escopo de atribuições.
O instrutor, como a própria palavra denota, tem a finalidade de instruir (ensinar e adestrar) pessoas e sendo este um instrutor de tiro o seu objetivo será ensinar pessoas a atirar. No entanto a instrução de tiro pode ser dividida em esportiva (recreacional) e operacional, esta última poderá ainda se subdividir em tiro defensivo, policial, tático, dentre outras denominações.
Além disso, ainda existem os instrutores civis, policiais e militares. Alguns instrutores policiais e militares tornam-se instrutores civis, permeando também as atividades de tiro desportivo e alguns instrutores civis começarem a ensinar técnicas policiais a civis aos próprios servidores da segurança. Sinceramente, que me perdoem os adeptos dessa causa, mas não faz qualquer sentido essa direção tomada por alguns instrutores.
Sobre a situação anteriormente elencada, também existem os IAT (Instrutor de Armamento de Tiro) que são cidadãos (civis, policias e militares) credenciados pela Polícia Federal apenas para aplicarem laudos, provas de tiro para questões específicas, como porte de armas, por exemplo, dentre outras atribuições estabelecidas pela PF. Este instrutor, entretanto, mesmo que seja policial ou militar, não está qualificado, por essa certificação, para ministrar cursos operacionais.
Corroborando com tudo isso, várias escolas/clubes de tiro, fins de cumprir as normativas da PF e é claro para obter lucros, ministram os cursos de instrutor de armamento tiro (IAT) com a carga horário mínima de 80 h (estabelecida pela PF para que o cidadão possa realizar o credenciamento), que são apenas cursos que preparam o cidadão para prestar a prova de credenciamento da PF e para a execução das atividades para aquele fim, caso o candidato obtenha êxito no teste de credenciamento.
Ocorre que, dentro desse contexto, muitos alunos saem com um diploma de apenas 80h/aula, (sim isso é muito pouco) – mesmo de escolas sérias e de bastante qualidade – ministrando cursos em clubes de tiro pelo Brasil afora e depois, caso se credenciem, normalmente julgam que já são instrutores formados e não precisam atualizarem-se e treinar.
Temos um problema?
A miscelânea de fatos, acima elencados, apenas mostra o terreno obscuro que todos nós instrutores de tiro estamos adentrando. Pois a formação de um instrutor de tiro não deverá ocorrer, em hipótese alguma, em uma semana, um mês ou mesmo por um número de horas limitado e muito menos se encerrará com o recebimento de um diploma, principalmente se o instrutor for se capacitar para ensinar não somente técnicas de tiro e sim protocolos de autodefesa e sobrevivência.
Imaginem a formação de um piloto de avião. Agora imaginem a formação de um instrutor de pilotos. Este, além de já ser previamente formado um bom piloto, passará por um longo treinamento de instrutor, fará diversos voos acompanhado de outros instrutores, dará aulas de voo com a monitoria de outros instrutores mais experientes e se ao final do processo obtiver êxito será considerado instrutor de voo e apto a ministrar e conduzir instruções individualmente.
Mas por que nas instruções de tiro não ocorre o mesmo? Essa é uma pergunta de difícil resposta, até porque o contrário também ocorre. Ou seja, instituições policiais e militares colocam instrutores com capacitação deficiente para conduzir suas instruções dentro da corporação. E, ainda, muitos instrutores policiais e militares, apenas por ostentar o título nas suas corporações, e outros que nem o título possuem, se aventuram no pujante mundo da instrução civil.
Controvérsias a parte, até porque não tenho a fórmula e nem a competência funcional, para equacionar um problema tão complexo, proponho que todos nós instrutores façamos um exame de consciência e analisemos primeiro o que nos fez nos tornamos instrutores, quais foram as nossas motivações e como foi o nosso processo de formação.
Temos uma resposta e uma solução?
Eliphas Levi dizia que “Um bom professor deve ser capaz de se colocar no lugar daqueles que acham difícil a aprendizagem.” Será que nós instrutores temos isso bem assimilado? E será que somos capazes de ensinar de verdade a uma pessoa que para sobreviver ela poderá ter que matar?
Muito bem, feito o exame de consciência , a próxima pergunta seria: temos o pleno domínio do conhecimento a que vamos transmitir?
A depender da resposta, toda aquela miscelânea de fatos que foram anteriormente elencados poderá ser facilmente desentranhada. Ou seja, um IAT não deverá ministrar instrução de Combate Veicular, por exemplo; assim como um instrutor de tiro desportivo não deverá dar aulas Tiro Tático; ou um policial ou militar, só por ter a prerrogativa do cargo, não deveria ministrar aulas de Entradas Táticas em Ambientes Confinados.
O papel do Especialista
O instrutor deve ser um especialista no que faz e pronto. Instrutor não é estilo de vida, como se ouve bastante por aí, e sim um profissional sério, motivado e preparado para levar pessoas a uma outro nível de conhecimento.
Entendo que o instrutor deve desenvolver algumas características:
- Pensar diuturnamente na atividade
- Manter -se atualizado
- Convencer pela capacidade
- Possuir ética profissional
- Procurar contribuir para o Ecossistema da instrução de tiro
- Comprometimento total com o aluno
- Preparar-se tecnicamente para condução das atividades
- Manter o foco nas atividades do aluno
- É apaixonado pelo que faz
Conclusão
É importante que fique bastante claro que este artigo não teve a intenção de criticar qualquer classe, categoria ou pessoa individualmente e sim trazer uma reflexão a todos nós – sim, isso mesmo, me incluo também – de como estamos encarando essa nobre missão de passar conhecimentos que propões salvar vidas humanas.
Outrossim, não esqueçamos que muitas pessoas deixam suas famílias no final de semana e se entregam nas nossas mãos. Sendo assim, seria, além de imoral, muito perigoso transmitir para essas pessoas o que não sabemos ou o que não fazemos.
No entanto se decidimos que vamos continuar, que sigamos com os ensinamentos de Benjamim Franklin: “Diga-me e eu esquecerei. Ensina-me e eu me lembro. Envolva-me e eu aprendo.”