Introdução
Quando escolhemos andar armados, optamos por um “estilo de vida” e não simplesmente pela prerrogativa de portar uma arma. Precisamos entender que muitas coisas irão mudar. Não poderemos mais usar qualquer roupa que quisermos, precisaremos pensar em fatores como onde vamos nos sentar em um restaurante, como iremos conduzir o nosso carro e o que iremos fazer caso alguém resolva tentar a sorte e nos arrebatar a arma. Cada um desses pontos já merece um artigo específico. Não obstante a importância dos demais temas, neste artigo tratarei sobre o porte velado de arma de fogo, pois é um tema que suscita muitas dúvidas, posicionamentos e questionamentos. É claro que os temas se conectam e serão enfatizadas ao longo do trabalho.
Por questões didáticas, resolvi dividir o tema em três partes, cada uma em um artigo, de maneira que possa apresentar o assunto com a profundidade. Inicialmente serão tratados os aspectos que devem ser levados em conta para a escolha da arma, tipo de roupas, retenção de arma etc. Na segunda parte, o foco será nas posições de porte, mostrando os prós e contras das posições mais ortodoxas, e na terceira parte serão mostrados os tipos de coldres, com suas vantagens e desvantagens.
Ao portar uma arma, é preciso ter em mente alguns fatores importantes:
- Características da arma;
- Acesso à arma e velocidade de saque;
- Dissimulabilidade e vestuário;
- Retenção da arma.
2. Características da arma
Armas menores obviamente são mais fáceis de portar, porém o tamanho da arma não pode ser o único fator a ser considerado. Se assim fosse, recomendaria pistolas 6.35mm Browning, que são extremamente compactas, porém apresentam um desempenho balístico deplorável. Por outro lado, portar uma pistola Desert Eagle.50 Action Express também não é a melhor opção, não só porque é praticamente impossível esconder aquele trambolho, mas também porque o recuo exacerbado da arma a torna uma opção inadequada para defesa.
Em linhas gerais, uma boa arma para portar deve apresentar um calibre com bom desempenho balístico, mas que possua um tamanho que a torne possível ser portada de maneira dissimulada. Quanto ao calibre, várias pessoas me perguntam qual é o melhor. Respondo que TODOS os calibres de uso policial (9mm Luger, .40 S&W, .45 ACP como os principais) são excelentes opções, sendo mais importante o tipo de munição do que o calibre em si. Já em relação ao tamanho da arma, isso varia de acordo com o tamanho da pessoa que irá portar. Uma arma que tem um tamanho bom para mim pode ser uma arma grande para você, e vice-versa. (Lembre o leitor: Tamanho = peso)
Quanto ao tipo de arma, este fator também é muito variável. Revólveres apresentam a vantagem da simplicidade, com menores possibilidades de panes, porém tem capacidade de cartuchos reduzida e uma recarga lenta, mesmo que usando os speed loaders, que também demandam. Ainda, demandam mais treino de tiro em virtude do maior peso e arrasto do gatilho. Já as pistolas podem apresentar uma boa capacidade de carga, velocidade de recarga e melhor cadência, porém tais vantagens de nada adiantam se não houver um mínimo de conhecimento e treino de resolução de panes.
Ainda sobre as armas, a existência de quinas vivas e teclas atrapalha consideravelmente o porte dissimulado, trazendo desconforto e oferecendo risco de agarrarem em peças de roupas no momento do saque. Já armas com quinas mais arredondadas são mais confortáveis ao porte e tem menos riscos de agarrar no momento do saque.
3. Acesso à arma e velocidade de saque
A arma para defesa deve estar facilmente acessível para permitir um saque rápido. Essa questão é inegociável. Em situações de defesa, teremos uma fração de segundo para sacar a arma e atirar e o tempo é um fator crucial. De nada adianta portar uma arma para defesa se, para sacá-la, gastamos eternos dois ou três segundos! Qualquer pessoa consegue com pouco treino efetuar de dois a três acionamentos de gatilho em um segundo, de forma que em uma situação de emprego, os dois ou três segundos de demora podem significar de seis a nove tiros efetuados pelo oponente. Algumas pessoas optam por portar a arma em bolsas, mochilas e pochetes, tornando o saque rápido praticamente impossível. A velocidade do saque é o fator que faz com que a maioria absoluta das posições de saque sejam a partir da linha de cintura.
4. Dissimulabilidade e vestuário
Portar uma arma de maneira velada demanda mudança no vestuário. A escolha das roupas não será ditada pelas tendências da moda, mas sim pela praticidade de saque aliada à dissimulabilidade da arma. Na escolha das roupas, o tamanho das peças deve levar em consideração o uso da arma. Calças escolhidas com tamanho um ou dois números acima do caimento ideal, camisetas mais folgadas e um pouco mais compridas, com peças estampadas ou lisas escuras e de tecido não muito elástico passam a ser melhores opções.
As mulheres já sabem que padrões listrados, principalmente na horizontal, ressaltam as curvas do corpo e também a curva da arma portada na cintura. Peças mais escuras reduzem a silhueta, mas também disfarçam melhor as armas. Cintos devem ser preferencialmente com fivelas arrebitadas ou do tipo BDU para suportar o peso da arma, ao invés das presilhas de pressão dos cintos sociais. Camisetas para dentro da calça, que dificultam muito o saque, deixam de ser uma opção, a não ser em tempo de frio, já que o paletó ou jaqueta farão o trabalho de esconder a arma. Em resumo, a finalidade da roupa será dificultar a identificação da arma. A elegância fica em segundo plano.
5. Retenção da arma
A retenção da arma é um fator importante a ser considerado. Não é escopo deste artigo abordar as técnicas de retenção e contra-retenção, entretanto se faz necessária uma breve explanação sobre o assunto. Uma das técnicas de retenção de arma existentes, principalmente sob múltiplas ameaças, é se deitar no chão sobre a arma protegendo-a. Dependendo da posição de porte esta técnica pode se mostrar pouco eficiente ou até mesmo inviável.
6. Conclusões
Nos artigos seguintes trataremos sobre as posições de porte e tipos de coldres, levando em consideração os fatores mencionados nesta primeira parte. Apresentarei mais algumas considerações sobre o porte velado de armas de fogo, não com o objetivo de esgotar o assunto, que é muito amplo, e sim visando desmistificar alguns conceitos que levam a uma escolha muitas vezes inadequadas. Só para se ter uma ideia, nos EUA existem livros inteiros falando sobre o assunto! Um exemplo é o livro do Massad Ayoob que comprei coincidentemente DEPOIS de ter escrito a primeira versão deste artigo! Minha expectativa é conseguir despertar a curiosidade sobre o assunto.