Você é capaz de sacar uma arma mais rápido que um marginal segurando uma arma pode disparar contra você? Com toda certeza qualquer saque é mais lento que uma arma não mão. Não importa o quanto rápido você seja, uma arma na mão pula etapas que compõem o movimento do saque. Logo, quanto menos movimentos, menor o tempo de execução de uma determinada ação.
A resposta a esta pergunta é retórica pois sabemos que uma arma na mão é o fim do objetivo almejado na ação do saque, no entanto vou adicionar complexidade na próxima pergunta:
“Um policial pode ser mais rápido do que um suspeito com uma arma na mão?”
Deixe eu esclarecer esta questão, no caso de um policial encontrar um suspeito segurando uma arma de fogo apontada para o chão, caso o suspeito decida atirar contra o policial e este partindo da reação baseada no inicio do movimento do agressor em levantar a arma até a altura do rosto e disparar, teria o policial chance de disparar antes?
Sinto informar aqueles mais incautos ou que se julgam conhecedores das dinâmicas do confronto armado, dificilmente, para não dizer que é virtualmente impossível um policial atingir o marginal antes que este realize um disparo contra o policial. O pior cenário ainda vem acompanhado da grande possibilidade de um disparo não ser suficiente para neutralizar ou cessar a injusta agressão, colocando o policial e outras vidas em risco durante esta ação.
Vamos entender como o nosso cérebro e o nosso corpo funcionam nesta sistemática do confronto armado, e então aprender a identificar padrões e otimizar o treinamento que melhorem as nossas chances num cenário complexo e mortal como esse apresentado.
O CÉREBRO REACIONÁRIO
A forma como o ser humano processa as informações apresentadas pelo ambiente externo é chamada de TEMPO DE REAÇÃO. O TEMPO DE REAÇÃO é o intervalo entre a recepção do estímulo(visual, cinestésico, auditivo, gustativo ou olfativo) e o início da resposta(AÇÃO MOTORA). A velocidade da tomada de decisão e a execução da resposta entram num conjunto maior chamado TEMPO DE RESPOSTA.
Outro conceito importante é o TEMPO DE MOVIMENTO que consiste no tempo de execução da ação motora(ex.: sacar a arma e disparar). Obviamente que o TEMPO DE MOVIMENTO está ligado a complexidade e amplitude da ação a ser executada, sacar a arma partindo de um coldre externo na lateral da perna requer menos ações se comparado ao saque partindo do coldre na região frontal num coldre posicionado no interior da linha de cintura e coberto por uma camisa(saque velado).
O TEMPO DE RESPOSTA compõe a somatória do TEMPO DE REAÇÃO(Processo Cognitivo) e o TEMPO DE MOVIMENTO(Processo Motor ou Ação Motora) daquilo que será executado com base na Tomada de Decisão do policial.
ESCOLHENDO ENTRE O REPTILIANO E O HOMEM INTELIGENTE
A TOMADA DE DECISÃO da espécie humana foi configurada com base no nosso sistema evolutivo, logo tudo o que fazemos sob estresse ou situações de perigo iminente está relacionada ao binômio: simplicidade e velocidade. Respostas simplistas andam de mão dadas com velocidade na tomada de decisão e na execução destas respostas. Quanto maior a complexidade no processamento da informação, maior a lentidão na sua tomada de decisão. Então o nosso sistema evolutivo configurou o nosso cérebro para rodar em dois Sistemas Operacionais distintos, porém simultâneos: “Sistema 1” e “Sistema 2”.
Os sistemas trabalham juntos, porém em momentos diferentes. Quando a informação necessita de raciocínio lógico e análise pormenorizada, então a região do Córtex entra em ação e trabalha no melhor sistema “online”, rodando num processamento serial mais lento, porém mais preciso. Chamamos ele de “Sistema 2” ou Processando “online”.
Por outro lado só sobrevivemos como espécie ao longo dos anos porque nosso cérebro criou um mecanismo capaz de identificar padrões e gerar reações automáticas(Reflexo ou Reações Instintivas) ou a partir das experiências e nos tempos mais modernos através do treinamento uma Resposta Intuitiva baseada no reconhecimento de padrões. Este sistema trabalha sem processamento cognitivo consciente(você não sabe que está pensando nele), mas ele está trabalhando 24h por dia e tem um processador muito mais veloz e efetivo que o utilizado pelo seu córtex. O Hardware utilizado está localizado no Sistema Límbico que modula as emoções humanas e no Sistema Reptiliano que regula as respostas de Luta ou Fuga. Por este motivo chamamos este Sistema de “Sistema 1” ou Processamento “offline”.
NÚMEROS E CONFRONTOS ARMADOS
Quando um policial encontra uma ameaça segurando uma arma de fogo, ele precisa entender o contexto a qual se apresenta a situação e ler o cenário em que ela ocorre. Todas estas informações são processadas nos dois Sistemas, enquanto o processamento cognitivo(“online”) tenta buscar uma resposta adequada para o problema, o processamento “offline” sem usar orçamento cognitivo trabalha numa velocidade duas vezes maior e é ativado através de alguns fatores como: compressão de tempo, distância e risco de morte. Então com estes dados ele resolve se aquela situação envolve uma demanda maior que a capacidade do policial(estresse) ou se ele apresenta formas de resolver o problema(ansiedade). Tudo isso influencia diretamente seus recursos cognitivos(maior tempo para a tomada de decisão) e nas suas habilidades motoras(degradação da performance) por conta da resposta hormonal modulada pela amígdala localizada no sistema límbico.
Considerando os estudos realizados nos EUA por um dos maiores institutos sobre confrontos policiais e reações armadas, o FORCE SCIENCE INSTITUTE e pesquisadores da área como Martin L. Flackler nos traz alguns números que devem ser considerados antes de entrarmos no cerne deste artigo.
Analisando a velocidade com que uma ameaça segurando uma arma executa o movimento de apontar a arma para o policial e dispara contra ele, temos os seguintes números:
- Sacar a arma da linha de cintura e realizar um disparo na posição(Combat Tuck – Speed Rock): 0,230s ou ¼ de segundo;
- Atirar de frente para o policial e executar um giro de 90° com o corpo ficando de costa para o policial: 0,320s ou aproximadamente ⅓ de segundo;
- Atirar de frente para o policial e executar um giro de 180° com o corpo ficando de costa para o policial: 0,370s ou aproximadamente ⅓ de segundo;
- Acionar o gatilho com o dedo no gatilho: 0,365s
- Acionar o gatilho com o dedo fora do gatilho: 0,677s
- Girar o tronco num movimento de 180°: 0,676s
- Girar o tronco num movimento de 90°: 0,310s
Estes números são apanhados de pesquisas distintas e de diferentes autores( J. Pete Blair, Larry Hahn, Duane Wolfe, Bill Lewinski, E. J. Tobin e Martin L. Flacker), no entanto em qualquer um dos parâmetros quando confrontados, percebe-se que o policial que reage a uma ação está em desvantagem em relação ao agressor e que antes da execução dos disparos a ameaça ainda consegue executar um giro de tronco de 90° ou 180° antes que o policial consiga iniciar a ação de acionar a tecla do gatilho.
O CÉREBRO E A TOMADA DE DECISÃO
Se você chegou até aqui então entendeu que o processamento de informações antecipa a execução da resposta motora, desta forma o TEMPO DE RESPOSTA é composto por TEMPO DE REAÇÃO + TEMPO DE MOVIMENTO. Os dados apresentados estão relacionados ao TEMPO DE MOVIMENTO, onde o processo mais simples, a complexidade está no que antecede a ação, neste caso o TEMPO DE REAÇÃO.
Entenda que tudo o que o policial faz demanda muito tempo, seja sacar ou disparar, até mesmo buscar um abrigo que lhe ofereça proteção balística. Tudo leva tempo porque o policial precisa processar os inputs(informação sensorial) e buscar a melhor solução apresentada pelo Sistema 1(offline) ou na sua falta de opções ele recorre ao Sistema 2(online), mesmo que demande mais tempo pela questão da complexidade. A escolha entre um ou outro não é deliberada e depende da forma como o nosso cérebro processa a demanda ambiental e os recursos disponíveis para resolvê-la.
Se tomarmos como base a mesma pesquisa citada acima, os pesquisadores afirmam que o TEMPO DE REAÇÃO do policial diante de um cenário simples é de 0,21s, enquanto para um cenário complexo é de 0,895s. Considere que uma pessoa comum sem treinamento pode executar disparos num intervalo de 0,25s, isto nos dá cerca de 4 disparos por segundo. Ainda em laboratório foi possível constatar que uma ameaça armada pode apontar a arma que esteja ao lado do seu corpo e orientada para o solo no tempo de 0,36s na direção de um policial a uma distância de aproximadamente 3 metros. No mesmo estudo os policiais só conseguiram realizar o primeiro disparo 0,39s após a ameaça realizar o movimento, lembrando que neste estudo os policiais estavam com as armas apontadas para a ameaça. Os alunos que passam nas linhas da ESPERANDIO TACTICAL CONCEPT® apresentam intervalos entre os disparos em média de 0,17s a 0,20s, considerando o atraso de 0,39s, teríamos cerca de 2 disparos até o início da ação do policial.
TREINAMENTO E A CURVA REACIONÁRIA
Todos os dados são confrontados em laboratório, no mundo real estamos falando de cenários complexos que envolvem habilidades motoras abertas e sem chance de repetir ou vencer um timer shot(aparelho para aferir o tempo dos disparos). Quando estudos sobre TEMPO DE REAÇÃO são realizados, eles isolam as complexidades e ambiguidades que o mundo real pode envolver como pessoas, múltiplas ameaças, localização da ameaça, falta de abrigo, barulho, baixa luminosidade. Esqueça a balela do Ciclo OODA, estamos vivendo o mundo do O3R(Artigo a respeito) e não existe clarividência no mundo real. Conseguimos melhorar nosso TEMPO DE RESPOSTA aprendendo a identificar e ler padrões, que muitas vezes vão além do seu nível de consciência situacional.
Um exemplo disso é a verbalização do policial contra um suspeito armado que se nega a obedecer a ordem legal do agente, o suspeito com uma arma na mão num local público e mantendo uma postura de ameaça contra vida das pessoas que estão em sua volta, isto dá claros indícios que irá utilizar a sua arma contra terceiros ou contra o próprio policial. Certamente qualquer agente da lei neste tipo de ocorrência que esgota todas as abordagens pró-ativas de mitigar os efeitos colaterais e os recursos do uso diferenciado da força, haverá de utilizar sua arma de fogo para neutralizar esta ameaça e cessar a injusta agressão que está em sua iminência de acontecer.
Tudo isto acontece em segundos e a capacidade de reconhecer padrões dá ao policial um recurso para diminuir o seu TEMPO DE RESPOSTA. Logo, dentro deste contexto, ameaça armada, o movimento e a elevação do braço que está segurando a arma na direção de outras pessoas ou do policial, faz com que a Tomada de Decisão baseada em padrões construídos através do treinamento ou experiências anteriores que acelera o TEMPO DE RESPOSTA a fim de mitigar a desvantagem que já coloca o policial atrás da CURVA REACIONÁRIA em relação a ameaça.
Lembre-se que o agressor armado trabalha contra o TEMPO DE MOVIMENTO(apontar a arma contra o policial e atirar), enquanto o policial trabalha no TEMPO DE RESPOSTA, quer dizer, a somatória do TEMPO DE REAÇÃO(identificação dos inputs, análise, avaliação e plano mental) mais o TEMPO DE MOVIMENTO(execução da ação motora).
Resumindo: o agressor armado precisa executar uma ação mecânica enquanto o policial precisa receber a informação(input visual) e processá-la, diante disso escolher a melhor alternativa e então responder com a sua ação mecânica. Tudo isso leva tempo e acontece durante a ação da ameaça.
O nosso desafio não está apenas em sacar mais rápido, mas em antecipar a resposta de saque ou do disparo por conta de uma ameaça iminente ou de uma agressão que já esteja acontecendo em conformidade com os preceitos legais. A antecipação é a capacidade de reconhecer padrões e reagir a eles de forma responsiva e não reativa. Ninguém é estúpido em esperar receber um tiro para depois iniciar seu processo de tomada de decisão e revidar uma ameaça armada que já esteja apontando a arma contra você ou na iminencia de fazê-lo. Da mesma forma que você não espera para saber se o carro colide ou não durante uma manobra emergencial, você simplesmente freia ou muda a rota evitando ser atingido pelo outro motorista.
A antecipação é a capacidade de reconhecer padrões e reagir a eles de forma responsiva e não reativa.
Concluímos que a dinâmica do confronto armado trabalha numa curva reacionária na qual o policial ou o cidadão de bem que utiliza uma arma em sua defesa está sempre atrás do marginal. A forma de diminuir a distância desta curva reside na capacidade de ler e interpretar sinais para acelerar a tomada de decisão. Alinhando isto ao nosso treinamento de habilidades com armas de fogo, lutas e condicionamento físico, nos preparando de forma mais eficaz para estes encontros, além disso, quando o treinamento é contextualizado nos leva ao patamar de resposta automatizadas e condicionadas a estímulos(padrões) já reconhecidos. É isto que fazemos no Módulo COMBAT PISTOL EXPERT® da ESPERANDIO TACTICAL CONCEPT®, levar as suas habilidades ao nível subconsciente.
Nos encontramos na Linha!!! VAMOS COM TUDO!!!