Pegue um estojo 5,56 NATO, corte-o a 1cm da boca, estrangule um pescoço suficiente para reter um projétil calibre 30 (.308”)… a grosso modo, você terá um cartucho 300 Blackout, ou simplesmente, 300 BLK. Um calibre intermediário que vem ganhando o mundo! Com balística similar ao famosíssimo 7,62x39mm, o 300BLK surgiu com a intenção de revolucionar o universo dos calibres intermediários. Tem sido considerado candidato a desbancar o conceituado 5,56 NATO, em razão de sua promessa em sanar as deficiências deste. Nesse artigo, vamos conversar um pouco sobre a história do calibre 300 Blackout, sobre a versatilidade e seu potencial terminal.
A origem
Por muito, a submetralhadora HK SD foi a queridinha dos grupos de operações especiais. Vocês devem estar se perguntando: mas o que a família SD tem a ver com o calibre 300 BLK? Entenderão já! Esse namoro das operações especiais com a família SD entrou em crise quando tais unidades se atentaram para a limitação energética da submetralhadora alemã, em razão da sua engenharia. Dizem que a Advanced Armament Company (AAC), ao projetar o 300BLK, tinha como um dos objetivos: ocupar o lugar da família SD.
Tentativas de substituir a SD já vinham acontecendo, com adaptações da plataforma AR. Mas o calibre 5,56 NATO oferece uma série de dificuldades para essa missão de criar conjunto tático silencioso. Primeiro, para que tenha eficácia terminal, precisa de velocidade, pois, seus projéteis são relativamente leves. Para tanto, são necessários, no mínimo, 12” de cano. Ao cano, soma-se o comprimento do supressor, daí temos um equipamento não tão compacto. O que dificulta a mobilidade em ambientes confinados.
Mas as dificuldades não param por aí… em razão dos projéteis relativamente leves, impossível pensar num cartucho subsônico para o calibre 5,56 NATO. Como cerca de 50% do ruído de um disparo, deste calibre, é oriundo do estrondo sônico (causado pelo voo supersônico do projétil), tais adaptações continuavam ruidosas.
Pois bem, nessa missão específica, o 300BLK surgiu surpreendendo. Utilizando a própria plataforma AR, o calibre precisa de apenas 9” de cano para acelerar os pesados projéteis, de 220gr, a velocidades subsônicas capazes de gerar energia acima dos 700 joules. Portanto, o calibre permite plataformas compactas, silenciosas e com significativa competência terminal.
A versatilidade do calibre
Mas as qualidades do 300 BLK não param por aí. Quando encomendado pelas Forças Armadas dos EUA, além de propiciar um conjunto tão silencioso quanto a HK MP5 SD, outras exigências foram feitas: que tivesse a energia do cartucho 7,62x39mm, usado no icônico Kalashnikov; que utilizasse projétil calibre .30; que proporcionasse a maior intercambialidade possível com a plataforma AR no calibre 5,56 NATO, incluindo, carregadores e ferrolho.
Outra exigência, que tornou-se um grande desafio para os projetistas, foi a permanência do mesmo sistema de ação direta dos gases e, que fosse eficiente tanto com as munições subsônicas quanto com as supersônicas, sem a necessidade de prévio ajuste.
A Advanced Armament Corporation (AAC) bancou esse desafio junto com a já conceituada Remington. A parceria foi feliz, criaram uma calibre com características balísticas significativamente distintas do 5,56 NATO, porém, que pode ser usado em qualquer AR 5,56 NATO, com a substituição de uma única peça: o cano!
Os americanos foram ao delírio, a AAC conseguiu juntar, num só lugar, duas grandes paixões daquele país: a plataforma AR e o calibre 30. Apesar de ser um calibre relativamente novo, já podemos confirmar seu sucesso. A maioria das unidades de operações especiais da Europa já o adotaram e, nos EUA, já é vendido no Wallmart.
Mas voltando às características técnicas do 300BLK, ele é muito mais do que uma opção subsônica apta a substituir a MP5 SD, nas unidades de operações especiais. O 300BLK, nas versões supersônicas, pode voar a 2.800 pés/s, com boa precisão a 500 metros. Isso confere uma versatilidade ímpar aos armamentos neste calibre, vai de munições subsônicas de 220gr a supersônicas muito velozes, com apenas uma troca de carregadores.
Balística Terminal
O 300 Blackout tem, ainda, um ótimo potencial de precisão e balística terminal. É difícil falarmos do 300BLK sem utilizarmos como referência o 5,56 NATO. Pois, o primeiro, surgiu com a missão de melhorar as performances alcançadas pelo segundo. Vamos analisar os projéteis de ambos, no intuito de auferirmos algum entendimento quanto ao potencial terminal dos mesmos.
Um interessante parâmetro para iniciarmos essa conversa é a densidade seccional de seus projéteis. Acho válido analisar o 300BLK à luz da relação entre o peso e a área da secção transversal de seus projéteis.
Mas por que utilizar essa aparente complexa teoria? Porque esse indicador relaciona-se com a capacidade de penetração, tendo impacto direto na eficácia terminal, ou seja, no potencial de incapacitar. Em síntese, quanto maior a densidade seccional, maior será o potencial de penetração do projétil.
Essa análise é tão complexa quanto seu nome sugere? Não! A forma geral dos projéteis permite que o cálculo desse indicador seja efetuado utilizando-se uma fórmula simples: divide-se o peso do projétil (grains) por 7.000, em seguida, divide-se esse resultado pelo quadrado do diâmetro do projétil (polegadas). Simples assim!
Portanto, tomemos como referência dois cartuchos considerados “padrão”, fabricados pela CBC: o M193, com projétil de 55gr, no calibre 5,56 NATO; e o 300BLK ETOG, com projétil de 123gr. Calculados os coeficientes, temos: o M193 com DS igual a 0,157, enquanto o 300BLK, nessa configuração, tem DS de 0,185. Dessa comparação, já podemos identificar uma tímida superioridade potencial do 300BLK.
Mas, como vimos noutra oportunidade, o 300BLK permite uma variação de peso de projétil ímpar. Hoje, encontramos munições do calibre com levíssimos projéteis de 78gr até as subsônicas, com projéteis de até 225gr.
Nesse intervalo, encontramos opções interessantes, como cartuchos com projéteis de 150gr, voando próximo dos 2.000pés/s. Nesta configuração, temos um projétil com DS igual a 0,226, significativamente maior do que os 0,157 do M193 (5,56 NATO). Aí já podemos falar em algo hábil ao abate de animais classe 2 (Medium Sized Game), como os javalis.
Considerações finais
Enfim, esse artigo não tem a pretensão de esgotar o assunto. As considerações dispensadas, aqui, tiveram por fim apresentar um pouquinho da história e das características gerais desse novo calibre que, pelo que tudo indica, veio para ficar. Como vimos, o 300 Blackout nasceu de uma demanda específica e, apesar de todas as dificuldades técnicas envolvidas, os esforços empenhados no projeto foram gratificados. Conceitualmente, o 300 Blackout é o calibre intermediário mais versátil já produzido.