Oi gente!
A ideia do post de hoje surgiu quando na minha ultima publicação, perguntei ao Dr. Tim sobre a mudança dos alvos de IPSC e porque não seguiam mais a sequência lógica do Alfabeto Fonético Militar… Nesta ocasião, curiosamente fiquei sabendo que o mesmo foi um dos precursores do IPSC em Santa Catarina.
Vamos do começo, quem é o Dr. Tim?
Tim Omar de Lima e Silva, delegado de polícia aposentado, foi quem criou em 1992 a primeira Escola de Tiro de Santa Catarina, hoje referência nacional e em 2003 fundou o Clube .38.
Foram tantos cursos feitos buscando a excelência na área que nem dá para citá-los todos aqui.
No site do Clube.38 conta um pouquinho sobre a história da família, que é intimamente ligada à história do Brasil, o que eu achei muito legal, vale a pena a leitura.
Sobre o IPSC, uma breve pincelada…
IPSC é uma sigla que significa “Internacional Practical Shooting Confederation” ou Confederação Internacional de Tiro Prático.
É uma reunião de modalidades que compreendem armas curtas, rifles, espingardas e até ar comprimido.
A prática do tiro como esporte originou-se do treinamento militar e foi em 1976, em Columbia, Missouri, na Conferência Internacional de Pistolas de Combate, ou só Conferência de Columbia, que tendo à frente o Coronel americano Jeff Cooper, primeiro presidente deste esporte, foi criada uma estrutura administrativa, processos de padronização dos procedimentos e regras, surgindo assim, o IPSC de hoje.
As competições do IPSC são organizadas levando em consideração o lema da prática: “Diligentia, Vis, Celeritas” (DVC), que significa “Precisão, Potência, Velocidade”.
O atirador tem que se movimentar o mais rápido possível, engajar os alvos em distâncias e formatos diferentes, buscando a sua maior pontuação e resolver desafios técnicos impostos pelas pistas, que são sempre diferentes umas das outras.
Agora voltando ao Sr. Tim, eu fiz uma entrevista com ele para saber de uma forma bem pessoal, como tudo aconteceu para que ele trouxesse o IPSC ao Estado de Santa Catarina, olha só:
1 – Sr. Tim, a história da sua família vinha há muitas gerações em busca da justiça e da liberdade.
A sua criação quando criança foi influenciada por esses exemplos o que o tornaria a pessoa que é hoje?
R.: Não há como negar a herança de um DNA forte que me induziu à cultura e ao apreço às armas, respeito ao próximo e às leis. Acrescento também o gosto pelo esporte do tiro iniciado em 1968 quando aluno de Comissário de Policia na ACADEPOL. Tudo isto somado à atividade policial com a exigência de estar preparado para uma eventual defesa própria ou de meus familiares, aprendizado este que me acompanha até hoje.
2 – Em 1971 o Sr. se formou como delegado de polícia. Somente em 1976 o IPSC se tornaria o esporte que é hoje.
O Sr. chegou a treinar no “estilo IPSC” antes de virar modalidade internacional?
R.: Não, pois somente na década de 80 o IPSC chegou ao Brasil, e antes disso atirávamos na modalidade “Fogo Central” com revólver.
3 – Como e onde o Sr. teve o primeiro contato com a modalidade?
R.: Em 1988, eu e meu amigo Luciano Bottini também Delegado de Polícia, fizemos em Curitiba um curso para instrutor de tiro policial com o Delegado de São Paulo, Mauricio Freire, que no final das atividades montou uma pista de IPSC para os alunos, sendo este nosso primeiro contato com tal modalidade.
4 – O Sr, junto com seu amigo Bottini, trouxeram o tiro prático para Santa Catarina , como foi este processo?
R.: A partir do curso em Curitiba, começamos adaptar treinamentos específicos aos nossos policiais, introduzindo alguma coisa do IPSC, pensando motivá-los ao aprimoramento das técnicas e ao manuseio seguro de uma arma, além da eventual prática esportiva.
Em 1988 participamos em São Paulo da primeira prova de IPSC para policiais de vários estados.
Depois disto, começamos a fazer provas de tiro no Clube Doze de Agosto em Jurerê e no Clube .45 em São Miguel na Br 101, num terreno cedido à Polícia Federal.
Em 1990 foi criada por Edivar Antonio Bedin, oficial da PM em Xanxerê, a Federação Catarinense de Tiro Prático.
5 – Quando na época da implantação do esporte no estado, o Sr. tinha noção do quanto evoluiria?
R.: Pelo entusiasmo das pessoas que participavam, tive uma ideia de que o IPSC evoluiria no Estado, uma vez que somente em Xanxerê já contava com mais de 40 atiradores.
Por outro lado, o entusiasmo foi diminuindo diante das exigências do Exército para aquisição das armas e componentes para recarga das munições, além dos elevados custos com as taxas. Desta forma se tornando um esporte caro, além das dificuldades de transportes do material.
6 – O esporte como é hoje, corresponde com as suas expectativas?
R.: Considerando que temos diversos atletas com grande potencial, penso que poderíamos ter evoluído muito mais caso não tivéssemos tantas dificuldades na prática deste esporte, o que faz com que muitos talentos desistam.
Para se ter uma ideia, o interessado na compra de uma pistola é obrigado e esperar mais de um ano até que chegue em suas mãos. Além disso, há a necessidade de customizar sua arma para torná-la competitiva. Este procedimento é demorado e de alto custo.
7 – Como foi o processo da fundação do Clube e Escola de Tiro.38?
R.: Isto aconteceu quando me encontrava às vésperas de minha aposentadoria como Delegado de Polícia. Foi pensando numa atividade que preenchesse meu tempo livre, muito motivado pelo Dr. Enio Mattos, advogado na época, a fundar a Escola de Tiro. 38 para cursos, treinamentos e congraçamento com os demais aficionados com esta atividade. Na sequência, foi criado o Clube .38
8 – Quais as vantagens o senhor vê na prática desportiva do tiro para as pessoas em geral?
R.: Para essa resposta, sábias são as palavras de Thomas Jefferson: “ Um corpo forte constrói uma mente forte. Como uma espécie de exercício, eu recomendo o tiro. Além de ser exercício moderado para o corpo, adquire-se a ousadia, o arrojo e a independência para a mente”.
Então é isso pessoal, fiquei bastante honrada em materializar essa pesquisa histórica e perceber o quanto o Sr Tim e seus colegas foram visionários para a época, adaptando a ideologia do recém-criado IPSC americano para o treinamento policial catarinense, mas que com o tempo diversificou os amantes pelo esporte, tornando-o tão incrível como é nos dias de hoje. Por outro lado, percebe-se que as dificuldades enfrentadas há 30 anos com alto custo financeiro e burocracia em geral para a aquisição de armas, munições e equipamentos, infelizmente continuam a persistir. Esperamos que isso mude em breve.
Até a próxima! =*