A mídia em geral e até especialistas desaconselham uma reação, entretanto não é novidade para ninguém que muitos marginais não respeitam essa regra. E está comprovado que, muitas vezes, indivíduos que não reagiram sofreram sérias consequências das ações dos meliantes e infelizmente alguns foram mortos sem piedade.
Reagir com sucesso não é algo fácil e muito menos previsível, dependendo de vários fatores. Os animais em situações de perigo preparam o seu corpo para fugir ou lutar e o ser humano, em sua complexidade, tem muitas outras saídas. Sendo assim, existem medidas a serem tomadas que minimizarão as chances dos criminosos e aumentarão as chances de sobrevivência do operador.
Para isso é importante uma melhor compreensão sobre a reação. Reagir nem sempre é tentar ferir o oponente, pois a atitude reativa poderá ter um caráter passivo ou ativo.
Reação Passiva x Reação Ativa
A reação passiva é a maneira como o indivíduo reage a uma situação de risco, mudando de forma consciente ou inconsciente seu metabolismo frente a uma situação de estresse. De maneira inconsciente, o indivíduo, ao ser surpreendido, leva um choque que lhe causa confusão mental. A partir daí o indivíduo deve perceber, identificar, analisar, avaliar e decidir sua linha de ação.
Por outro lado, a reação passiva de forma consciente se caracteriza pela utilização de técnicas de dissimulação (fingir desmaiar ou passar mal) ou de negociação (avisar que vai tirar o cinto para sair do veículo). A reação passiva depende muito da maneira como o marginal responde à repentina mudança do contexto, podendo ter dois tipos de desfecho: positivamente, a mudança desestabiliza-o obrigando a cessar a ação criminosa e a fugir, ou negativamente, que poderá desencadear uma escalada na violência.
Já a reação ativa, ao ocorrer, se desdobrará em reação letal e não letal. A reação não letal é aquela que visa preservar a integridade física do agressor com técnicas e equipamentos apropriados, seguindo os modernos preceitos adotados ao redor do mundo em relação ao Uso Diferenciado da Força (UDF), podendo ser aplicada por profissionais de segurança ou policiais que provavelmente estarão equipados para este fim. Porém o uso da arma de fogo, mesmo não tendo o objetivo de matar, será considerado como reação letal.
Vou reagir
Como a violência urbana é um mal recorrente que atinge todos os cidadãos indiscriminadamente, se um operador de armas vier a a sofrer uma ameaça à sua vida ou à sua integridade, certamente decidirá em reagir. Nesse caso, como esta atitude deverá ser procedida? Em que momento não terá mais como voltar atrás? O que fazer? Como Fazer? E o mais importante – Como se preparar para esse momento?
Provavelmente as dúvidas acima elencadas são as que muitos terão na hora decisiva. Portanto, ao decidir agir, o operador deverá estar capacitado e consciente das consequências e dos efeitos colaterais que esse tipo de ação pode ocasionar.
O mais importante, sem dúvidas, será a motivação para vencer e sobreviver. Mesmo assim, além da motivação, um conjunto de elementos deve ser buscado para potencializar a chance de sobrevivência. Em apertada síntese, trata-se de um conjunto de técnicas, ações e procedimentos que levarão gradativamente o operador a aumentar consideravelmente o seu grau de possibilidades de sobreviver a um confronto armado, chamado de Círculo da Sobrevivência.
O círculo da sobrevivência e seus elementos
Atualmente, o tema acerca de sobrevivência policial é muito bem difundido e explicado em escolas policiais que usam como base cinco elementos chaves para potencializar as chances do operador. Alguns especialistas chamam de “pentágono da sobrevivência”, entretanto o termo ‘círculo’, utilizado por João Cavalim de Lima em sua essencial obra Atividade Policial e o Confronto Armado (2011) parece ser bem mais coerente, inclusive para a sobrevivência de não policiais, pois se torna uma representação dinâmica que simboliza o todo.
Este círculo tem cinco componentes de igual valor e quase iguais no peso: 1) Preparação mental, 2) Preparação física, 3) Equipamentos, 4) Habilidades em tiro e 5) Preparação tática. Ao empregar o círculo, a pessoa, individualmente, deverá desenvolver todas as áreas para que lhe seja garantida uma melhor possibilidade de sobrevivência.
1) Preparação mental – Este elemento é essencial para que o operador consiga “navegar” pelos outros elementos do círculo, pois em um confronto as ações ocorrerão em segundos e não haverá tempo suficiente para planejamentos detalhados. Deverá ser treinada continuamente e visualizada em todas as possíveis ocasiões críticas. Ou seja, ter planejado respostas flexíveis para várias situações já é um fator potencial de sucesso. Segundo Cavalim, a preparação mental deverá adotar alguns critérios, entre eles: critério da necessidade e critério da validade do risco.
2) Preparação física –Este elemento se torna uma condição necessária para o desenvolvimento de outras atividades em que a resistência se apresenta como relevante. Pode ser dividida em três subtipos: aptidão física, técnicas defensivas e técnicas de apreensão/defesa pessoal. Esses subtipos direcionará a força proporcionalmente ao grau de perigo e à especificidade da atividade.
3) Preparação tática –Nesta preparação, o operador deverá unir as ferramentas mentais e físicas para atingir objetivos operacionais. As táticas devem ser entendidas como procedimentos individuais e coletivos estabelecidos em treinamentos que deverão ser empregados quando adaptáveis a situações específicas. Será na atividade tática que os operadores deverão simular situações reais e buscar a performance nos procedimentos.
4) Equipamento –Não existirá nenhuma resposta tática eficiente se os equipamentos não forem funcionais e possibilitarem o desembaraço nos procedimentos do operador. Equipamentos deverão ser específicos para as atividades operacionais desenvolvidas e, inclusive, deverão ser utilizados em treinamentos para que o seu detentor possa se familiarizar e entender as suas possibilidades e limitações. Deve-se treinar com o que vai operar – isto realmente salva vidas.
5) Habilidade no tiro –Este elemento poderá ser a única solução por diversas vezes e se alinhado com boas táticas, mentes e corpos preparados, as chances de sucesso se potencializam. Nos procedimentos de tiro, o treinamento deve sempre começar pelo básico e atingir níveis mais avançados. Os treinamentos devem se manter contínuos e progressivos, no intuito de se identificar erros e vulnerabilidades do operador e por fim fazê-lo se adaptar e vencer os combates.
Atualização do Círculo
É importante registrar que todo Círculo da Sobrevivência deverá ser atualizado constantemente. Diríamos que é um ciclo ativo e “vivo”, ou seja, sempre surgirão novos equipamentos, novas táticas e novos conceitos em geral que deverão ser readaptados ao uso do operador, dentro da sua realidade tática.
Por exemplo, apesar do círculo ser bastante difundido nessa configuração, creio que os protocolos de APH tático devem ser incluídos na vertente do elemento “Preparação tática”, ou mesmo inserido como um novo elemento do círculo. Tudo com o objetivo de preparar operadores de todas as espécies para enfrentarem situações pessoais críticas ou de companheiros feridos. Porém, sempre se verificando a necessidade tática de para quem o círculo se destinará.
Por fim, o operador nunca deverá esquecer de que o círculo sempre será de responsabilidade individual, não cabendo culpar a corporação ou quem quer que seja por omissão da sua preparação, pois, independentemente de qualquer coisa, a responsabilidade de voltar vivo para casa é eminentemente pessoal.