Em minha primeira participação como colunista, eu gostaria de compartilhar com vocês meu testemunho de como tudo começou, como entrei no mundo das armas.
Geralmente as pessoas acham minha história um tanto quanto inusitada porque é muito comum no universo das armas, os iniciantes serem incentivados por alguém da família, alguém muito próximo que já tem contato com armas, o que no meu caso não aconteceu.
Lá pelos meus 14 anos de idade, na famosa “aborrecência”, eu vi um filme chamado “Beijos que Matam”, nome original, “Kiss the Girls”.
No filme conta a estória (não é spoiler, é sinopse de acordo com a minha percepção. Pode ler!) de um serial killer, sequestrador de mulheres, que na sua cabeça perturbada, ele faz uma coleção de mulheres.
Ele escolhe cada mulher de acordo com seu dom ou característica pessoal, por isso ele acha que está colecionando preciosidades.
Uma dessas mulheres, médica, era muito conceituada na sua área e tinha como hobby a arte marcial, o Kickboxing.
O sequestrador mantinha as mulheres em cativeiro em uma antiga construção de escravos no meio do mato e as dopava para que não conseguissem fugir. Houve um momento de distração quando ele entregava comida para a tal médica que mesmo dopada, deu um uppercut (soco de baixo para cima) no cara que o fez cair, deixando uma brecha para que ela fugisse e no decorrer do filme, juntamente com o policial investigador do caso, salvar as outras mulheres.
(Capa do Filme. Fonte:Google)
Gente! Esse soco, essa condição de autodefesa feminina numa situação de medo, a possibilidade de se livrar do agressor tendo o domínio da técnica proveniente de treinamento na arte marcial, me fez despertar a necessidade de estar preparada para eventual situação de perigo, o que toda mulher está mais propícia do que um homem.
Acreditem! No dia seguinte eu estava fazendo minha primeira aula experimental de Muay Thai com o Mestre Peu da equipe BoxeThai em Florianópolis e me apaixonando pela atividade física, pelo esporte, o que se tornaria minha profissão mais à frente.
Eu treinei por 10 anos entre Muay Thai, Boxe e Jiu Jitsu.
(Dia de treino. Foto de arquivo pessoal no Instagram.)
Graças a esse amor ao esporte, desde cedo sabia que queria fazer o vestibular para Educação Física.
Lembro do primeiro dia de aula na faculdade, o quanto eu tinha certeza que era aquilo que eu queria.
Sou formada em Educação Física pela Unisul e pós-graduada em Fisiologia do Exercício e prescrição do treinamento individualizado.
Foi no último ano de faculdade que meu pai ficou desempregado.
Na época eu era estagiária, dava aulas de ginástica e instrução na musculação e recebia R$ 300 por mês.
Logo no último ano, faculdade particular e sem tempo até para arrumar outro trabalho…
Na época era muito comum dois concursos de beleza em Florianópolis: o Garota Verão produzido pela RBS TV – a Globo local e o Gata Band promovido pela Band.
Alguém deu a sugestão que eu participasse do Garota Verão, já que o prêmio era de R$ 10 mil; com as etapas de inscrição e seleção, os produtores me falaram que achavam que eu tinha grandes chances de chegar à final, porém a idade máxima era 20 anos, e eu chegaria a final com 21, portanto eu seria automaticamente desclassificada, o que teria como solução o Gata Band que não tinha idade mínima.
E lá fui eu!
Em 2007 eu fiquei em 2º lugar do Gata Band, como 1ª Princesa.
(Flyer promocional da Band, chamada para as participantes do próximo ano. Fonte: Arquivo pessoal)
No mesmo ano de 2007, a Rádio Band FM de Florianópolis lançou o programa “Futebol Show”, que narrava ao vivo os jogos de futebol do Figueirense e Avaí. Um dos quadros do programa, era o “Mulheres na Geral”, onde uma repórter, ao vivo, entrevistava os torcedores nos estádios.
O programa foi lançado com uma repórter que logo no início não pode assumir o cargo, o que fez o pessoal da rádio precisar de alguém que entendesse de esporte e fosse aventureira (doida) o suficiente para trabalhar sozinha no meio de uma torcida de futebol. Foi aí que lembraram de mim, do Gata Band, acho que mais pela parte do doida mesmo!
Eu apresentei o Mulheres na Geral na Band FM por 9 anos.
Ah! Arranjei esse outro emprego e meu pai também. Deu tudo certo!
(Entrevistando os torcedores no estádio de futebol para o quadro “Mulheres na Geral” da Band FM. Fonte:Arquivo pessoal)
Foi numa dessas entrevistas, no estádio do Avaí que um dos torcedores estava vestindo um moletom com o símbolo do Clube.38. Eu olhei aquilo, li “clube de tiro” e pensei: “já dei tanta porrada na vida, ia adorar das uns tirinhos!”.
A conversa sobre o assunto foi longa com os torcedores Andrey e Marcelo e na semana seguinte, lá estava eu no Clube.38 como convidada, tendo minha primeira experiência com arma de fogo.
Foi simplesmente amor à primeira vista! Atirei com revólver, pistola e a carabina Puma, instruída pelo Carlinhos, o cara mais calmo do mundo para ensinar essas coisas.
(Registro do primeiro dia que fui no Clube.38 com os torcedores que entrevistei no estádio da Ressacada, Andrey que já era sócio do Clube e Marcelo. Fonte: Arquivo pessoal)
Sério, me apaixonei pelo negócio!
O Clube .38 é aberto ao público, mesmo não me associando na época, comecei a frequentar os boxes e ter mais proximidade com esse mundo.
Houve uma vez, numa tela de TV que tinha no clube, estava passando vários vídeos de IPSC, foi onde na época me apresentaram essa modalidade de tiro, o que eu achei a coisa mais massa do mundo!
Um dos funcionários do Clube, fez alguns exercícios de tiro comigo, o que chegamos à conclusão de que eu poderia levar jeito para o negócio.
Na época, o programa Futebol Show da Band, era o primeiro e único a transmitir os jogos do Figueirense e Avaí pela FM, o que nos fez ser “reis” na audiência por muitos anos até a concorrência chegar. Toda parte de imprensa nos estádios, rádio, jornais e televisão ficavam no mesmo local, o que nos aproximava de todo pessoal das outras emissoras; me aproveitando disso, conversei com o dono do Clube, o Tony Eduardo que caberia a mim correr atrás de mídia e propaganda, em troca seria treinada pelo Clube para competir.
E não é que essa parceria deu certo!
Um dos funcionários, Heduard Carlos da Silva, assumiu a bronca de me treinar, (pensa num cara bravo!) foi ele quem me ensinou tudo o que eu sei até hoje.
Era chegado o dia do meu grande teste. Grande mesmo! Era uma etapa do Nacional Open, em Itajaí no ano de 2011. Venci!
Engrenamos numa sequência de vitórias e muito treino, também gravamos muitos programas na TV, matérias em revistas e até capa da edição de esportes no jornal e aqui estamos hoje, 10 anos se passaram onde eu represento o Clube e Escola de Tiro .38 nas competições.
(Capa do Caderno de Esportes do Jornal Notícias do Dia. Fonte: Arquivo pessoal)
Atualmente eu sou tricampeã catarinense, fui vice-campeã brasileira em 2015, vice-campeã no VI Pan Americano em 2015, tenho inúmeras medalhas e troféus que nem consigo citar aqui de outros anos nos campeonatos estaduais e espero com tudo isso, servir de exemplo para principalmente às mulheres, mostrando que é possível sim nos destacar mesmo diante de toda rivalidade e concorrência num mundo que parece ser tão masculino.
Ah! E respondendo à pergunta lá em cima: é SIMMM!!!!
(Foto produzida pelo fotógrafo do Clube.38, Célio Monteiro, as medalhas são das vitórias somente do ano de 2018. Fonte: Clube.38)